CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS 🍁

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Caros leitores, algo grandioso aconteceu.

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Naquela manhã, o ânimo de Margot ainda se encontrava em estado deprimente. Ela estava andando pela casa distraidamente, muito mais quieta e silenciosa do que era costume. Parou em algumas janelas, encarou o horizonte com o olhar vago e perdido, e logo seguia para outro cômodo. Limpou a poeira de alguns livros, organizou-os em lugares diferentes na estante e afundou na poltrona da biblioteca, pondo-se a bordar alguma coisa sem sentido. Liam e Victoria lhe fizeram companhia minutos depois, começando uma acirrada partida de xadrez, onde nenhum dos dois queria perder.

Sua tia havia saído há algum tempo, para mostrar uma das casas de aluguel para um corretor de imóveis... Daniel Deltknan. Ele havia lhe dado essa informação no dia anterior. A casa não era para ele, e sim a pedido de outra pessoa. Seu último compromisso em Skweny, antes de retornar para a sua terra.

A jovem soltou a respiração lentamente e afundou um pouco mais no sofá. Poderia ter ido com Martha. Gostaria de ver ele uma última vez, mas sabia que quanto mais demonstrasse apego, mais iria se sentir solitária quando ele fosse embora. Precisava administrar suas emoções e não se deixar levar por elas. Havia superado uma partida anos antes, conseguiria lidar com a de Daniel. Certo?

Seus pensamentos foram interrompidos quando Carter, o mordomo, bateu na porta e chamou sua atenção.

— A senhorita tem visita.

Margot o encarou sem muita emoção.

— Informe sobre a ausência de minha tia, não sei ao certo que horas ela retorna.

Carter pigarreou.

— Lady Elen Harris quer ver a senhorita, na verdade.

Ela franziu a testa ao ouvir o nome da visitante. Se a conhecia, certamente não lembrava.

— Diga a ela que estou indo.

Ele assentiu.

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Após descer as escadas revisando mentalmente uma lista inteira de sobrenomes e não conseguir identificar o de Elen Harris, empurrou a porta de madeira delicadamente e adentrou a sala de visitas. A mulher não a viu de imediato, estava distraída olhando a paisagem pela janela. De fato, o dia estava encantador. Apesar de ser outono, a temperatura estava amena, como em um dia de primavera, e havia algumas nuvens no céu.

Margot observou a desconhecida. Ela alternava a xícara de porcelana entre a mão direita e a esquerda, inquieta, como se estivesse nervosa. O gesto despertou uma certa curiosidade na jovem, que a analisava em silêncio.

Não sabia ao certo qual era a sua idade, mas certamente possuía mais de quarenta anos. Seus sedosos cabelos podiam ser considerados castanho claro para uns e loiro para outros, mas não grisalho. Suas mechas onduladas estavam presas em um coque meio bagunçado, que ainda assim parecia elegante. As sardas sutis que se espalhavam por seus braços e colo eram como belos desenhos em uma tela branca, dando um pouco mais de destaque para a sua pele clara e aparentemente macia.

Margot piscou lentamente, sentindo seu estômago borbulhar por alguma razão desconhecida.
A silhueta magra virou em sua direção, dando apenas um intervalo de dez segundos entre o breve movimento e o som do pequeno objeto de porcelana caindo ao chão.

Ela franziu a testa, nervosa. Não sabia qual som havia lhe assustado mais, o de cacos espalhados ou do choro da dama à sua frente.

— Senhora? – Murmurou, aproximando-se depressa – Você está bem?

A mulher cobriu o rosto com as mãos e as molhou com suas lágrimas amargas. Quando enfim conseguiu olhar para a jovem, Margot percebeu que tinha olhos verdes, como ela. Seus lábios finos repuxavam-se para baixo em um gesto de profunda tristeza e lamento, mas logo inclinaram-se em um inesperado sorriso de alívio.

Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora