Capítulo 33

110 14 0
                                    

Tudo estava estranho agora.

Nenhum de nós se olhava mais da mesma maneira. Eu sempre imaginei que descobrir mais do que eu sabia me deixaria perturbada, mas o que ela havia nos contado havia mexido com a cabeça de todo mundo.

Saber que havia um plano que não podíamos controlar era uma coisa, mas saber como era o plano era bem diferente.

Dean, especialmente, não estava nada feliz. Não gostou do plano suicida, e a ideia de ficar preso em uma jaula com os dois arcanjos mais filhos da puta que existiam não melhorava sua ansiedade, e nem o ajudava a confiar na estranha. Sam, por outro lado, tentou enfrentar a situação com mais frieza, já que não estávamos sozinhos naquilo, e tentou relevar a parte em que Gabriel havia escondido o que sabia da gente.

Depois de deixarmos a casa a prova de demônios e depois de Castiel nos ensinar a banir anjos quando fosse preciso para o caso dos saquinhos de bruxa não funcionarem, decidimos ficar quietos.

Eu aproveitava meu tempo com Charlie. Era bom apenas estar com ela em meus braços, conhecer aquela criaturinha bochechuda que sorria quando estava sonhando. Castiel dizia que ela sonhava conosco, e que sorria quando ouvia nossas vozes. Seus cabelos eram de um castanho quase loiro, provavelmente puxando aos de Dean, e seus olhos eram do mesmo tom de chocolate que os meus.

E, talvez porque os dois fossem igualmente geniosos, quando ela chorava sem parar, por algum motivo que não entendíamos, Dean era o único que conseguia acalmá-la. Ele se gabava muito com isso, e não era pra menos, porque Charlie, quando chorava, chorava muito.

Mas uma das coisas que mais o deixaram feliz naquilo tudo era saber que seu nome estava na certidão de nascimento dela. Eu já havia voltado a usar meu nome verdadeiro, também, porque, aparentemente, quando os anjos queriam, eles ajudavam e muito com certos problemas.

As coisas gradualmente começavam a se ajeitar em casa.

A maior prova disso foi quando eu estava na cozinha, finalmente comendo algo entre as pausas que Charlie me dava, e Sam deu as caras, parecendo desconfortável.

– Algum problema? – perguntei enquanto ele se aproximava.

– É, acho que sim.

– Posso ajudar?

– Na verdade, eu... Preciso me desculpar com você.

Segurei minha vontade de dizer que ele não precisava e que estava tudo bem. Nós não tínhamos uma conversa de verdade há meses, então deixei que ele falasse.

– Eu fui um completo imbecil com você – ele suspirou, desviando o olhar, provavelmente com vergonha de si mesmo. – E não tem nada que justifique o que eu fiz e o que eu falei. Chamei você de covarde, mas o covarde era eu. Eu te deixei e fugi, banquei o suicida e fiz um monte de coisas das quais eu me arrependo agora. Só queria... Me desculpar. E eu vou entender se você não quiser mais olhar pra minha cara, mas eu sinto muito por tudo, porque, destino ou não, eu ainda fiz aquelas escolhas, e foram as piores que eu poderia ter feito. Eu sinto muito por ter sido o pior melhor amigo e o pior cunhado do mundo quando você mais precisou de mim.

Eu assenti em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras e a sinceridade nelas. A verdade era que, frente à tudo que estava a caminho, aquilo parecia pequeno, o menor dos problemas. Larguei minha caneca de café com leite e me levantei, me aproximando para abraçá-lo.

E como era bom abraçá-lo sem que ele estivesse queimando! Sam me abraçou de volta, como há muito tempo não fazíamos, e o alívio em sentir que estávamos finalmente nos entendendo foi tamanho que eu não consegui conter as lágrimas. Eu estava feliz de finalmente estarmos nos reaproximando. Éramos uma família, afinal.

Winds of FortuneOnde histórias criam vida. Descubra agora