CAPÍTULO TRINTA E CINCO 🍁

27 4 4
                                    

— Lorde Wayer – Cumprimentou Thomas, ainda sem acreditar no convite que havia recebido.

— Sente-se – Disse o homem sem expressão alguma.

Thomas obedeceu e sentou no sofá, perto da poltrona em que o outro estava aconchegado. Houve um momento de silêncio.

— Algum problema, senhor?

— Eu queria agradecê-lo – Declarou o lorde – Não tive a chance de fazer isso antes, então achei que fosse uma ótima oportunidade.

— A-gradecer? – Thomas franziu a testa – Pelo que?

— Por ter salvado meu filho – O homem trincou o maxilar, como se um nó se formasse em sua garganta – Você não deixou que ele morresse.

Thomas paralisou, surpreso.
Sabia que George e o pai não se davam bem desde sempre, e que o único filho verdadeiramente importante para o lorde era o mais velho, chamado Garrett. George havia contado a ele durante os dias em Whibaymatch, e como gostaria de ter tido um pai melhor. Suas palavras eram tão sinceras e carregadas que Thomas conseguiu sentir na própria pele.

Quando recebeu um bilhete mais cedo assinado por lorde Wayer, solicitando sua presença, Thomas jamais imaginou que seria para agradecer. Se não fosse um delírio, então era a coisa mais estranha que havia acontecido nas últimas semanas.

— Bem... Meu dever era cuidar dos meus companheiros e evitar o máximo de mortes que conseguisse. Apenas cumpri o meu papel. Ademais, seu filho é especial para mim, eu não o veria falecer em minha frente sem fazer nada para ajudá-lo.

— Eu sei – O olhar dele ficou vago – Eu teria me culpado todos os dias se ele houvesse morrido.

— Achei que não se importasse com ele – Foi ousado, mas Thomas teve que dizer. Era o que ainda o intrigava.

— É isso que ele pensa? – O lorde deu uma breve e amarga risada e abaixou a cabeça em seguida – Bem, é claro que sim, e a culpa é toda minha. Eu não fui um pai presente. De que adianta estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe? Na melhor das hipóteses, eu fui um pai miserável.

— Perdoe-me a intromissão, senhor, mas parece que reconhece o seu erro há um tempo, então por que continuou?

— Porque é tarde demais – Sussurrou o outro – Eu não sei mais como mudar isso. Quando finalmente me dei conta do que estava fazendo, tinha ido muito longe para tentar voltar, então apenas... Prossegui.

Era o fim dos tempos.
Definitivamente, o fim dos tempos, porque naquele momento, os olhos do lorde ficaram marejados. Apesar de sua postura nobre e seus quarenta e oito anos de idade, lorde Wayer parecia muito frágil naquele instante. Como uma criança que queria ser abraçada, e nem todas as suas barreiras construídas ao longo dos anos puderam conter aquele sentimento.

— Eu sou primogênito. Quando meu irmão nasceu, senti que toda a atenção dos meus pais foi tirada de mim e transferida para ele. Ademais, todos sabiam que ele possuía algum tipo de problema mental. Os dias foram passando e as coisas ficaram cada vez mais difíceis para nossa família. Will se metia em confusões, meus pais discutiam com mais frequência, e eu era cada vez mais esquecido dentro do meu próprio lar. Fui o primeiro filho deles, queria ao menos um pouco de amor e carinho, mas o Will precisava de muita atenção... Então não sobrava nada para mim – Ele parou um pouco e fungou, sem encarar seu caro visitante – Conheci seu pai na universidade, Thomas, e sempre soube que ele seria um bom pai. Ele era assim, como você, calmo e cheio de sabedoria. Era bom ouvinte, carismático... Sinto inveja dele por saber exercer tão bem esse papel. Conseguiu criar dois filhos admiráveis. Eu gostaria de ter feito o mesmo, mas sei que meus filhos cresceram sem mim.

Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora