— Eu não cavalgo há um tempo – Disse Faith, passando a mão distraidamente nos pelos macios do animal.
Thomas a olhou. Se quisesse tê-la como esposa, precisava ser mais atencioso e nutrir algum tipo de sentimento. Ela era tão pequena, tão delicada, os olhos pareciam ter sempre um traço de melancolia. Era como se não houvesse um único defeito considerável nela, e ainda assim, isso não o fazia desejá-la.
— Ele amava cavalos... – Ela continuou, um sorriso triste formado em seus lábios.
— Ele faz muita falta – Declarou Thomas, aproximando-se para ajudá-la a montar na sela.
Hugo nutria amor por animais, assim como ele. Os dois eram uma dupla imbatível, infalível, inseparável... Quando seu amigo morreu, as pessoas sentiram pena de Thomas, e até o próprio não podia negar que havia sentido pena de si mesmo. Era deprimente vê-lo tão solitário e cabisbaixo, sem conseguir pronunciar uma única frase sequer. Hugo era parte de seu mundo, e quando ele se foi, a outra parte também desmoronou. Era estranho olhar para si mesmo e não enxergar o mesmo brilho de antes, a alegria e a energia positiva. Tornou-se alguém sem cor e sem emoção durante um bom tempo.
O que muitos não entendim era que o mais estranho era ter que conviver consigo mesmo. Tentar dar uma risada e o corpo simplesmente não saber mais qual era a sensação. Tentar entrar ou sair da universidade sem que uma lembrança dolorosa o desamparasse. Ficar meses sem sentir fome, alimentando-se somente duas vezes ao dia, apenas guardando dentro de si a intensa dor do luto. A partir do dia em que Thomas desapareceu, naquela fria madrugada de outono montado em seu cavalo (Luke) – o qual teve que despedir-se tristemente e vendê-lo para conseguir algum dinheiro que pudesse melhorar sua chance de sustento –, passou por muitos momentos difíceis e enfrentou a mais dura solidão.
Com o tempo, começou a treinar.
Treinou sua mente.
Seu corpo.
Suas habilidades.
Treinou a si mesmo para ser uma pessoa melhor, alguém de respeito, com uma estabilidade impressionável. Thomas recomeçou.Um ano após sua partida, entrou para a Universidade que tanto sonhava, especializou-se em medicina veterinária, como seu amigo também teria feito. Passara dias e noites implorando para que alguém lhe contratasse, aceitando qualquer quantia que pudessem lhe pagar, apenas para colocar em prática o que havia aprendido e ter com o que se sustentar. Um senhor de idade, que era médico há alguns anos, o contratou, e foi o melhor patrão que ele poderia ter. Com seu salário, Thomas conseguia pagar o aluguel e manter sua despesa. Quando foi para a guerra, fez o que estava ao seu alcance para ajudar inúmeros homens, e agora...
Agora ele estava em casa. Não o mesmo de anos atrás, um jovem sereno e bem educado que todos apreciavam por sua personalidade cativante. Ainda tinha esse lado dócil, mas tornou-se muito mais que isso em todos os setes anos que passara distante. Agora ele era um homem, uma pessoa forte mentalmente, emocionalmente e... Bem, não podia negar que, apesar de ser um pouco mais magro que uma parte dos cavalheiros, também era forte fisicamente. Sempre treinava em Whibaymatch, correndo, lutando, escalando...
— Thomas? – Chamou Faith, a testa franzida – Você ainda está segurando minha cintura.
Ele piscou algumas vezes.
— Ah, claro, desculpe-me.
— Está tudo bem? Podemos fazer isso outro dia, se preferir.
— Perdoe-me por ter me distraído por um momento. Está pronta? No três você apoia o pé bem aqui e pega impulso para sentar-se...
— Eu sei como montar, Tom. Só quero que me ajude – Ela sorriu – No três.
Ele assentiu.
— Um, dois, três – Com as duas mãos, a impulsionou para cima – Conseguiu?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2
RomanceEle voltou. Sete anos se passaram, mas agora ele está de volta. Ainda que não fosse o mesmo, ainda que fosse um homem e não mais um jovem perdido, ainda que que houvesse passado por coisas horrendas, ele voltou para o seu lar. Não podia fugir para s...