CAPÍTULO 155

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Charles Leclerc

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Charles Leclerc


       A noite cai, estamos no aeroporto. Pierre está sentado ao lado de Mads, os dois estão aninhados, se escondendo do jato forte do ar condicionado que faz nossos cabelos se arrepiarem.

Equilibro os três copos de café em minhas mãos, torcendo para chegar até eles antes que os mesmos esfriem ou derramem sobre minha camiseta azul clara, ou minha calça branca que combina com meus tênis.

Chego até eles, em passos rápidos e curtos. Os dois pegam seus cafés, se reecostando um no outro. Pierre olha para mim, sem dizer nada, apenas me estuda, vagarosamente.

-Qual é? - Pergunto, chamando a atenção de Madison, que levanta o olhar, até então preso em seu livro.

-Qual é o quê? - Ela abraça os joelhos e olha de mim para ele, e então ao nosso redor.

-Você tá mesmo me trocando por uma garota. - A fala de Pierre faz Mads se dobrar em risos. - Tudo bem, só não julgo porque é Mads, mas tô vendo que vou perder meus dois amigos.

-O quê? - Sua frase parece insulta-la. - Eu jamais abandonaria meus amigos por macho.

Dessa vez sou eu que me sinto ofendido. Reclamo em um grunhido baixo e ela se desculpa, piscando pra mim.

-Pode nos contar o que quiser - ela completa bagunçando os cabelos loiros de nosso amigo. - O que tem acontecido na sua vida badalada?

-É Pierre, o que tem acontecido? - Desafio-o a nos contar sobre o que começamos a conversar na sexta. Ele entorta a cabeça, seu olhar apimentado mostra que ele entendeu muito bem. Como sabia sobre Joshua? O que aconteceu com Nali? E Kriss? Ele sabe sobre Kriss. Sabe tudo sobre tudo. - Compartilha com a gente.

Com os olhos semicerrados Mads nos estuda, como um bicho observaria sua presa. Sorrio ao pensar nela vestida como a Jane do Tarzan, usando roupas pré-históricas de couro de animal.

-Eu falei com ela enquanto estive em Nova York, longe de vocês - Mads responde e só então percebo que não estive presente na conversa deles.

-O quê? Com quem? - Os dois me olham de relance mas continuam sua conversa.
Chego mais para a frente, na ponta da poltrona, com os ouvidos apurados.

-Como foi? - Pierre questiona jogando a cabeça para trás.

-Normal, - Mads dá de ombros e então continua - não tinha muito pra ser ou acontecer durante uma conversa. Ela nunca esteve errada de fato.

-Então por que se afastou? - Pier questiona a encarando com sua cabeça voltada para cima, em uma pose aparentemente desconfortável.

-Acho que eu precisei de espaço - ela brinca com os dedos descalços. - Foi muita em coisa em um espaço curto de tempo. Foi um mês, um mês com o ser humano mais desprezível da terra foi o suficiente como uma vida inteira de desgosto, dor e desconforto.

-Quer dizer que finalmente resolveu o que precisava? - Pierre se ajeita e a olha, da maneira certa.

-Quero dizer que estou em paz - ela se vira, os dois se olham, então ela olha para mim. - Só não quero ocupar o pouco tempo que tenho vivendo com medo, assustada ou em pânico.

-Em algum momento você pensou que... - hesito em minha pergunta, continuá-la significa abrir cortes que doeram muito pra curar. - Em algum momento depois que foi pra Nova York, se afastou de tudo e todos, ficou sozinha consigo mesma, você pensou em reconsiderar sua relação com Lando?

Todas as vezes em que os vi juntos, eu a via sorrir. Podia até não ser fácil, mas dava pra ver em seus olhos o quão jovem ela se sentia por estar com ele. Aquilo me corroía, mas eu sabia que não podia destruir sua vida.

Quando ele mostrou o merda que era e a traiu, com a melhor amiga dela, eu fiquei feliz porque ela percebeu aquilo e se afastou. Mas perceber que estava sendo egoísta, que tudo aquilo estava a fazendo sofrer por todas as vezes que fora traída e abandonada em tão pouco tempo de vida, fez eu me sentir a pior pessoa no mundo.

Por um momento, eu me culpei por sua dor e fiquei do seu lado só pra tentar arrancá-la para mim. Mas, por outro lado, em um outro instante, eu sei que fiquei porque desde o dia que a vi, quando Pierre nos apresentou na Áustria, eu precisava dela para respirar. Quando Madison olhou pra mim eu não pude parar de sorrir, mesmo que eu odeie mexer com animais, eu permaneci, só pra ouvir o som da sua risada.

-Não - ela responde e o ar preso em meus pulmões preenche o ambiente. Acho que todo o oxigênio da sala esteve preso em meu peito por cerca de meio segundo, enquanto ela pensava no que dizer. - Acho que isso só me fez perceber que eu não precisava dele pra ser jovem ou feliz. Eu achei que ele fosse minha metade, mas eu passei minha infância sem precisar de ninguém, nem dos meus próprios pais, eu nunca fui metade.

-Quer dizer que não precisa do Charles? - Um sorriso travesso se desenha nos lábios de Pierre. Lanço para ele o maior de meus olhares ameassadores.

-Eu o amo - ela responde, sem rodeios, sorrindo da expressão em meu rosto. - É o que basta.

-Eca, não. Não comece. Me poupe dos detalhes - Pier tapa os ouvidos. - Nunca falem sobre...

-Atenção passageiros do Vôo 188 - a voz estridente da moça do aeroporto chama nossa atenção, interrompendo Pierre.

Passo minha mochila por sobre meus ombros e atravesso a sala com Pierre e Madison atrás de mim. Minha família, penso enquanto caminho pelo aeroporto de cabeça baixa.

POR UM MOMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora