Capítulo 43

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O sangue não parecia sair das minhas mãos, não importando quantas vezes eu as lavasse. Era como se o sangue sempre voltasse e ficasse preso à minha pele.

Eu havia massacrado todos aqueles demônios, e deveria ter orgulho de conseguir fazer aquilo com as minhas próprias mãos, mas...

Todo aquele sangue e entranhas espalhados pelo restaurante me faziam duvidar de que as minhas intenções eram boas.

Será que era assim que Sam se sentia quando matava demônios com a mente?

Vesti roupas limpas e saí do banheiro, me assustando ao perceber que o tal demônio, Crowley, ainda estava lá, sentado em uma cadeira, uma perna cruzada sobre a outra enquanto ele bebericava alguma coisa alcóolica.

– Está conosco, santinha? – ele sorriu.

– Não me chama assim – me irritei. – Por que ele ainda tá aqui? – olhei para Dean.

– Eu apenas estava explicando ao alce e o esquilo aqui o que sua benfeitora me pediu para dizer.

– Que é...?

– Ela quer que a gente trabalhe com Crowley pra pegar Peste – disse Sam, claramente desgostoso.

– Conheço o demônio que pode nos levar ao Cavaleiro – Crowley tragou um pouco da sua bebida. – E você estando na investida conosco tornará tudo muito mais fácil.

– Tá vendo? – Dean começou a rir de nervoso. – É por isso que eu não confio nela! Ela dá ordens e some, e manda um demônio pra trabalhar com a gente! Um demônio!

Crowley pigarreou, chamando a nossa atenção.

– Pra você, esquilo, é Rei do Inferno, tá? – sorriu.

A porta subitamente se abriu, nos alarmando, no que Sam e Dean logo pegaram suas armas. Para a nossa surpresa, era a estranha que estava dando as caras.

Coberta de sangue e de hematomas, e com uma cara nada boa. Nos aproximamos dela, assustados, analisando-a enquanto ela fechava a porta.

– Não mandei Crowley à toa, Dean – ela o fitou. – Acha mesmo que eu colocaria um demônio com vocês se não tivesse certeza absoluta de que seria uma boa ideia?

– Você ouviu? – ele perguntou.

– Eu sempre ouço. Tudo. Até os pensamentos.

Dean se afastou um pouco, imediatamente desconfortável com aquela revelação. Ela apenas se virou para Crowley.

– Por favor, me diz que conseguiu a coisa.

– Ah, mas é claro. Qualquer coisa pra você, meu bem – disse ele, largando seu copo de bebida e tirando do paletó...

– Uma foice? – pestanejei confusa.

– Não uma foice qualquer, querida – Crowley a mostrou para nós. – A Foice. Do Cavaleiro Morte.

Nós três arfamos assustados ao mesmo tempo, boquiabertos.

– Como conseguiu...? – Sam perguntou.

– Estava com Alastair – a estranha nos encarou. – Se esqueceram? Ele usou a foice pra matar os ceifeiros pra romper o selo pra Lilith. A coisa que tu achava que era uma faca no teu pescoço – ela me encarou. – Era essa gracinha – apontou para a foice.

Coloquei minha mão sobre meu pescoço, sentindo desconforto só de lembrar, um arrepio de nojo percorrendo minha nuca.

– Mas afinal de contas, o quê que aconteceu contigo? – Dean perguntou a ela.

– Deus aconteceu – ela revirou os olhos, puxando a cadeira para se sentar. – Dá licença – pegou o copo de Crowley e tragou o conteúdo de uma vez, fazendo uma careta e suspirando.

– Dá pra elaborar? – Dean semicerrou os olhos.

– Eu falei que tava fugindo, caramba! – ela se irritou. – Tem um monte de cópias minhas espalhadas pelo mundo pra despistar esse arrombado do caralho, mas dessa vez eu esbarrei com Ele de verdade e foi uma tremenda bosta!

– Você... – Sam abriu a boca, tentando formular a pergunta, e ela quase não saiu. – Você lutou com Deus?

– Duh! – ela se irritou ainda mais. – E sabe o que é pior? Esse safado do caralho foi até a minha realidade e tentou me matar enquanto eu dormia!

– O que?! – perguntamos em uníssono.

– Ele apareceu em um sonho, uma sombra em forma humana, e tentou me esganar! Se eu não tivesse acordado a tempo, teria morrido sufocada e vocês estariam ferrados!

Uma garrafa de coca cola se materializou à nossa frente, no que ela misturou o refrigerante com o que eu agora sabia ser uísque, que Crowley estava bebendo. Uma carteira de cigarros surgiu em suas mãos e um isqueiro, e ela logo acendeu um cigarro, no que Dean protestou.

– Não dá pra fumar lá fora, não?

Ela lentamente ergueu a cabeça para encará-lo, um olhar furioso. Se olhares matassem, Dean cairia morto ali mesmo.

– Pelo visto não – ele franziu os lábios, desviando o olhar, pigarreando sem jeito.

– Eu pretendia matar Deus no final – ela explicou, expirando uma fumaça mentolada no ar. – Fazer disso um grande espetáculo – ela riu, ainda que sem humor. – Mas Ele tá esperto, sabe o que eu quero fazer, e olha, vou ter que abrir mão do meu showzinho pra salvar a pele de vocês. De novo.

– Como assim? – Sam perguntou.

– Vocês já se esqueceram do que eu mostrei? – ela perguntou indignada. – A outra versão dessa história? Não lembram de nada?

– Depende ao que você tá se referindo.

– Deus abriu todas as portas do Inferno pra dar fim no mundo, cacete! Se eu não der um jeito de parar Ele agora, é isso que ele vai fazer, e se ele abrir tudo, vai ser muito mais difícil trancar os dois idiotas lá em baixo!

– Então por que não matamos eles aqui em cima? – Crowley perguntou.

Ela se virou lentamente para encará-lo, um olhar ainda mais assassino.

– Tá tirando com a minha cara, né?

– Não, jamais! – ele se defendeu.

– Se Miguel e Lúcifer se enfrentarem aqui em cima, o mundo vai ser destruído! A gente tem que enfiar eles na jaula antes disso acontecer! Quando eles estiverem na jaula, nós vamos pro Inferno, tiramos Sam e Dean de lá de dentro, e eu acabo com eles! Esse é o plano! Não dá pra matar eles enquanto estiverem nos corpos deles!

– Por que não? – perguntei.

– Porque a Foice dá morte permanente! Se eu matar os dois arcanjos nos corpos de Sam e Dean, eles dois também vão morrer, e é uma morte certa! Se eles forem mortos com a Foice, eu não posso trazê-los de volta, entendeu?!

Nós três nos entreolhamos em silêncio, apreensivos. Aquilo estava ficando fora de controle, cada vez pior. Cada dia um problema novo no meio do caminho, e parecia que não importava o que fizéssemos, as coisas sempre se complicavam mais.

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