Capítulo 52

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Depois de uma noite mal dormida e inquieta em nossa própria casa, acordei com o choro de Charlie em seu berço e me levantei para atendê-la, lhe dando mamadeira, e algum tempo depois, lhe dando um banho e a vestindo com roupas limpas.

Dei toda a minha atenção à ela naquela manhã. Aproveitei cada segundo com a minha pequena, mesmo os momentos de choro, cantarolando para ela como podia, na esperança de acalmá-la.

Diziam, rumores, que crianças e animais domésticos podiam captar forças sobrenaturais ao seu redor. Me fez pensar se Charlie podia sentir o nosso medo e a presença dos nossos inimigos nos cercando a cada passo.

Ouvi um bater na porta, no que ela se abriu. Nunca antes fiquei tão feliz em ver aqueles olhos grandes e o sorriso fácil de Anna. Me levantei para abraçá-la, Charlie ainda em meu colo. Logo atrás dela estavam Daniel e Ariel, que acenaram timidamente para mim enquanto rumavam para a sala de estar. Ambos trajavam armaduras celestiais.

– Eu sinto muito pelo que aconteceu.

– A gente sabia que não seria fácil – ela deu de ombros, crispando os lábios por um momento. – Tá tudo bem, eu tô de volta.

– Como você tá?

– Morrendo de medo – ela riu sem graça. – A batalha finalmente vai acontecer e estamos todos com medo do que vai sair disso. Está caótico lá em cima. Muitos ainda estão com receio de seguir Alexis.

– E com razão – me desgostei assim que ouvi o nome dela.

– Cass me contou que está chateada com ela.

– ''Chateada'' não chega nem perto do que eu tô sentindo.

– Imagino que não. Na verdade, não faço a menor ideia de como está se sentindo. Entre meu pai e Alexis, escolho ela mil vezes, mas posso imaginar o quão difícil deve ser pra você confiar em alguém que de repente some. Se serve de consolo, e provavelmente não serve, ela disse que nem ao menos planejava dar as caras. A presença dela aqui foi coisa de última hora.

– É egoísmo da parte dela aparecer do nada, nos dar esperanças, e abandonar o navio. Quem ela pensa que é?

– Ela não abandonou o navio, ela apenas está deixando o destino de vocês se cumprir sem maiores interferências. Vocês não foram abandonados, Bella. É como se vocês fossem uma criança aprendendo a andar. Ela é a mãe que está deixando vocês arriscarem os próprios passos sozinhos, entende?

– E quanto à nossa segurança? Ela não se importa com o que vai acontecer com a gente quando Sam disser ''sim''?

– É claro que ela se importa – Anna insistiu. – Por que acha que estamos aqui?

Difícil acreditar, mas eu estava cansada daquele tipo de conversa.

– Então – pigarreei. – Lúcifer?

– Não está mais em Detroit.

Assenti, respirando fundo. Era óbvio que ele não ia ficar parado lá, esperando por um confronto. Entreguei Charlie aos cuidados de Anna e me encaminhei para um banho gelado, esperando que meu corpo ficasse mais em alerta.

Mas meu tempo em baixo do chuveiro, encarando o azulejo enquanto a água jogava meus cabelos para baixo, apenas aumentou minha ansiedade.

Miguel e Lúcifer brigando pra valer, e não estávamos com a foice. Só tínhamos os anéis e um fio de esperança prestes a se romper.

Não havia mais como postergar a resolução do problema.

Me vesti rapidamente, me encontrando com Sam na cozinha, as costas contra a parede, de braços cruzados contra o peito. Parecia profundamente perturbado, e eu sabia o motivo, pois seu rosto estava distorcido. Ele enfim havia bebido os litros de sangue demoníaco que precisava.

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