Capítulo 53

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De todos os cenários que eu havia considerado para aquele conflito, aquele foi o único que não me ocorreu.

Estávamos em um velho cemitério de Lawrence e eu só soube que ainda estávamos na cidade por causa do nome do cemitério, que me era familiar de uma das histórias que Kellan me contou.

O motivo de Lúcifer ter escolhido aquele lugar em especial para me dar uma surra, eu não fazia ideia.

Não até Miguel ter aparecido em seguida.

Vestido como um riquinho mimado, do jeito que Dean jamais se vestiria e faria com que ele se revirasse enojado dentro de si mesmo. Lúcifer não se deu ao trabalho de mudar suas roupas, pois estava ocupado demais ali. Miguel portava uma lança, e no momento em que se aproximou de nós, seu corpo foi envolto por uma armadura dourada.

Tal como nas pinturas renascentistas.

Pomposo e ridículo, cheio de si. Lúcifer, como era de se esperar, também deu seu showzinho: mostrou-se com uma armadura dourada semelhante, e portava sua própria lança. Eles estavam ali para me matar antes de se matarem.

Porque, aparentemente, minha imunidade contra anjos havia ido pro ralo.

Eu estava sem armadura e sem armas, a única humana presente.

A fraqueza dos dois. A única fraqueza dos dois que estava desprotegida o suficiente para ser morta, daquela vez. Queriam cortar um mal pela raiz.

Me esforcei para me levantar, sentindo meu abdômen doer de forma quase insuportável. Tinha certeza de que logo algum dente meu se soltaria de minha gengiva.

– Devemos jogar o lixo fora antes de resolver nossa pendência – Miguel disse à Lúcifer. – Não quero distrações.

O encarei com asco, cuspindo sangue aos seus pés.

– Boa sorte com isso, seu merdinha mimado.

– Ele não estava falando com você, aborto – Lúcifer retrucou.

Percebi que ele ia me atacar com a lança e rapidamente me afastei.

E por algum motivo, eu comecei a rir.

Comecei a gargalhar.

Ambos se olharam por um momento, confusos.

– Qual é a graça? – Miguel tentou bancar o valente.

– Ah, nada – eu respondi enquanto continuava rindo, sentindo meu abdômen doer ainda mais com aquilo. – Só tô pensando... Aquele merda do pai de vocês tá morto, né?

Miguel fez menção de avançar para me atacar, mas Lúcifer colocou a mão em seu peito, o parando.

– E sabe... Apesar de eu não confiar nela, tem um novo Deus no pedaço. Um Deus que odeia vocês tanto quanto a gente odeia. Então, sabe... Podem me matar, se quiserem – dei de ombros.

– Está blefando – disse Miguel.

– Ah, eu tô? Você tá no corpo do meu marido. Deveria saber melhor do que ninguém que eu não blefo nunca. Eu sei que o meu Deus é egoísta o suficiente pra me trazer de volta só pra arrebentar vocês. E quando eu arrebentar vocês... – gargalhei de novo. – Eu vou fazer vocês se arrependerem de ter cruzado o meu caminho.

– Fala muito pra um verme que vai morrer logo – Lúcifer franziu o nariz.

– Esse verme aqui teve mais consideração de Deus do que vocês jamais tiveram ou terão em toda a sua existência. Vocês dois... São só dois meninos mimados que não suportaram perder a atenção do papai de vocês... Porque seu papai nos amava mais do que amou vocês todos – fiz um biquinho. – Podem vir, se tem coragem – ergui meus punhos em posição de defesa.

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