Capítulo 36

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Acho que nós nunca reagimos tão rápido antes.

Anna havia saído da igreja levando Charlie consigo, acompanhada de mais dois anjos, e mesmo santa Joana a acompanhou.

Dean e Sam haviam sacado suas armas, e todos os anjos que estavam ao nosso lado naquela guerra estavam prontos para lutar quando as portas da igreja subitamente se fecharam e nós todos ficamos presos lá.

Violência de anjo contra anjo era ruim, mas violência de humano contra anjo era ainda pior. Mais sangrento, e isso nós três garantimos. Era a primeira vez que eu usaria a minha própria lança de guerra e eu fiz questão de fazer isso com estilo.

Meu objetivo era matar aquele paspalho e eu fui com todas as minhas forças pra cima dele. Frente à aquela espada dele, que mais se parecia com um palito de dente, minha lança conseguia me ajudar a ganhar terreno.

Fui rápida, como Gabriel me treinou para ser.

– Acha que só por que tem um brinquedinho novo vai mudar alguma coisa?! – Zacarias tentou me desmoralizar. – Acha que isso te faz mais poderosa?! Você ainda é só uma humanazinha insolente e nada mais!

– Não de acordo com Deus!

Girei minha lança e a segurei firmemente com as duas mãos, batendo-a contra o chão e jogando Zacarias longe com o impacto, bem como outros anjos. No que ele caiu, eu avancei, girando a lança para acertá-lo com a ponta de sua cruz, mas outros dois anjos a barraram usando suas espadas e me enfrentando.

Era uma dança entre três, e eu não os deixava pensar, eu não podia.

E nada melhor que ter minha família ao meu lado naquele momento.

Quando um dos anjos me empurrou e o outro me deu uma rasteira para me derrubar, se jogando sobre mim com sua espada, eu lhe dei uma joelhada forte o suficiente para jogá-lo pra trás de mim.

E dois tiros lhe acertaram a cabeça, lhe matando na hora, liberando uma ofuscante luz. Mais três tiros contra o outro que fez menção de me atacar, e a luz brilhou novamente.

– Bella! – Dean se aproximou. – Você tá bem?

– Tô, e vocês? – os entreolhei.

– Tudo certo – disse Sam.

– Deem cobertura pro Cass! – disse a eles, que correram na direção do nosso anjo, que lutava contra quatro frangos celestiais.

– Você não vai sobreviver a isso! – Zacarias me encarou, sua espada apontando para mim enquanto corria para me atacar. – Quando Miguel tomar sua casca, vai eliminar você primeiro!

– Ele pode até tentar, mas ele não vai conseguir, porque Deus está do nosso lado, seus otários!

– Deus não está mais aqui, ele abandonou todos vocês!

Zacarias tentou me atingir repetidas vezes enquanto eu desviava de seus golpes. Quando encontrei uma brecha, o derrubei, virando a lança em sua direção.

– O seu Deus, não o meu!

Quando concentrei energia para fincar a lâmina com toda a força no peito daquele asqueroso, ele desapareceu de vista.

– Cass, segura o Dean! – gritei para ele.

Olhei ao redor enquanto corria até eles, procurando por sinais de Zacarias.

– Escudo! – gritei aos anjos, que correram até nós, nos circundando.

Fiquei atrás de Dean, mantendo uma mão firme em seu peito para mantê-lo conosco enquanto segurava a lança com a outra. Cass segurava Dean pelo ombro enquanto Dean mantinha sua mira pronta para atirar no primeiro engraçadinho que passasse pelo escudo. Sem seu líder, eles não pareciam confiantes em atacar.

Especialmente quando Gabriel, que já havia matado dezenas, não estava parando por nada. Os anjos comuns não eram nada em comparação a ele.

Posicionei minha lança perto do chão, pronta para fincá-la nele a qualquer momento e banir o desgraçado para tirarmos Dean dali, mas ele estava escondido enquanto os outros anjos que estavam espalhados lutavam com aqueles que o acompanhavam na igreja.

– Sam, fica perto – ordenei, e ele se aproximou mais.

Olhos e ouvidos atentos à qualquer mínima movimentação, à qualquer sussurro do vento e súbita aparição, mas Zacarias era esperto. Estava esperando que nos distraíssemos para retornar e atacar.

– Essa é a última chance de vocês de continuarem vivos! – Gabriel gritou para eles. – Vocês são nossos irmãos e precisam ser mais espertos que isso! Acham mesmo que Miguel se importa com vocês? Acham que Rafael se importa? Eles não dão a mínima para vocês e nem para os humanos! Não sejam tolos! Acham mesmo que se Deus ordenaria uma Santa Guerreira se o nosso lado não fosse o certo?! Se continuarem do lado deles, vocês todos morrerão porque pra eles não passam de números!

Dava pra notar que eles estavam balançados, mas mais que isso, estavam com medo. Medo, talvez, de mudar de lado e morrerem assim mesmo. Medo de punição, medo do desconhecido.

Eram crianças, não foram ensinados a pensar por si próprios.

– Irmãos, por favor! – Castiel chamou sua atenção. – Não precisa ser assim! Não precisamos ficar uns contra os outros! Essa guerra só diz respeito à Miguel e Lúcifer, essa briga é problema deles, não nosso! Nossa lealdade é para com a humanidade, nossa lealdade reside na missão que nos foi dada pelo nosso Pai!

– E onde está Ele? – um dos anjos perguntou. – Nenhum de nós nunca os viu!

– Eu vi! – revelei. – Deus me trouxe de volta e me concedeu essa autoridade, autoridade que todos vocês me viram exercer com seus próprios olhos! Deus está se preparando para essa guerra também! Lutem ao nosso lado e vocês O verão!

– É verdade? – outro anjo se virou para Gabriel. – Vocês O viram?

– Sim, irmãozinho. Acha mesmo que o Pai deixaria os Winchesters com tanto poder se o lado deles não fosse o certo? Qual é? Usa a cabeça!

Gabriel ficou sério de repente e se virou num giro, segurando a espada de Zacarias com uma mão a tempo de evitar ser morto.

– Estão mesmo tentando converter a minha guarnição descaradamente?! O que os deixa tão convencidos de que esse poder todo não vem de Lúcifer?! O que os faz acreditar que não é o próprio Lúcifer com quem se encontraram?!

Gabriel desferiu um soco que lançou Zacarias ao outro lado do salão, fazendo com que se chocasse contra a parede. Estava furioso.

– Acha que eu não conheço meu próprio irmão?! Nós somos os quatro mais velhos depois do nosso pai, nós vimos vocês nascerem! Quem você pensa que é pra me dizer uma coisa dessas, seu insolente?! Ponha-se no seu lugar ou eu mesmo farei isso! Se é tão leal à Miguel, saia daqui enquanto pode e fuja como o covarde que é... – e apontou sua espada para o anjo. – Ou me enfrente e morra de pé!

Todos nós observávamos Zacarias, esperando seu próximo movimento com ansiedade. Os outros anjos da guarnição dele estavam divididos, cheios de dúvida. Ele se levantou, dando alguns tapinhas em seu paletó e arrumando a gravata. Com um sorriso debochado, nos encarou.

– Isso ainda não acabou. Eu voltarei e levarei a casca de Miguel, podem esperar.

E desapareceu no ar, deixando seus homens para trás. Eu não soltei Dean em nenhum momento, e nem Castiel.

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