Capítulo 30

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A igreja do padre Kellan estava às traças desde que eu havia parado de aparecer para cuidá-la. Tudo estava escuro e empoeirado, mas Anna, em um piscar de olhos, a deixou brilhando como um brinco.

Uma das melhores coisas nos anjos era a habilidade de fazer aquilo. Foi realmente muito útil, especialmente quando ela me levou para o quarto que costumava ser do padre, para a cama, o único lugar onde eu poderia me deitar confortavelmente enquanto as contrações começavam a ficar ritmadas.

– Quantos demônios na cidade? – olhei para ela.

– Matei oito, nove com o demônio que estava na sua casa. Não deveriam ter removido as armadilhas pro diabo.

– Sam removeu pra Ruby entrar. Briga com ele depois.

– Pode apostar que eu vou.

– Anna – segurei sua mão. – Como a Charlie tá?

Ela pôs suas mãos em minha barriga por um momento.

– Ela está bem. Não se preocupe, eu vou ficar com vocês, eu só preciso tirar os demônios do caminho, tá bem? Vai dar tudo certo, fica calma. Eu volto já.

E sumiu, obviamente, o que não me deixava nem um pouco mais tranquila. Eu respirava o mais fundo que podia para controlar as dores das contrações, não me importando mais em verificar o intervalo de tempo entre elas ou a duração de cada uma.

Me deitei de lado, tentando ficar confortável, mas aquilo não ajudava muito. Eu precisava caminhar, precisava esticar minhas pernas, e com muito esforço, foi o que tentei fazer, aproveitando para procurar por alguma roupa confortável e me livrar do moletom que estava usando.

Estava frio pra caramba e a roupa mais confortável que eu tinha, uma das minhas camisolas de algodão. O aquecedor estava ligado, amém à Anna por aquilo, mas meus pés estavam congelando.

Dava pra ouvir Anna lutando com demônios do lado de fora.

Deus, por favor, tenha dó, eu tô parindo aqui! – reclamei em oração.

Por que diabos os demônios estavam atrás de mim? Literalmente tiveram todo o tempo do mundo pra tentar me pegar, e justo naquele momento, dentre todas as oportunidades, era quando decidiam vir?! Por que?

Um pensamento aterrador me ocorreu conforme o tempo passava.

Talvez... Talvez não estivessem ali por mim.

Porque se anjos do tipo do Zacarias queriam usar Charlie contra nós para nos manter no cabresto, os demônios definitivamente não estavam muito atrás naquele problema.

Ironicamente, quando eu mais precisava que os anjos fossem um pé no saco, como de costume, eles me deixavam somente com Anna.

– Eu tô parindo aqui, inferno! – gritei aos quatro ventos. – Será que dá pra alguém vir me dar uma mãozinha?!

Então eu percebi que havia cometido um erro colossal em falar isso em voz alta.

Porque Castiel ouviria.

E Castiel diria à Dean.

E isso desconcentraria ele.

Merda.

– Caramba, minha filha, não tinha uma hora pior pra nascer, não? – gemi de dor.

Anna alternava entre ficar comigo do lado de dentro e amenizar minhas dores e voltar para fora para matar demônios quando eles eventualmente apareciam, e, caramba, eles estavam aparecendo como baratas saindo de um bueiro.

– Por que aquela vaca nos quer tanto?! – perguntei irritada, caminhando de um lado para o outro no quarto.

– Para ter algum tipo de vantagem sobre vocês. Talvez uma tentativa de barganhar com Sam e evitar que morra, mas é uma tentativa tola de escapar da morte. Ela sabe que há anjos cuidando de você.

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