Capítulo 4

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Elain mal podia acreditar. Sua irmã mais velha estava se casando! Sim, era um pouco diferente do casamento a que os humanos estavam acostumados. Mais... eterno, mas ainda assim, Nestha iria proclamar votos com alguém que amava!

Quando todos se dirigiram até o terraço, onde Rhys havia planejado que a cerimônia ocorresse, Elain não conseguia conter a empolgação. Poderia saltitar, tamanha era sua alegria. Ver suas duas irmãs amadas sendo felizes com alguém que as protegesse era o que mais desejava na vida.

Os convidados estavam sentados, as cadeiras viradas para um altar ricamente decorado com as flores que Elain pessoalmente escolhera para constrastarem com o Sol que se punha no horizonte de Velaris. Surpreendendo Elain, a irmã a escolhera, assim como a Feyre, para a acompanharem no altar, como damas de honra. Ela faria par com Azriel, mas nem o nervosismo de ficar diante de uma sacerdotisa com ele ao lado era capaz de aplacar a felicidade imensa que ela sentia pelo momento.

Gwyn e Emerie entraram no terraço, e ela podia sentir a tensão das duas fêmeas em estar em um local cheio de pessoas desconhecidas para elas - especialmente o desconforto de Gwyn -, mas ambas mantinham as cabeças erguidas. O trio se chamava de Valquírias, e elas estavam mostrando a todos que superariam qualquer desafio, fosse qual fosse. A chegada das duas indicou que Nestha estava pronta e que a cerimônia deveria começar. Elain encontrou Feyre sob o portal de entrada. A irmã mais nova a abraçou carinhosamente. Procurando com os olhos, ela encontrou Azriel conversando com Cassian e Rhysand em um canto. Dessa vez, era Az quem parecia estar prestes a fugir, mas fosse o que fosse que Cas estava lhe dizendo, parecia que Az havia se resignado. Levantou o queixo, com o maxilar fortemente trincado, as sombras se enroscando em seu antebraço e subindo até o pescoço. Os dois trocaram um abraço fraternal, depois foi a vez de Rhys fazer o mesmo. Elain desviou os olhos, dando aos três um pouco de privacidade.

Ao encontrar novamente os olhos azuis de Feyre, Elain sabia exatamente o que a irmã diria.

- Nem comece. - Suspirou. - São situações completamente diferentes.

- Mas eu não falei nada. - Feyre deu uma risadinha.

- Não precisa, sua expressão fala por você. Além do mais, você já deixou bem claro sua posição com relação a laços de parceria.

Feyre levantou uma sobrancelha em uma expressão que era um misto de divertimento e questionamento. Elas já haviam tido essa discussão antes, e nunca levava a nada. Feyre queria algo que Elain não estava disposta a fazer.

A chegada de Rhys e Azriel impediu que as duas falassem mais qualquer coisa. Sorrindo para a cunhada, Rhys beijou-lhe o rosto uma vez, antes de se colocar ao lado da esposa e Grã-Senhora. Eles seriam os primeiros a caminhar pelo caminho de pétalas de rosa que Elain preparara. O silêncio tomou conta do terraço quando os dois entraram, de braços dados, o retrato perfeito do poder e da força de unidade da Corte Noturna. Enquanto caminhavam, Azriel se colocou ao lado dela e, com um meio sorriso, ofereceu-lhe o braço. Com a mão trêmula, hesitante em tocá-lo novamente depois da última vez em que estiveram tão próximos, Elain aceitou o braço, pousando a mão casualmente em seu antebraço. O sifão azul em sua mão esquerda brilhou uma vez, e as sombras, para surpresa de Elain, não se contraíram, como costumavam fazer. Pelo contrário, elas a abraçaram, dando voltas em torno do braço dos dois, como se aceitassem a presença dela ali. Az pareceu tão surpreso quando ela, pois olhava para o local com o cenho franzido e a boca ligeiramente aberta.

- Desculpe por isso. - Sussurrou, voltando a atenção para seus olhos.

- Não tem problema. - Elain sorriu, encarando-o. - Gosto delas.

Az não respondeu, mas a surpresa continuava evidente em seu semblante enquanto estudava seu rosto. Ela começou a corar, mas recusou-se a desviar o olhar. Então, como na noite do Solstício, Az pareceu levar um choque e ficou tenso, desviando o olhar. Respirando fundo, ele fez com que os dois começassem a andar, sem lhe dirigir mais uma única palavra. Elain engoliu a frustração, a decepção e a tristeza e seguiu adiante.

Chegaram ao altar e se separaram, assim como Feyre e Rhys haviam feito, fêmeas para um lado, machos para outro. Mas, para a surpresa de Elain, uma gavinha de sombra permaneceu enrolada em seu pulso direito. Ela olhou para Az, questionando, mas ele apenas deu de ombros imperceptivelmente. Feyre também olhava para a sombra pequenina, que parecia formar uma espécie de pulseira negra ao redor do pulso de Elain. Com uma inesperada onda de desejo de proteger a pequenina dos olhos intrusos, Elain escondeu o pulso entre as dobras da saia. Quando levantou os olhos novamente, Cassian entrava no terraço, tenso feito uma corda de harpa.

Um minuto inteiro se passou após Cas alcançar o altar. Depois outro minuto. As pessoas presentes começaram a se olhar, especulando. Nestha teria desistido?

O burburinho cessou aos poucos quando, fileira a fileira, os convidados iam se virando para trás para olhá-la, admirá-la. Nestha estava nada menos que perfeita. O vestido verde se colava ao seu corpo, os ombros à mostra, com um pequeno franzido adornando o decote e servindo como mangas. Próximo à metade das pernas, o tecido se abria, descolando do corpo e indo até o chão, formando uma espécie de calda que a seguia a cada passo. Os cabelos loiros estavam presos em um coque ornamentado, e joias belíssimas adornavam suas orelhas, pescoço e pulsos. Elegante e poderosa, a imagem refletia exatamente quem era Nestha.

Elain sentiu os olhos se enxerem de lágrimas enquanto a irmã que sempre cuidou dela se encaminhava para o seu "felizes para sempre".

A sacerdotisa começou a cerimônia e Elain secou as lágrimas com a ponta dos dedos. A pequena sombra, que ela esquecera estar em seu pulso, pareceu acariciar seu rosto com algo que ela podia jurar ser ternura. Grata pelo carinho inesperado, Elain deu um sorrisinho, que se desfez quando sentiu um calor reconfortante em seu pescoço e bochechas. Procurando a fonte do calor, ela escaneou os convidados. Seus olhos, como se soubessem exatamente onde ir, encontraram-se com um olho castanho avermelhado e outro de metal dourado, que lhe encaravam com um brilho que Elain não conseguiu identificar, e que a deixou zonza por um segundo. O maxilar de Lucien estava contraído e as narinas dilatadas, foi então que ela se deu conta de que ele não olhava para ela, mas para a pequenina sombra ao redor de seu pulso, que estava pousado sobre a garganta. Ela assistiu, atordoada, o olhar dele subir por seu pescoço e devorar cada pedaço de seu rosto corado. Quando os olhos dele encontraram os dela, a respiração de Elain estava irregular, quase ofegante. Lucien estreitou os olhos e um sorriso de lado contraiu sua cicatriz, fazendo com que ele ficasse inacreditavelmente... sexy.

Céus, era a primeira vez que ela pensava isso! Corada e envergonhada, Elain desviou os olhos, ciente de que deixara de prestar atenção à cerimônia e havia perdido pelo menos metade do discurso da sacerdotisa. Procurando algo para se distrair e esquecer o olhar que a deixara quente de uma forma muito inapropriada, ela passou os olhos pelos convidados novamente, até que outra fêmea chorosa lhe prendeu a atenção, sentada logo na primeira fileira.

Sob as vestes de sacerdotisa, Gwyn poderia ter passado despercebida na cerimônia, não fosse o capuz abaixado, revelando madeixas ruivas que brilhavam intensamente sob o crepúsculo. Mas o que chamou atenção de Elain não fora a aparência bela e delicada da moça, mas o que ela ostentava no pescoço, a única joia que usava, e que não era a habitual pedra azul que suas companheiras usavam. Estreitando os olhos para ver melhor, foi como levar um soco no estômago.

Uma fina corrente dourada, com um pequeno amuleto em formato de rosa chata. A luz do Sol poente fazia com que as cores ocultas no vidro tingido das pétalas dançassem nas bochechas brancas de Gwyn, destacando suas sardas de uma forma adorável. Elain sentiu uma dor crescente na boca do estômago à medida que reconhecia o presente que Azriel havia lhe dado no último Solstício de Inverno; a noite em que quase se beijaram ficara gravada em sua mente. Ela havia devolvido o presente - embora houvesse lhe doído na época quase tanto quanto agora - pois não queria a lembrança de que Azriel a considerava um erro. Não permitiria que ele gastasse dinheiro com um erro. Havia se sentido péssima naquela noite. Tão inadequada, tão inapropriada, tão oferecida...

Mas aquilo... Ver aquele presente, que ela julgara ter sido escolhido especialmente para ela; um presente que ela achava ter algum significado para ele - qualquer que fosse -, no pescoço de outra fêmea... Aquilo doía como o inferno.

Elain se deu conta de que as lágrimas em suas bochechas continuavam a escorrer, mas dessa vez não eram de felicidade. Sem se conter, olhou para Azriel, que assistia a cerimônia, inabalável, imperturbável. Ele sentiu seu olhar, levantou os olhos para ela. Elain olhou de volta para Gwyn e Az seguiu seu olhar. Quando olhou novamente para ele, sua expressão permanecia a mesma: as feições congeladas de um mestre espião.

O coração dela, que mal havia acabado de se curar de uma decepção, partiu-se novamente, e ela quase pôde ouvir os cacos se quebrando. 

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora