Margot engoliu em seco, caminhando até o sofá e sentando-se nele com cautela. Sua tia fez o mesmo.
— Primeiramente, sei que não sou digna do seu perdão, mas quero que saiba que eu me arrependo verdadeiramente da decisão que tomei anos atrás, e vivo constantemente carregando esse peso sobre mim. Espero que um dia você entenda o meu lado, ainda que não tenha sido uma escolha honesta, principalmente com você.
Margot buscou uma resposta nos olhos dela, mas não encontrou nada. Tudo parecia tenso e misterioso. Martha respirou fundo antes de continuar.
— Quando eu era mais nova, conheci o Nicolas e me apaixonei perdidamente por ele. Éramos dois jovens inocentes vivendo um romance perfeito, mas eu deixei que as vozes alheias falassem mais alto e penetrassem o meu coração. Eu o amava, mas a minha família não aprovava minha decisão ou sequer se importavam com os meus sentimentos. Nicolas não tinha recursos, herança ou títulos. Isso não era o suficiente para que eu tivesse uma vida estável, e minha mãe ficou muito preocupada. Ainda assim, ficamos noivos e eu disse para mim mesma que seria forte o bastante para seguir com os meus princípios, mas percebi que eu era fraca quando fui persuadida por terceiros e o abandonei no altar. Subi na carruagem que me levaria até a igreja e pedi que fosse para a Casa dos meus pais, na minha cidade natal.
Ela fez uma pausa e olhou para cima, tentando segurar as lágrimas, mas era uma tarefa difícil naquele momento.
— Eu achei que estava tomando a decisão certa, mas aquilo só me causou uma dor enorme. Era como se o meu corpo e minha alma estivessem dilacerados, e mesmo quando cheguei na casa da minha família, nada parecia bom o bastante para preencher o vazio que eu estava sentindo. Alguns disseram que o tempo era o melhor remédio para fazer aquilo passar, outros falaram que havia sido a melhor decisão, mas a única coisa que meu coração dizia era "Por que você o deixou?". Os dias se passaram, e nada parecia ter sentido. Minha vida perdeu a cor drasticamente e eu não suportava ter que conviver com aquilo.
Margot apertou um pouco a mão dela, mostrando que estava a entendendo, ainda que não soubesse onde ela iria chegar com aquilo. Será que havia desistido de casar com o Sr. Nick outra vez?
— Depois de alguns anos, eu decidi vir para Skweny novamente. Morar com os meus pais era tão difícil quanto lidar comigo mesma após ter cometido um erro terrível. Eles não paravam de falar um segundo sequer, e seus comentários insensíveis eram tão desnecessários e dolorosos, acho que não tinham noção do quanto aumentavam minha ferida a cada vez que abriam a boca, mesmo que tivessem a intensão de me ajudar. Eu só queria um pouco de paz. Vir para Skweny foi uma decisão demorada e difícil, porque havia a grande possibilidade de me esbarrar com o meu grande amor. Logo, eu descobri que ele havia se tornado chapeleiro, e fiquei feliz em saber que seus negócios estavam dando certo. Mas eu sequer ousava passar na frente de sua loja, pois sabia que não era digna.
Ela encarou as próprias mãos enquanto a sobrinha permanecia em silêncio.
— Um conde muito gentil veio visitar a cidade na época. Ele era dono de uma beleza estonteante, tenho que admitir. E em um baile no fim de semana, ele se interessou por mim. Eu não conseguia simplesmente deixar outro homem entrar em meu coração quando sabia que meus sentimentos pertenciam a outro.
Margot desviou o olhar.
Sabia o que era sentir aquilo.— Seu pai havia falecido e ele teria que assumir o condado em breve, por isso aproveitou os últimos dias de folga desfrutando das tradições de Skweny. Duas semanas antes de ele voltar para sua terra e assumir seu condado, eu aceitei sair com ele. Sua companhia era tão boa e agradável, qualquer dama gostaria de estar no meu lugar, mas ainda faltava algo, e eu sabia exatamente o que era. Ele não era o Nicolas. Certo dia eu estava voltando para casa e acabei passando na frente da loja de chapéus do Nick por coincidência, era tarde, e o local estava fechado, mas eu ouvi vozes e decidi me aproximar. Ele estava rindo com outra mulher e bebendo vinho, conforme pude ver através do vidro da janela. Aquilo destruiu o resto de esperança que eu ainda mantinha dentro de mim, mesmo sabendo que eu havia sido a estúpida da história. Destruída, segui para o clube. Não era cortês uma mulher frequentar um lugar tão imoral, com bebidas e libertinagem, mas eu precisava fazer alguma coisa. Nunca fui uma mulher que gostasse de beber, mas naquele dia, eu ingeri mais álcool do que consigo lembrar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2
RomanceEle voltou. Sete anos se passaram, mas agora ele está de volta. Ainda que não fosse o mesmo, ainda que fosse um homem e não mais um jovem perdido, ainda que que houvesse passado por coisas horrendas, ele voltou para o seu lar. Não podia fugir para s...