64. I've never seen you so happy

43 9 3
                                    



-PoV Rachel-

Quando o avião finalmente decolou a caminho de Toronto, senti minhas mãos suarem de ansiedade. Por mais que eu tenha criado uma vida em Lyon a base de mentiras, eu nunca tinha me sentido tão feliz antes. Agora eu estava deixando aquele lugar pra voltar ao início dos meus pesadelos.

Não lembro ao certo quando fiquei cega pelas propostas do Leekie, mas eu tinha acabado de terminar meu curso de Estatística e estava trabalhando em um hospital pequeno onde ele atendia como neurologista. Aos poucos comecei a enviar alguns relatórios diretamente pra ele e sempre terminava respondendo às suas perguntas invasivas disfarçadas com um sorriso amigável.

É isso que o Leekie faz, ele sonda suas vítimas, tenta achar um ponto fraco e surge com uma proposta irrecusável. No meu caso, ele se aproveitou da minha ambição e da pressão que eu sofria dos meus pais pra ser uma profissional de sucesso tão boa quanto a minha meia-irmã, a Evie.

Quando eu nasci, meu pai já tinha uma filha adolescente de outro casamento, mas ela morava no Japão com a mãe e eu quase não tinha contato com ela. Minha infância toda foi praticamente como filha única e eu nunca tive do que reclamar. Quando minha mãe me deu a notícia de que a Evie estava vindo morar na nossa casa pra fazer uma pós em Nova Iorque, eu tinha cerca de doze anos. Primeiramente, eu fiquei feliz porque iria ter uma irmã de verdade por perto, mas essa felicidade acabou antes de um mês de convivência.

Não é que a gente não tenha se dado bem, na verdade ela sempre foi muito atenciosa comigo, apesar de fria em relação a contato físico e brincadeiras. Mas eu a entendia, ela vinha de uma cultura totalmente diferente, onde ela era sempre muito discreta, cumprimentava apenas com reverências e o seu maior objetivo era ser a melhor de sua área. E ela era. O que aconteceu pra tudo começar a dar errado, foi que os meus pais começaram a me comparar a ela, eles diziam que eu precisava me espelhar na Evie pra ser boa como ela. Meu pai sempre fazia questão de dizer que eu era muito criança, mas eu só tinha doze anos. Eu não deveria ser uma criança?

Aos poucos eu fui ficando cada vez mais parecida com a minha irmã. Aos dezoito anos eu já andava igual a ela, me vestia igual a ela, falava igual a ela... até meu cabelo cortei parecido com o dela. Mas no fundo, eu era só uma cópia barata da única filha que enchia a família de orgulho.

Evie conversou comigo diversas vezes dizendo que eu não precisava me comparar a ninguém, que eu poderia ter sucesso sendo eu mesma, mas eu acreditava que ser igual a ela era a única forma de dar orgulho a minha família. Os anos se passavam e a cada dia ficava mais difícil alcançar o nível da minha irmã, ela tinha uma pequena rede de laboratórios de análises clínicas e que vinham crescendo cada vez mais. Foi lá que eu aprendi sobre a importância da estatística e descobri minha paixão pela pesquisa científica.

Quando terminei minha graduação, a Evie me ofereceu um cargo grande na empresa dela, eu começaria com um salário acima do teto pra minha função e aquilo parecia o certo a ser feito, mas eu não aceitei.

Agora eu me pego pensando em como tudo poderia ter sido diferente se eu tivesse aceitado aquela proposta. Mas, a Rachel daquele tempo, não queria ser apenas mais uma privilegiada pela família e continuar pra sempre sendo a sombra da irmã.

Eu queria mais do que aquilo, eu queria ser a Rachel Duncan que construiu seu próprio legado sem a ajuda da família bancando tudo.

Por isso eu me mudei pra Toronto assim que me formei e fui tentar minha vida sozinha. Eu estava cheia de sonhos e planejava começar a trabalhar com dados estatísticos em empresas renomadas, mas o que aconteceu foi que eu parei num pequeno hospital fazendo planilhas de contabilidade e de fluxo de internação.

Reação Química (Cophine)Onde histórias criam vida. Descubra agora