Capítulo 57

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Depois de tirar o atraso, ou ao menos parte dele, já que Castiel ainda não havia voltado, nos vestimos novamente para poder comer alguma coisa.

Quando saímos, percebemos que Sam estava dormindo deitado no sofá, segurando Charlie, que dormia contra seu peito.

Desliguei a TV, no que Dean se aproximou, acordando Sam gentilmente, sinalizando que ele podia soltar Charlie. Dean a segurou no colo com cuidado para levá-la de volta ao seu quarto e a colocar no berço.

Sam parecia exausto, assim como nós. Exaustão mental.

– Ela é comilona igual ao pai – ele disse sorrindo, me entregando a mamadeira vazia. – E tagarela. Não entendo nada do que ela fala, mas isso não a impede de falar.

– A gente precisa deixar a casa à prova de bebês agora – Dean chamou a nossa atenção. – Preciso colocar uma ''porteira'' pro andar de baixo.

– É bom – concordei. – E talvez reorganizar a sala de estar e a cozinha, colocar proteção nas coisas pontudas.

– Pensei em fazer alguma coisa com o jardim – Dean foi para a cozinha, procurando por água. – Esse gramado tá muito sem graça. Talvez seja bom colocar uns ladrilhos de pedra, talvez plantar umas flores... – deu de ombros. – Erguer um muro ao redor da casa e colocar um portão, já que Charlie logo vai começar a engatinhar...

Sam abriu um largo sorriso, no que eu ri, chamando a atenção de Dean.

– Que foi? – perguntei à Sam.

– Nada. Só tô feliz de poder falar sobre coisas normais.

– Não sei vocês, mas eu tô aposentado – Dean chamou a nossa atenção. – É, vocês me ouviram. Eu não vou caçar nunca mais a menos que seja uma emergência e que o Bobby ou a Ellen nos peçam ajuda. É isso, eu sou oficialmente um aposentado – disse com um largo sorriso.

– Somos dois – Sam se levantou. – Eu sei que eu fiz muita coisa errada, mas eu tentei compensar como podia. Quero pedir desculpas à vocês, pelos problemas que eu causei.

– Sam... – o fitei.

– É sério – ele insistiu. – Eu sei que tem todo o lance de destino com a gente, mas isso não me isenta de fazer escolhas ruins... E eu fiz escolhas péssimas. Me desculpem.

– Você tá mais do que perdoado – me aproximei, o abraçando.

– Nem precisava ter pedido – disse Dean, se aproximando para fazer o mesmo. – Tá tudo bem, Sammy, mesmo. Acabou. Toda essa porcaria sobrenatural, acabou.

– Por falar nisso... – me afastei para olhar Sam. – Como tá se sentindo?

– Como assim? – ele perguntou e Dean se afastou para olhá-lo também.

– É que você precisou... Sabe? Beber aqueles litros de sangue antes de dizer ''sim''. Não tá sentindo nenhum sintoma de abstinência?

– Não, nenhum. É estranho, na verdade. Eu tô me sentindo tão... Limpo – franziu o cenho. – Depois que saíamos da jaula eu só me sinto cansado.

– É, bom, a gente não dormiu desde que voltamos.

– Sabe o que mais? – Dean tirou seu celular do bolso. – Pizza.

– Pizza? – Sam e eu perguntamos juntos.

– Pizza – Dean confirmou.

– Dean, é 9h da manhã – Sam riu.

– É, eu sei, mas tô a fim de cozinhar não e a gente merece um descanso. Além do mais, faz tempo que a gente não come juntos.

– É, bem... Tô dentro – concordei.

Ouvi asas se batendo.

– Vão precisar de mais pizzas, porque vamos comer com vocês! – disse Gabriel, com Anna e Castiel ao seu lado. – E esses dois humanos aqui estão famintos!

Pestanejei confusa, trocando olhares igualmente desconcertados com Sam e Dean a respeito do que ouvimos.

– Ouvi direito? – perguntei. – Dois humanos?

– Isso mesmo – Castiel sorriu.

– Como? – Dean e Sam perguntaram.

– A Mãe perguntou o que queríamos como recompensa e... – Castiel olhou para Anna, que sorria satisfeita. – Foi o que pedimos. Para sermos humanos. Quero envelhecer com vocês – ele olhou para mim e então para Dean. – Quero a minha própria família.

Eu imediatamente corri para abraçá-lo, Dean logo atrás, e aquele abraço triplo foi o mais apertado que compartilhamos.

– Mano, assim eu vou chorar – Gabriel chamou a nossa atenção, no que nos separamos por um momento.

– Eu tô surpreso com você, Anna – disse Sam. – Você experimentou a vida humana antes e ainda assim a quer de volta?

– Eu ainda quero terminar minha faculdade de jornalismo – ela deu de ombros. – Além do mais, meus pais devem estar me esperando em casa.

– Seus pais? – perguntei.

– Ela os trouxe de volta.

Eu imediatamente fiquei ansiosa com aquele pequeno fato. Será que ela...?

– Ela simplesmente os trouxe de volta?

– Ela está tentando reparar alguns danos – disse Castiel. – Perguntou aos anjos quem tinha interesse em se tornar humano, e muitos de nós mostraram interesse. Alguns renascerão totalmente humanos, sem sua Graça. Eu escolhi permanecer com esse corpo, o que não a impediu de trazer Jimmy de volta.

– Jimmy está vivo? – Dean arqueou as sobrancelhas.

– Sim, e já está em casa, com sua família – Castiel sorriu.

– Eu disse a ela que isso vai deixar a humanidade mal acostumada – Gabriel suspirou. – Mas ela não quis ouvir. Disse que estava mais do que na hora de consertar isso.

– Então... Charlie e Renée...? – o fitei em expectativa.

– Não sei a respeito deles – ele crispou os lábios. – Ela está analisando os casos de ressurreição de um por um.

Assenti, respirando fundo. Sabia que era melhor se não criasse expectativas, mas era difícil não as ter daquele jeito.

– Vamos comer! – disse Gabriel, e nossa mesa da sala de jantar logo estava repleta de pizzas.

Sem regras, sem preocupações. Apenas um almoço adiantado com nossos amigos, jogando conversa fora enquanto planejávamos nossos futuros.

Logo Sam também começou a falar sobre sua vontade de tentar uma vaga em Stanford de novo e cursar direito.

E foi maravilhoso vê-lo receber todo o apoio de Dean, e o incentivo de Gabriel.

Aquela sensação no meu peito, de ver minha família em um momento descontraído e feliz... Era alívio em saber que estávamos todos bem.

Era tudo o que eu queria.

Bem, não tudo, mas já era um começo.

Me despedir de Anna foi difícil, mas eu sabia que não era um ''adeus''. Era um ''até logo, nos vemos assim que possível''. Gabriel a levou de volta para casa, e no meio tempo, ficamos paparicando nosso mais novo humano.

Castiel, com Charlie em seus braços, parecia feliz de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Segundo ele, agora comer era algo que de fato gostou, pois não sentia mais as moléculas individuais da comida. Podia sentir tudo plenamente.

Mesmo o pôr do sol daquele dia foi diferente para ele.

– É como se eu visse a beleza do mundo plenamente pela primeira vez – ele sorriu ao sol. – Sinto coisas que nem mesmo seres celestiais poderiam. É tudo o que eu queria. Estar aqui com vocês – nos olhou. – Estou em paz.

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