CAPÍTULO OITO 🍁

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A cada metro percorrido, Thomas sentia o sangue borbulhar dentro de si. Os membros do corpo dormentes, a respiração ficando mais densa e a perna ainda inquieta, balançando ritmicamente.

Ele conhecia aquele caminho. Aquelas colinas, os riachos, as vilas pobres e isoladas... Fizera aquele percurso sete anos antes, sozinho e totalmente devastado. Lembrava-se de como o mundo havia perdido a cor repentinamente naquele ano.
Os pingos da chuva pareciam perfurar cada parte de seu corpo violentamente, e o sol queimara sua pele com mais intensidade, entretanto, nada mais tinha emoção. Tudo ficou preto e branco e sem graça. Ele não se importava com o frio ou com o calor.

— É este o vilarejo que você contou, Thomas?

Ele olhou para o lugar que o amigo apontou, algumas casinhas com telhado de palha em meio ao extenso gramado de cor um pouco amarelada. A estrada era elevada, de modo que a visão era bem clara de dentro da carruagem. Podiam ver ao longe alguns moradores da vila praticando agricultura, enquanto algumas crianças corriam e as mulheres se renuiam para cozinhar ao redor da fogueira.

Ele assentiu.

— Sim, este mesmo.

O jovem Thomas de dezessete anos havia passado algumas noites naquele vilarejo a caminho de Whibaymatch. Estava tão magro, faminto e sujo que se alguém da alta sociedade o visse, não teria reconhecido. Um homem chamado Leon, líder do povoado, o acolheu, assim como todos os outros habitantes. Eles lhe deram comida, água e um lugar para dormir...

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Outono de 1814

— Você está melhor, Tomy?

Thomas ergueu um pouco a cabeça para encarar o Sr. Leon. Então assentiu, voltando a tomar seu ensopado de abóbora. Estava sentado dentro de uma cabana estreita, uma das mulheres havia colocado um xale sobre seus ombros para que ficasse mais aquecido. De fato, sentia-se melhor. Havia passado cinco dias aos cuidados daquele povo e a melhora chegou bem rápido.

— Obrigado.

O Sr. Leon abriu um sorriso fraco. Em seguida, sentou-se ao seu lado.

— Você é um garoto legal, Tomy. O que faz aqui sozinho?

— Eu disse ao senhor quando cheguei, estou fazendo uma viagem até a capital, vou entrar na Universidade para ser veterinário.

— Você ainda não tem idade, o que vai fazer até o ano que vem?

O jovem deu de ombros.

— Eu não posso voltar para casa.

O mais velho assentiu.

— Gostou do ensopado?

Ele fez que sim.

— Gostei muito, senhor. As abóboras daqui são excepcionais.

— São sim, mas eu adoraria comer batatas. Não como há muito tempo, e a nossa terra não parece ser boa o bastante para fazê-las crescer. Ah, eu sonho com as batatas de Whibaymatch! Comi uma ou duas vezes quando fui até lá em uma viagem de negócios, mas desde então tenho que me conformar com nossas abóboras. Eram tão macias e saborosas, eu me sentia no céu quando elas derretiam em minha boca. Gostaria de saber o segredo deles, nosso plantio é tão bom quanto e ainda assim não conseguimos fazê-las prosperar por aqui.

Thomas deixou a cuia com o ensopado no chão, ao seu lado.

— Gostaria de trazer algumas para o senhor, mas não tenho certeza se ainda vou passar por aqui. Pretendo permanecer na capital até meu último suspiro. Inclusive, preciso seguir com a viagem. Muito obrigado pela hospitalidade, senhor, mas preciso ir. Serei eternamente grato por seus cuidados, eu garanto.

Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora