CAPÍTULO QUATRO 🍁

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Thomas encarou a bagagem por um longo momento, em pé, com os braços cruzados e os olhos fitos em cada pertence ali reunido. Aquela era apenas a sua bagagem física, mas o peso nem se comparava ao da bagagem emocional que ele carregava. Quando chegasse, os criados levariam a mala, lhe arrumariam um quarto, acreditando que estava tudo ali. Porém, ninguém veria suas cicatrizes, o medo das mudanças que haviam ocorrido em sua ausência, casa momento tenso que havia vivido longe dos pais...

Ele soltou a respiração, analisando a mala. Parecia não faltar nada, o que gerou certo alívio. Na verdade, "aliviado" não era uma palavra que o definia diante de tudo aquilo. Que ironia, não? Sentir medo de voltar para casa.

Balançou a cabeça, descartando os pensamentos desagradáveis. Seria bom voltar para o seu lar, disse para si mesmo. Seus pais o receberiam muito bem, sua irmã lhe daria um abraço e talvez até derramasse lágrimas de emoção. A sociedade iria à loucura, e Faith... Esperava que ela também ficasse surpresa e feliz com sua volta.

Entretanto, seu coração estava acelerado e, sua alma, inquieta.

- Está tudo pronto para amanhã, Wihners? - Matthew apoiou seu peso no batente da porta, cruzando os braços e arqueando as sobrancelhas - Você não parece feliz.

- Eu estou feliz.

- Eu não disse que não está, e sim que não parece.

Thomas deu de ombros.

- Só estou um pouco nervoso, faz muito tempo que eu parti. Não sei se estou preparado para ver as mesmas pessoas, os mesmos lugares, voltar a frequentar os mesmos eventos... Se é que ainda são os mesmos. Muita coisa pode ter mudado em sete anos.

O amigo assentiu, compreensivo quanto ao receio dele.

- Vai dar tudo certo - Disse, indo até o jovem e dando um tapinha em seu ombro - Quer ajuda com a bagagem? Posso levar algumas coisas lá para baixo...

- Não, obrigado.

- Não seja orgulhoso, Tom, tem muita coisa para levar e vai ser melhor ter alguém para ajudar.

- Como você insiste, pode levar tudo - Disse Thomas, oferecendo-lhe um sorrisinho afetado e descendo pela escada até o primeiro andar.

Matthew piscou com força, abrindo um sorriso derrotado.

- Onde você vai? - Gritou, para que o outro pudesse ouvir.

- Vou até a sinagoga - A resposta foi imediata.

- Não vai pedir a Deus por uma tempestade amanhã cedo que nos impeça de partir. Você parece prestes a mudar de ideia desesperadamente - A voz ainda alta pela diferença de andar

Uma risada foi ouvida lá embaixo.

- Ora essa, eu jamais sonharia com isso. Bem, vou indo, e cuide com essa bagagem, quero tudo no lugar quando eu chegar - Brincou Thomas, partindo.

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Ir à igreja naquele horário era costume das pessoas mais velhas. Thomas sabia disso, mas ainda assim sentiu-se um pouco deslocado ao ver que era o único jovem no templo naquela manhã. Algumas senhoras estavam acomodadas no banco da frente, orando, e alguns senhores liam as Escrituras mais no fundo.

Caminhou um pouco, sentando-se no banco do meio, solitário. Não sabia muito bem por que havia ido até ali, mas tinha certeza de que estava no lugar certo. Desde pequeno, fora ensinado que nunca há um momento bom ou ruim para buscar a Deus, Ele está presente o tempo todo.

Suspirou, então tirou o chapéu e o colocou em seu colo, encarando-o por alguns minutos. Pensou em tudo o que havia vivenciado até o momento atual, e imaginou como seria sua vida a partir do dia seguinte. Levantou-se, ficando de pé para uma oração. Cruzou as mãos na frente do corpo, inclinou um pouco a cabeça para baixo e fechou os olhos.

Um raro amor no Outono - Quatro Estações Em Skweny, LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora