Nunca, em toda a minha vida, eu havia apanhado tanto de alguém.
Nenhuma tortura que eu tivesse sofrido nas mãos do demônio que me matara tempos antes, nem mesmo o que Alastair tinha feito com os Cullens na minha frente...
Apesar da dor emocional impossível se expressar adequadamente em palavras, nada daquilo se comparava ao treinamento que Gabriel me deu.
Era estranho, realmente, porque contrariava a regra de que nenhum anjo poderia me ferir. Provavelmente conseguia porque não tinha intenção de me ferir ou de me matar, ainda que me machucasse. Talvez as intenções dos anjos fossem as coisas que os impediam de me alcançar para me perseguir e me torturar.
E além dele, de alguma forma, centenas de demônios apareciam na sala para que eu os matasse, um trabalho ainda mais estressante.
Todos os dias eu era exaustivamente treinada. Não haviam pausas, não havia motivos para parar. Eu não sentia fome ou sono, ainda que cansaço fosse recorrente.
Havia quebrado tantos ossos que havia perdido a conta de quantas vezes tinha acontecido. Parei de contar depois da ducentésima vez que me quebrei e fui remontada. Eu sempre acabava no chão, quebrada, dilacerada, cuspindo sangue, às vezes me engasgando com ele.
E no momento seguinte, estava inteira, de pé, com os punhos em posição para mais uma rodada de lutas.
O que mais me desconcentrava era a saudade que eu tinha de casa, deles.
Eu não sabia quanto tempo havia passado naquela sala com Gabriel, lutando exaustivamente, sempre em repetição. Com os punhos, com facas, com espadas, com maças, com lanças, com qualquer coisa que estivesse por perto. Tudo virava uma arma. Aprendi a ser mais ágil e mais forte, mais resistente que antes.
Mas as aulas de Gabriel não consistiam apenas de lutas. Eu aprendi a usar poderes que eu nem sabia que tinha, havia aprendido a santificar coisas. Qualquer coisa que eu tocasse seria sacra, e qualquer arma que eu sacralizasse poderia ser usada contra demônios e outros monstros.
Até mesmo contra anjos.
E agora, sempre que alguém rezasse e pedisse por ajuda, eu podia chegar ao fiel a qualquer momento. Onde quer que rezassem para mim, eu estaria lá.
A santidade fazia de mim uma autoridade sobre qualquer anjo comum que estivesse em Terra, afinal de contas, a Terra era território nosso, e não deles. Minha posição dada por Deus me dava mais privilégios que eles, de alguma forma bizarra.
– E está mais do que na hora de atuar conforme sua posição – ele me dissera.
Podia comandar e banir anjos à vontade, agora. Isso nos ajudaria a atrasar os anjos que estivessem contra nós. Isso seria perfeito para manter Zacarias longe até que Sam e Dean estivessem prontos para aceitar serem as cascas de Lúcifer e Miguel.
Segundo Gabriel, eu já estava avançada o suficiente para não precisar mais me preocupar em perder minha santidade por conta de pecados e coisas do tipo, o que era um alívio, uma preocupação a menos por não precisar me vigiar.
Naquele dia, que eu não sabia mais qual era, Gabriel e eu estávamos em uma luta com espadas, falsas espadas angelicais.
Ele me cercava como um leão cercaria uma zebra. Não fazia nada além de me circundar, e mesmo sem me virar e acompanhar seus movimentos, eu podia sentir seus olhos às minhas costas.
Em um segundo, ele avançou para o ataque e eu me virei a tempo de segurar seu pulso, acertando-lhe um chute em cheio no estômago, desestabilizando-o para que soltasse a espada, que tomei de suas mãos e quebrei, jogando os pedaços para longe.
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Winds of Fortune
Fanfiction[sequência de Wayward] Depois de Lilith arrasar a família Winchester, levando a alma de Dean para o Inferno, Bella se vê sozinha em uma jornada de vingança, abandonada pelo cunhado que um dia considerou como um irmão. O que ela não sabia, sequer i...