Capítulo 22

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O clima estava denso e cada vez mais insuportável. Dean e Sam estavam em uma discussão fervorosa sobre todo o lance de segredos que estava rolando e sobrou até pra mim por não ter falado o que eu sabia.

– Na real, eu estava esperando que o Sam falasse – dei de ombros enquanto finalmente comia o meu bolo.

– Certo – Sam me olhou com cara de poucos amigos. – Você é mesmo uma santa, quem diria?

– Cuidado com as gracinhas – o fuzilei. – Eu ainda posso te queimar por mau comportamento, cunhado.

– Vai se divertir muito com isso, não é?

– Chega, vocês dois – Dean nos entreolhou.

– Mas quer saber? – chamei a atenção deles. – Eu não ligo que você e Ruby estejam juntos – dei de ombros. – Não dou a mínima. E não ligo mais que esteja bebendo o sangue dela – no que Dean arqueou as sobrancelhas pra mim. – Porque sei que você tá matando demônios e salvando pessoas, e isso é ótimo, Sammy, de verdade. O que me incomoda é todo o lance de segredos.

– Bem, eu ligo – Dean rebateu. – Eu ligo que ele esteja bebendo sangue de demônio e ficando cada vez menos humano a ponto de você conseguir queimar a cara dele!

– Já te ocorreu que eu também não estou muito humana, amor? – o encarei.

– Mas você é diferente...!

– Sou? Tem certeza?

– Você foi ordenada a isso por Deus – Castiel chamou a nossa atenção. – É uma situação completamente diferente.

– Exato! – Dean concordou.

– Vocês já consideraram a possibilidade de que se Deus não quisesse que o Sam fizesse isso, ele já estaria morto e no Inferno?

O silêncio tomou conta da cozinha por um instante.

– Isso ou talvez Deus simplesmente não se importe.

– Nunca pensei que concordaria com você, irmã – Ruby cruzou os braços, me olhando com um sorrisinho convencido.

– Não me chame de ''irmã'' – semicerrei os olhos. – Eu ainda não confio em você. O ponto que quero ressaltar aqui é que todos nós temos um papel nessa bagunça.

Ruby arqueou as sobrancelhas, arregalando os olhos. Até mesmo Castiel me olhou surpreso, no que dei de ombros pra ele.

Todos nós temos um papel – olhei para Dean. – Se a gente quiser ganhar a guerra, vamos ter que fazer algumas coisas que não gostamos, incluindo deixar o Sam beber sangue de demônio.

– Você não tá falando sério – Dean me encarou com descrença. – Sam tá deixando de ser humano, droga!

– Dean...

– Não, não posso concordar com isso, não vai rolar! – ele se levantou, irritado.

– Dean! – o chamei em tom de comando, no que ele se virou para mim. – Senta a bunda na cadeira e escuta o que eu vou dizer.

Sam e Ruby se olharam, desconfiados, e Castiel me olhou com expectativa. Terminei de comer meu bolo, voltando para a mesa, cruzando meus braços sobre ela.

– Eu já consegui converter e salvar um demônio antes – disse à ele. – Se Sam chegar a esse ponto, e somente se, ele ainda é salvável, entendeu? Apesar de ele ter pisado na bola mais vezes do que eu me importo em contar, eu sei que ele tem boas intenções.

– De boas intenções o Inferno tá cheio – Dean suspirou irritado.

– Você realmente quer discutir sobre as boas intenções que estão no Inferno? – o olhei seriamente.

– Nós nunca conversamos sobre o Inferno antes – disse Sam.

– Não quero falar sobre o Inferno – Dean baixou os olhos para mesa.

– Tudo bem. É seu direito – aceitei. – Enfim, o que quero que todo mundo aqui entenda é que há uma saída. Não sei vocês, mas eu quero sobreviver ao que vem por aí, seja lá o que for. E só tem uma forma de sobrevivermos a isso – os olhei. – Juntos. Unidos sob o mesmo propósito. Isso significa que vocês dois vão ter que enfiar o orgulho no rabo se quiserem vencer.

Ruby deixou o queixo cair e Sam não sabia onde enfiar sua cara.

– Você tá incrivelmente desbocada hoje – ele fechou os olhos, apertando a ponte do nariz.

– Só tô sendo sincera. Alguém aqui precisa ser. Eu tô cansada dessas picuinhas o tempo inteiro! Nós somos uma família, caramba! Não sei vocês, mas eu me preocupo com o que vai sobrar do mundo pra Charlie quando eu me for. Se não conseguirem confiar um no outro, preciso que ao menos confie em mim. Conseguem fazer isso pela Charlie?

Dean trincou o maxilar, encarando seu irmão. Sam agora parecia envergonhado, incapaz de dizer alguma coisa.

Uma lâmpada estourou de repente, nos assustando. Castiel se colocou em posição de defesa, segurando sua espada. Eu me levantei, imaginando que demônio teria tanta audácia a ponto de aparecer na nossa casa, mas além do cheiro de Ruby e de Sam, não havia mais nenhum traço novo de enxofre.

– Nunca pensei que ouviria você defender o conceito de que tudo é obra do destino. Você me surpreende, Santa Isabella.

Me levantei no instante em que ouvi aquela voz, pasma. Poderia ser...?

Quando o anjo pálido de cabelos cor de sangue entrou em nosso campo de visão a passos tímidos na cozinha, Castiel guardou sua espada de volta em sua manga e correu para abraçá-la. Anna definitivamente não estava esperando por aquilo, mas ainda assim o abraçou de volta.

– Como você tá viva? – Dean se levantou. – Pensei que tivesse...

– Explodido? – ela completou, Castiel se afastando dela por um momento. – É, eu virei poeira – sorriu timidamente. – Mas Deus me trouxe de volta.

– Deus? – Sam franziu o cenho. – Pensei que Deus quisesse te matar.

– É mesmo – Ruby completou. – Foi o que você disse durante a hipnose.

– Não posso explicar muita coisa. Tudo o que posso dizer é que eu fui trazida de volta por um Deus de amor e misericórdia – ela me olhou, assim como os demais, em seguida.

A estranha – concluí.

– Recebi perdão e uma segunda chance – ela se voltou para Castiel. – Seria uma honra se você me aceitasse na sua guarnição, irmão.

– É claro – ele sorriu. – Se são essas as ordens, ficarei mais do que feliz em as cumprir.

– Obrigada – ela assentiu.

– Não me leva a mal, não, tô feliz que cê tá viva e tá tudo bem com você, mas por que veio aqui? – Dean perguntou.

– Porque Deus me ordenou.

Dean, apreensivo, me encarou.

– Não me olha assim, eu não tô sabendo de nada – fiz um gesto de redenção.

– O ceifador local de Greybull desapareceu – ela nos surpreendeu. – Ninguém está morrendo há uma semana. Devemos ir até lá e descobrir o que está acontecendo.

– Um selo? – Castiel a fitou.

– É o que eu acho e esse selo específico requer dois ceifeiros. Precisamos ir o quanto antes para reestabelecer a ordem natural e capturar os demônios responsáveis.

– Hora de fazer as malas – me afastei para sair da cozinha.

– Tem certeza? – Dean me perguntou.

– Absoluta! Minha mão tá coçando pra matar uns demônios! – e me virei, encarando Sam. – Tá esperando o que, cunhadinho? Malas, vamos, é pra ontem! – bati palmas para pôr todo mundo em movimento.

– Você tá bem? – Anna me fitou com preocupação.

– Nunca estive melhor, querida! – sorri, me afastando.

Hora de pôr ordem na casa.

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