CAPÍTULO DEZ 🍁

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Thomas deixou a hospedaria bem cedo naquela manhã, escreveu um bilhete para Matthew dizendo:

Não poderei lhe fazer companhia no desjejum, mas estarei presente para o almoço. Coma alguma coisa e, se quiser, sinta-se livre para conhecer melhor a cidade, caso não aguente esperar. No entanto, se quiser a ajuda de um bom amigo, poderemos fazer isso à tarde.

Tom;

Vestiu uma camisa branca de gola alta, um sobretudo de tecido grosso da cor preta, uma calça do mesmo tom e optou ainda por uma bota, visto que pretendia caminhar um pouco antes de encarar a reação de seus pais.

Apesar de todo nervosismo e ansiedade que o consumia, era bom estar de volta à sua terra natal. Pisar naquele solo era libertador, como se um homem não conseguisse viver longe de sua origem para sempre, por mais que tentasse. Conseguiu abrir um sorriso sutil ao pensar nisso. Sua moradia em Whibaymatch havia sido boa, de certa forma, mas nada se comparava a estar em Skweny.

A atmosfera era diferente.
Ele assobiou o hino nacional – costume que aderiu após a guerra – enquanto seguia para a rua de seu antigo lar, e sentiu o corpo ficar menos tenso. Isso era um bom sinal, pois significava que estava sentindo-se em casa.

No caminho, algumas das pessoas que tinham o hábito de despertar cedo e dar as caras na rua viram-no publicamente, mas nenhuma delas pareceu reconhecer sua identidade, o que lhe causou certo alívio. Queria que sua família fosse a primeira saber de sua volta.

Thomas não era tão másculo quanto o amigo, Matthew, ou como outros cavalheiros que conhecia, mas tinha um porte atlético aceitável. Treinava com frequência, mantinha uma boa alimentação e possuía uma coordenação motora plausível. Bem, ao menos achava ter a total capacidade de subir alguns degraus e bater em uma porta sem muita dificuldade... Até aquele momento. Quando finalmente conseguiu chegar até a porta, bateu a aldrava na madeira envernizada e aguardou uma resposta.

Será que era muito cedo?
Será que seus pais estavam em casa?
E se eles não morassem mais ali?
Ou será que...
Ele quase deu meia volta, mas o mordomo surgiu e o encarou por um instante.

Thomas quase riu de felicidade ao perceber que ainda era o mesmo, Loweyn. De repente, sentiu-se nos anos anteriores a 1814, quando voltava da Casa Klent e deparava-se com o homem logo na entrada, o esperando. Loweyn informava o estado de espírito da Sra. Wihners, instruindo o garoto a ir direto para o quarto ou passar na sala de estar para ter uma conversa afável com ela. Na maioria das vezes, o humor da mãe era plausível, somente quando estava irritada com alguma coisa que a melhor opção era não incomodá-la.

— Sim, senhor? – Loweyn pigarreou.

Thomas ficou triste ao perceber que ele não o reconhecera. Não o culpava por isso, visto que o próprio sabia que havia sofrido diversas mudanças, mas ainda assim esperava uma recepção calorosa e emocionante da parte do funcionário, que fora tão presente em sua infância.

— Eu gostaria de falar com meus... Ahn, com o Sr. e a Sra. Wihners, por favor.

O outro assentiu cordialmente.

— Só um instante, irei informá-los de sua presença.

Thomas entrou na casa, deixando que o mordomo fosse na frente porque era o certo a se fazer, mas também porque queria sentir a sensação de estar em casa após tanto tempo. Olhou as paredes, os quadros – alguns eram obra sua, inclusive, o que o deixou com os olhos úmidos –, a escadaria, as portas perfeitamente pintadas de branco...

Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora