Janeiro, 1822.
Inverno.Oito anos antes, Thomas perdera um grande amigo, o seu melhor amigo. Agora, naquele momento de dor e angústia, o desespero lhe fez ter a certeza de que também perderia seu grande amor. Ele era forte, quase sempre soube como lidar com as situações e teve de suportar muitas dores ao longo da vida, mas temia não ser forte o bastante para aquele evento. Ninguém estava preparado para ver a pessoa amada partir, principalmente diante de seus olhos. Margot dava seus últimos suspiros enquanto segurava fracamente a mão dele. Thomas segurou o nó que se formou em sua garganta, mas sinceramente não soube como conseguiu.
Ela escapava lentamente dele a cada dia, hora e minuto, assim como um punhado de água escorre por entre os dedos.O restante do rebanho devia saber disso, porque justo naquela manhã todos se reuniram na casa. Martha estava no andar de baixo preparando um chá para a filha junto com a governanta, procurando por mais receitas de remédios caseiros que pudessem melhorar o quadro da doença. Nicolas decidiu não abrir a chapelaria naquele dia e comprou algumas flores para colocá-las no quarto de Margot, por mais que tenha sido difícil encontrá-las em pleno inverno, assim ela poderia sentir o aroma sem precisar ir até o jardim.
Florence estava na sala de estar orando silenciosamente e bordando um cachecol azul para a nora, na esperança de que ela pudesse usá-lo durante todo aquele mês e também nos próximos invernos. A temperatura em Skweny mantinha-se constantemente baixa durante o período invernal e a maioria dos moradores usava casacos mais espessos e os famosos cachecóis. Thalya havia saído com o marido para comprar mantimentos e disseram que não iriam demorar. Joseph estava a caminho, chegaria de viagem pela parte da noite.
— Margot, fique comigo... — Sussurrou Thomas com o resto de esperança que ainda mantinha acesa dentro do peito – Aguente firme, por favor. Você vai sair dessa, vamos construir uma família linda e envelhecer juntos como prometemos um ao outro.
A essa altura, o único gesto que se assemelhava a um sorriso da parte dela era o movimento sutil dos cantos dos lábios. A boca estava esbranquiçada e bastante ressecada, mas ela não conseguia beber um único copo de água sem que fosse tomada por um ataque de tosse. A pele estava tão pálida que parecia não haver uma gota de sangue correndo por aquelas veias, o corpo, por sua vez, já se emoldurava à estrutura dos ossos, resultado da falta de apetite e da perda demasiada de peso durante as últimas semanas.
Após um minuto inteiro de silêncio, ela apertou sutilmente a mão dele, que não desgrudava da sua havia quase uma hora.
— Sabe de uma coisa, Tom? – Ela conseguiu sussurrar com uma muito vaga expressão de alegria.
— Não sei não, docinho. Me diga – Disse ele com carinho.
Thomas sentiu falta do brilho naqueles olhos verdes tão encantadores e joviais que o fizeram se apaixonar perdidamente, ela mal conseguia abri-los por muito tempo nos últimos dias... Perceber isso fez o nó em sua garganta ficar maior e novamente tentou contê-lo, porém, acabou falhando miseravelmente. Seus olhos se encheram de água.
Independente do que viesse a acontecer, ele não a deixaria sozinha. Estaria ao lado dela, segurando a sua mão, algo que não foi capaz de fazer quando o coração de Hugo parou de bater.
Margot remexeu-se devagar, tentando achar uma posição que a mantesse confortável por algum tempo até que precisasse mudar novamente. Quando achou que não sentiria desconforto pelos próximos minutos, olhou para Thomas e acariciou a costa da mão dele com o polegar.
— As estrelas nunca deixarão de brilhar... – O singelo sorriso dela cresceu alguns poucos milímetros ao pronunciar a frase – Obrigada por deixar o meu céu mais bonito durante o tempo em que estivemos juntos. Mesmo antes de sermos um casal, você sempre foi um dos principais motivos para eu não desistir. Adoro você, Thomas – Ela fez uma pausa para tossir e fechou os olhos – Desde os meus doze anos.
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Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2
RomanceEle voltou. Sete anos se passaram, mas agora ele está de volta. Ainda que não fosse o mesmo, ainda que fosse um homem e não mais um jovem perdido, ainda que que houvesse passado por coisas horrendas, ele voltou para o seu lar. Não podia fugir para s...