CAPÍTULO QUARENTA E SETE 🍁

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Era o terceiro dia em cativeiro.
Margot estava suja, descabelada e emocionalmente abalada. Queria ir para casa, ou ao menos ver um rosto conhecido além da família de "Daniel". O seu maior receio no momento era que isso não fosse mais acontecer... Não sabia o que fariam com ela, para onde a mandariam, ou até mesmo se a deixariam viva.

Ela encarou o balde de alumínio amassado a alguns centímetros. O lugar era sujo e desconfortável, com algumas quinquilharias espalhadas pelos cantos.
Sentiu enjoo ao ouvir barulho de ratos.

Mal havia conseguido comer ou dormir durante os últimos dias. Estava com olheiras e emagrecendo demasiadamente. Se continuasse assim, ficaria esquelética dentro de um mês. Ela engoliu em seco, tentando abafar o desespero que tomava conta de si. Um mês era muito tempo, levando em consideração tudo o que estava acontecendo.

E sua garganta estava completamente seca, implorando por um algum líquido capaz de umedecê-la. Ela não bebia uma gota sequer de água desde a manhã anterior, e a saliva já não era mais suficiente. Sentia-se definhar a cada minuto que se passava.

Água, por favor.
Água, água...

Ela fechou os olhos e prendeu a respiração.

Água...
Água...

Puxou uma lufada de ar e foi tomada por uma crise de tosse, que arranhou seus pulmões desconfortavelmente.

Muita sede.
Água...

Ela encarou os punhos feridos e avermelhados. A corda áspera os machucava a cada mero movimento, de modo que fazia uma careta de dor quando sentia o incômodo da corda roçando em sua pele sensível. Aquilo estava se tornando insuportável.

O barulho da porta se abrindo interrompeu seus devaneios, fazendo-a erguer o olhar. O irmão desconhecido de Victor entrou, trazendo milagrosamente consigo uma tigela cheia de água. Os lábios de Margot abriram-se instintivamente, e sua língua quase saltou para fora como a de um cachorro. Ela olhou para o homem, em seguida para o objeto, começando a ficar em estado de alerta.

— Boa tarde, senhorita – Disse ele, olhando para trás a fim de certificar  que não havia ninguém por perto – Deve estar com sede, hum?

Ela não disse nada, apenas o encarou. Sua garganta estava tão seca que poderia ser atacada por outra crise de tosse se ousasse pronunciar uma palavra.
O homem chegou mais perto e ficou de cócoras em sua frente, abrindo um sorriso amigável.

— Pode beber – Disse, então balançou a cabeça e repreendeu a si mesmo – Suas mãos estão amarradas, esqueci desse detalhe.

Ela continuou fitando-o, pensando se deveria ou não acreditar naquele ato de gentileza. Levando em consideração que ele fora um dos responsáveis por seu sequestro, era melhor não aceitar o que ele oferecia.

— Por favor, tome isto. Eu não posso ser visto aqui, não temos muito tempo – Ele levou a tigela até os lábios dela com delicadeza, fazendo-a beber o líquido.

A sede que sentia naquele momento a fez esquecer o bom senso, tomando todo a água do objeto de vidro em alguns segundos. Quando o líquido desapareceu por completo, ela soltou o ar pela boca. O outro sorriu.

— Viu? Não foi difícil.

— O que tinha na água? – Ela ignorou o comentário dele.

Ele hesitou por um momento.

— Veneno para rato.

Ela arregalou os olhos, o que arrancou uma risada do companheiro.

— Estou brincando, senhorita. Era apenas água, como a que você costuma beber em sua casa.

Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora