57. Two face

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-DOIS MESES DEPOIS-

Já eram umas 5h da tarde quando Cosima ainda estava limpando a vidraria de algumas amostras que não foram muito bem, mas que ela precisava retomá-las com brevidade. Como era uma sexta-feira, o laboratório já estava praticamente vazio e o único barulho lá dentro era dela colocando os tubos para secarem no cestinho.

-Ei, você tá precisando de ajuda aí? -Maya perguntou parando bem atrás de Cosima e a canadense quase deixou um tubo cair no chão com o susto que levou.

-Cara, você parece uma assombração.

-Desculpa. -Maya riu um pouco sem jeito e voltou a perguntar. -E então? Precisa de algo?

Cosima precisou de toda concentração do mundo pra não mostrar seu sorriso mais debochado. Ela achava ser muita cara de pau de Maya ainda ter coragem de tentar se aproximar dela.

Enquanto Cosima guardava o tubo que quase havia caído, ela olhou bem pra colega de trabalho a sua frente e queria muito colocá-la pra correr, mas ela fez justamente o oposto, só pra saber o que ela pretendia com aquela aproximação.

-Você pode terminar de pôr pra secar esses tubos enquanto eu começo a criar outro meio com o ágar?

-Claro. -Maya respondeu e tomou o lugar de Cosima fazendo exatamente o que ela havia pedido.

-Valeu!

Depois de agradecer, Cosima voltou pra bancada e começou a trabalhar em sua formulação, vez ou outra seus olhos paravam na Maya e no que ela fazia, mas tudo aparentava até normal demais.

Quando terminou, a britânica se aproximou de Cosima avisando que já tinha até guardado tudo e perguntou o que foi que deu errado pra ela ter descartado tantas amostras.

-O de sempre, bactérias intrusas. -Cosima respondeu sem dar muita brecha.

-Sério? Mas aqui é tudo autoclavado e temos o maior cuidado com a higienização.

-Pois é, mas só é preciso de um podre no meio pra conseguir destruir com todo o resto.

-Entendi, faz sentido. Essa parte mais minuciosa ainda não é pra mim, eu prefiro ficar nos exames da patologia.

-Bem compreensível, você descobre qual a doença e eu crio a medicação que cura.

-Pois é. -Maya respondeu se aproximando mais de Cosima e olhava atentamente o que ela fazia. -Por que você faz o seu próprio substrato se tem tantos já prontos por aí?

Uma puta de uma stalker! -Cosima pensou e um sorriso discreto porém totalmente debochado apareceu no canto de seus lábios.

Ela ficou por algum tempo pensando em várias respostas que poderia dar sem revelar nada dos motivos de sua metodologia, mas sua melhor opção era sempre tentar levar pra o humor.

-O que eu faço é sempre melhor. Pegar coisa pronta nunca foi do meu gosto. -sua resposta saiu mais como uma indireta e dessa vez Maya até recuou um pouco.

Mas, antes que ela fosse embora, Cosima aproveitou pra fazer uma pergunta também.

-Você tá melhor?

-Melhor? De quê exatamente você tá falando, Cosima?

-Não sei, têm meses que você anda inquieta, irritada, com a cara fechada... mas agora você parece bem melhor.

-Ahh. São só alguns problemas pessoais.

-Com a sua família?

-Não exatamente, é só que eu tenho o dedo podre pra certas coisas, me envolvo demais e depois... enfim. Acho que já deu minha hora. Eu preciso ir porque vou acompanhar um amigo na formatura da residência. Você não vai acompanhar sua noiva?

Reação Química (Cophine)Onde histórias criam vida. Descubra agora