Capítulo 18

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O tempo parecia não passar.

Estávamos em casa novamente, Sam procurando por novos casos e Dean continuando a decoração do quarto de Charlie. Eu estava deitada em nossa cama, deprimida demais para fazer qualquer coisa.

Só conseguia pensar nas coisas que aquela estranha me disse, e em como eu conseguiria me manter calada sobre tudo aquilo. Mais do que isso, estava preocupada com Castiel, com Anna e com Gabriel.

Se estávamos sob o olhar constante dos inimigos, eu não podia mais vacilar. O problema era que eu não sabia exatamente o que eu precisava deixar rolar e o que eu deveria impedir, o que me obrigava a confiar cegamente nas ordens de Gabriel.

Perder batalhas para ganhar a guerra não me parecia uma ideia tão aceitável naquele momento porque eu dependia exclusivamente da minha fé para chegar até o final. Eu não queria ser um pilar, eu só queria viver em paz.

Deus nunca facilitava as coisas. Era de se imaginar que a estranha, fosse quem fosse, também não facilitaria.

Eu nunca antes odiei regras como eu odiava naquele momento, mas que escolhas eu tinha? Ou fazia o que era mandada e talvez a gente se salvasse, ou desobedecia e levava a gente pra uma morte horrível.

A aparição de Zacarias só confirmava que Gabriel e ela de alguma forma estavam dando um jeito para manter as aparências, mas eu não conseguia deixar de pensar no tipo de punição que Castiel estaria recebendo.

Se o Inferno era tenebroso como era, isso considerando o fato de que eu nem sabia o que exatamente acontecia lá em baixo, eu mal podia imaginar o tipo de inferno que era o próprio Céu.

– Benzinho! – ouvi a voz de Dean. – Ele voltou! Cass voltou!

Me arrastei para fora da cama na mesma hora.

Ele voltou, ele tá bem, ele tá aqui – pensei ansiosa enquanto colocava os chinelos e saía do quarto, ansiosa para vê-lo.

Castiel estava na cozinha, refém de um apertado abraço de Dean. Acho que aquela era a primeira vez que eles se abraçavam.

Conforme me aproximava, percebi que Cass estava chorando de soluçar enquanto Dean afagava seus cabelos.

– Tá tudo bem, seu grande bobão – Dean tentava consolá-lo. – O que quer que aconteça, se aquele bando de idiotas não te quiser, a gente ainda via querer. Você é família, entendeu? Não importa o que aconteça, você é família.

Afaguei suas costas e as de Dean, no que eles se afastaram um pouco e colocaram seus braços ao meu redor. Castiel, ainda chorando, colocou seu rosto contra o meu pescoço, Dean encostando sua testa à minha.

– Eles mataram o Jimmy! – ele disse entre soluços. – Mandaram a alma dele direto para o Paraíso...! Ele nem pôde se despedir da família dele...!

– Eu sinto muito, bebê – disse com a voz embargada.

– Eu falhei com ele! Eu prometi que o deixaria voltar para sua família quando isso acabasse...! E ele nunca mais vai poder voltar...!

Pobre Jimmy Novak.

Nem mesmo tive a chance de conhecê-lo. Ser separado de sua família dessa forma terrível e repentina... Esse era o castigo de Castiel por desobediência? Lhe doía mais do que qualquer surra que pudesse levar, ao que parecia.

Era a primeira vez que eu via um anjo chorar, e chorar daquela forma. Estivera com Jimmy por muitos meses, e eu sabia que de alguma forma ele havia mudado através de Novak. Através da percepção humana.

Pois naquele corpo estiveram as memórias de um pai de família que deixou tudo para trás em nome da fé. Em nome da sua fé em Castiel.

Castiel prometeu a ele que sua família ficaria segura, e a promessa se mantinha, mas agora não tinha mais como permitir que Jimmy voltasse para os braços da família que tanto amou. Sua filha cresceria sem um pai, sua esposa viveria sem seu grande amor.

Uma família havia se desfeito.

E a culpa era nossa.

A culpa era minha.

Fiz acontecer a uma família inocente o que eu mais temia que acontecesse com a minha, porque fui ingênua de acreditar que ali saídas eram fáceis.

Não havia nada que pudéssemos fazer para remediar, mas ao menos devíamos à família de Jimmy algum tipo de encerramento.

Sugeri à Castiel que escrevesse a elas uma carta, que contasse o que podia sobre o tempo em que ele e Jimmy estiveram juntos. Que contasse à elas o quão corajoso ele tinha sido, e o quanto Jimmy havia lhe ajudado a ver o mundo de outra forma.

Uma mentira sobre não ser capaz de recuperar o corpo dele, pois Castiel decidiu que nunca mais se atreveria a pedir a mais nenhum mortal que lhe deixasse entrar. Não arriscaria mais a alma de nenhum inocente.

Castiel decidiu que ao menos o sobretudo elas deveriam receber de volta. Ao menos uma última lembrança de Jimmy.

Dean dirigiu até Pontiac, cidade natal de Novak. Castiel e eu no banco de trás, ele ainda desconsolado.

Ele estacionou o Impala um pouco longe da entrada da casa, para que nós não ficássemos tão visíveis, mas ainda pudéssemos acompanhar o momento. Castiel deu a ele a carta dobrada no meio e o sobretudo, e Dean foi quem bateu à porta para dar à viúva a terrível notícia.

Amelia Novak caiu de joelhos ali mesmo, aos prantos, sendo acudida por Claire, sua única filha, e Dean. O momento deixou Castiel ainda mais desesperado e eu precisei contê-lo para que ele mesmo não fosse até lá.

Contar a verdade apenas deixaria tudo mais confuso.

Voltamos para casa, cheios de remorso e peso na consciência.

Castiel decidiu que queria fazer algum tipo de funeral simbólico para Jimmy. Era o mínimo que ele podia fazer. Decidiu que o terno deveria ser queimado, então Dean lhe deu algumas roupas que pudesse usar.

Montamos uma pequena fogueira à noite no nosso quintal. Sam, que até então não sabia o que fazer, se juntou à nós no funeral simbólico de Jimmy.

Castiel abraçou suas roupas uma última vez, pedindo perdão ao humano com quem achava que tinha falhado, mas, verdade fosse dita, era eu quem deveria pedir perdão a Jimmy. A culpa era minha.

Com muita dificuldade, ele enfim lançou as roupas ao fogo.

– Espero que um dia você me perdoe – Castiel olhou para o céu estrelado. – Eu sinto muito, Jimmy.


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