Capítulo 27

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Eu podia ouvir as vozes ao meu redor.

Podia ouvir os passos de quem se aproximava de mim, e, no entanto, não conseguia me mover para levantar de onde estava, nem conseguia abrir a boca para responder.

Eu não sabia onde minha voz tinha ido parar, mas não fazia questão de reencontrá-la. Dean me tomou em seus braços, me tirando de onde eu estava, me levando para fora daquele pedaço do Inferno.

Mas o Inferno ainda estava na minha cabeça.

Eu ainda podia ouvir os gritos de desespero dos meus amigos. Podia ouvir a dor da minha melhor amiga segundos antes de ela ser desfeita na minha frente. O cheiro de sangue fresco e de entranhas ainda estava em mim, assim como o de enxofre.

Então mesmo quando Dean me colocou no banco de trás do Impala, onde Castiel e Anna se sentaram, cada um de um lado meu, eu não me senti melhor, ou mais tranquila.

Porque agora eu enxergava claramente o que eles eram.

Eram as pessoas que eu mais amava.

Eram as pessoas que seriam usadas contra mim.

E pensar no que poderia ser feito à elas em uma tentativa de me converterem para o lado inimigo...

Aquele era um pensamento paralisante. Eu finalmente entendi o motivo de Sam fazer o que fazia, o que por si só deveria me assustar, mas não assustava.

As mesmas imagens se repetiam constantemente em minha mente. Os gritos, as luzes, os cheiros. Mesmo quando Dean me colocou sentada no chão do banheiro para poder lavar todo o sangue que me cobria, minha memória ainda era vívida.

– Bella – ouvi ele me chamar. – Bella, por favor, fala alguma coisa.

O que eu tinha pra falar? Que falhei com os meus amigos e que eles foram massacrados por eu não ser forte o suficiente para pegar Alastair antes?

– O que aquele desgraçado fez com você?

Matou os meus amigos, meu amor. Se ele tivesse me torturado, eu teria aceitado de bom grado. Qualquer coisa para que ninguém mais precisasse se ferir, mas Alastair, aquele grande filho da puta, mal havia feito alguns cortes em meu braço antes de se entediar.

Porque demônios, meu amor, eles se entediam muito facilmente.

Alastair, Victoria, James... Todos uns demônios.

Minha estupidez em achar que era capaz de lutar contra aquele tipo havia me levado à desgraça. Agora, ao menos, só restava uma.

A última desgraçada daquela corja. A primeira de Lúcifer.

– Saia – ouvi Gabriel falar enquanto Dean me ajudava a colocar uma camisola.

– O que? Por que?

– Saia.

– Não, não vou, não sem você me dizer o que tá acontecendo antes.

– É assunto meu e da minha subordinada. Saia.

– Não!

Eu me levantei da cama onde ele havia me sentado, me aproximando de Gabriel, de cabeça baixa, como devia ser. Antes que Dean pudesse protestar de novo, Gabriel me levou para outro lugar.

Para a sala dele, onde a estranha de antes estava, parada bem à minha frente. Eu me ajoelhei, fracassada, não ousando fazer ou falar coisa alguma. O que eu tinha a dizer? Nada que pudesse mudar o que foi feito.

– Qual parte do ''deixar as coisas rolarem'' você não entendeu? – ela indagou. – Porque, não sei se tu percebeu, ''deixar rolar'' e ''se jogar de cabeça no perigo'' não é a mesma coisa. Todos eles mortos porque você não deu ouvidos à literalmente todo mundo naquele carro, Isabella! Se tivesse ficado com Castiel e Anna, Alastair não teria pegado você e a gente teria tempo pra resgatar os Cullens e o padre, mas não! – ela me deu as costas, irritada. – Você tinha que bancar a invencível, entrando numa cilada óbvia que não tinha como ganhar! Você não é o Sam! Vocês dois funcionam de formas totalmente diferentes! Você ainda não tem força pra derrotar alguém como Alastair com um mero toque porque isso requer muita prática e muitos demônios pra matar!

Eu não protestei. Ela estava certa, é claro. Eu fui tola e estúpida e isso custou todas aquelas vidas.

– Sorte a sua de eu estar aqui pra mandar as almas deles todos para o Céu. Os Cullens não eram humanos e só por isso já tinham uma passagem garantida só de ida pro Inferno. Dá pra imaginar o que Alastair faria com Edward e Alice se pudesse as mãos neles? Consegue imaginar o tipo de demônio sanguinário que eles virariam? – e se voltou para mim novamente. – Se eu continuar intercedendo por vocês desse jeito, nós seremos descobertos mais cedo e o plano já era, inferno! Da próxima vez que eu te der uma ordem, você vai obedecer, Isabella! – esbravejou. – Porque da próxima vez, isso vai custar a vida de Bobby, de Castiel, de Sam e Dean! Eu fui clara?!

Engoli a seco.

– Sim, senhora.

– Eu não ouvi – ela se aproximou, se curvando à minha frente.

– Sim, senhora – tentei falar mais alto.

– Eu acho bom mesmo.

– Estou tirando você de campo a partir de hoje – Gabriel se aproximou.

Erguei minha cabeça para encará-lo em descrença.

– Seu trabalho como Santa está suspenso até a segunda ordem e sua autoridade sobre a guarnição de Castiel está revogada. Você vai ficar em casa, em segurança, sob a guarda de Anna. Vai ficar em casa e se concentrar em sua gravidez, não vai correr nenhum risco desnecessário.

– Mas...!

A estranha pôs as mãos na cintura, me encarando furiosa.

– O que acontecer a partir de agora é com Sam e Dean, não lhe diz respeito – Gabriel continuou. – Quando Sam estiver pronto, ele matará Lilith, e isso é com ele e somente ele, entendeu? Você vai se ocupar com a igreja que Kellan deixou para trás, vai cuidar dos fiéis dele. Se cumprir suas ordens direito, depois que Charlie nascer, nós a treinaremos. Será um treinamento exaustivo e doloroso, mas deixará você em forma novamente para o grande show. Apenas... – ele suspirou. – Cumpra suas ordens, Isabella. Apenas... Pare de nos dar dor de cabeça.

– Sim, senhor – baixei a cabeça.

E num piscar de olhos, eu estava de volta em casa, em nosso quarto.

Quando Dean me encontrou, me encheu de perguntas, mas eu não podia respondê-las nem se eu quisesse.

E algumas eu simplesmente não conseguia responder.

Eu estava fora da jogada.

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