Nós tínhamos ordens expressas de saciar nossas vontades antes de cair na estrada pra pegar Fome, estávamos cientes de que, em teoria, se estivéssemos de ''barriga cheia'', não nos sentiríamos tão tentados com nada, mas a verdade era que eu estava tão exausta psicologicamente que não tinha vontade de coisa alguma.
Verdade fosse dita, estávamos todos com o emocional desequilibrado ali. Ninguém tinha vontade de nada em momento algum, mas nos obrigávamos a continuar. Por Charlie, por Castiel, e em nome de todos que havíamos perdido no meio do caminho.
Devidamente descansados apenas dois dias depois, estávamos preparando nossas malas novamente para mais uma caçada. Dessa vez, Dean insistiu em irmos no Impala. Estava de saco cheio de ser teleportando pra todo canto como se fosse um brinquedo, coisa que eu podia entender, e eu não protestei.
Seria uma viagem de mais de nove horas, mas ao menos poderíamos apreciar a vista, sentir o vento no rosto, e com sorte, um pouco de sol.
O começo da viagem não foi particularmente muito animada. Ainda estávamos meio sonolentos e sem energia, mesmo depois de altas doses de café, algo que eu não deveria ingerir muito, então comecei a revirar a caixa de fitas cassete de Dean à procura de alguma música que melhorasse o nosso humor.
– Há! Achei! – me animei ao achar a cassete com as músicas que queria.
– Achou o que? – Sam perguntou.
– Dá licencinha aqui – disse me esticando para alcançar o som do carro, inserindo a fita e colocando-a pra tocar.
Me sentei no banco de trás novamente, baixando os vidros das janelas pra deixar o vento fresco entrar enquanto a parte instrumental começava.
Dean se virou para mim por um momento, me olhando em um misto de confusão e descrença.
– Bon Jovi?
– Sim! – respondi animada.
– Mas essa música? – Sam se virou para mim.
– Qual é? É perfeita pra gente! Essa é a nossa música!
Sam e Dean se entreolharam por um momento, e no fim, Dean deu de ombros, fazendo um biquinho enquanto tentava não sorrir, porque ele podia até negar, mas eu sabia que ele adorava Bon Jovi em si, e não apenas algumas músicas.
Enquanto ele começava a cantar, eu fechei meus olhos, balançando a cabeça no ritmo, sentindo a música engrenar, tomar conta de mim.
Aquilo era exatamente o que precisávamos e eu sabia que precisaria fazer com que desenferrujassem, então eu comecei a cantar primeiro no segundo refrão.
– I'm a cowboy! On a steel horse I ride! I'm wanted...!
– Wanted..! – Sam repetiu, me surpreendendo.
– Dead or alive! – repetimos todos juntos.
Logo começamos todos a pegar o embalo da música, os dois com sorrisinhos em seus rostos que eu não via há muito tempo.
– And I walk these streets! A loaded six string on my back! I play for keeps, 'cause I might not make it back! – Dean cantou, nos surpreendendo.
– I've been everywhere! Still I'm standing tall! I've seen a million faces and I've rocked them all! – Sam cantou.
– 'Cause I'm a cowboy! – cantamos juntos. – On a steel horse I ride! I'm wanted! Dead or alive!
E pensar que quando eu os conheci, nem de música eu gostava...
Agora não apenas gostava de música como também as cantava, ainda que desafinada, porque aquele não era o meu forte.
Depois de cinco músicas do Bon Jovi, era hora de ouvir AC/DC, o que definitivamente nos fez engrenar na cantoria durante um bom tempo.
Quando nos cansamos de desgastar nossas gargantas cantando mal, paramos no primeiro restaurante de beira de estrada para esticar as pernas e comer algo antes de seguir para um motel qualquer. Eu precisava bombear leite para Charlie, já que Anna deu as caras lá para me lembrar disso.
Sam ficou em um quarto só pra ele, e eu fiquei em um com Dean, como não fazíamos há muito tempo. Nas últimas semanas, quando eles ficavam trabalhando em algum caso ou descansavam em algum hotel, eu me ocupava atendendo à preces de pessoas desesperadas e as ajudando como podia, então nunca nos restava muito tempo a sós romanticamente.
E quando Dean entrou no quarto, eu me lembrei da recomendação que havíamos recebido. Já fazia um tempo, e é claro que se eu estivesse em um período de pós-parto normal, aquilo estaria fora de cogitação, mas eu estava com todas as coisas no lugar e tudo estava em ordem lá em baixo.
– Tudo bem? – Dean perguntou enquanto colocava nossas mochilas em um canto do quarto.
– Sim, claro, só estava pensando... No que ela disse sobre estarmos saciados quando encontrarmos Fome.
– É? – perguntou com um sorrisinho maroto.
– É – eu me levantei da cama, indo ao seu encontro. – Já tem um tempo... – deslizei minhas mãos sobre seu peito, o encarando.
– Eu sei, é só que... Pensei que a gente não devesse...
– Tecnicamente não, se fossem as circunstâncias normais, mas já que eu tô toda no jeito de novo, pensei que talvez a gente pudesse tirar o atraso antes de ficarmos tentados chegando na cidade...
– Gosto dessa ideia – mordeu o lábio. – Ainda bem que eu ainda tenho camisinha.
Aproximei meu rosto ao dele, beijando sua mandíbula.
– Faz amor comigo.
Dean segurou meu rosto, me puxando para um beijo, e eu o encurralei contra a parede, sentindo suas mãos encontrarem meus cabelos e os segurarem com força antes de descerem ao meu traseiro e ele me erguer em seu colo, me levando para a cama.
Mesmo que nós já tivéssemos transado incontáveis vezes, era como se todas as vezes fossem a primeira vez. Parecia que de alguma forma eu sempre descobria algo diferente nele e em mim, e mesmo que já estivesse familiarizada com todos os nossos sabores e todos os cheiros, era como se ele me colocasse sob encanto toda vez.
Eu nunca teria o suficiente de seus beijos, ou do calor da sua pele contra a minha, fosse naquela cama, fosse em qualquer outro lugar.
Mas eu me senti... Incompleta.
Pela primeira vez em muito tempo, enquanto estávamos nos devorando, eu senti que faltava alguma coisa.
Ou alguém, melhor dizendo.
Me senti terrivelmente idiota quando comecei a chorar enquanto Dean estava com sua boca ocupada entre as minhas pernas. Tão logo ele percebeu, parou o que estava fazendo, se aproximando preocupado.
– O que houve? Tá sentindo alguma dor?
– Não, eu só...! – respirei fundo, tentando parar. – Só tava pensando no Cass. Desculpa, eu não consigo...! – cobri meu rosto, começando a soluçar.
– Ei, tá tudo bem – ele se deitou ao meu lado, me abraçando, beijando minha cabeça. – Tá tudo bem, benzinho. Também sinto falta dele.
– Eu só quero que ele acorde logo – enxuguei minhas lágrimas. – Só quero que ele fique bem.
– Ele vai ficar, você vai ver – beijou minha testa, me abraçando com mais firmeza. – Cass vai ficar novinho em folha, e a gente vai pegar Fome, depois Peste e Morte. E a gente vai fazer tudo isso juntos, como uma família. Eu prometo.
– Só quero que isso acabe – engoli a seco.
– É – suspirou. – Eu também.
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Winds of Fortune
Fanfiction[sequência de Wayward] Depois de Lilith arrasar a família Winchester, levando a alma de Dean para o Inferno, Bella se vê sozinha em uma jornada de vingança, abandonada pelo cunhado que um dia considerou como um irmão. O que ela não sabia, sequer i...