Capítulo 48

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Apesar das revelações da visão de Elain e de todas as preocupações que começavam a rondar a mente de Lucien, o macho se permitiu apreciar aquele pequeno momento de paz e serenidade, sentados sob o velho carvalho. Elain havia virado para frente novamente, tão imersa nos próprios pensamentos que não havia se dado conta de que ainda estava recostada nele - ou, se tinha consciência disso, ao menos não fizera nenhum movimento para mudar de posição. Por um momento, apenas por aquele momento fugaz, Lucien se permitiu lembrar-se da sensação da pele nua de Elain sob seus dedos, do gosto de seus lábios, do gosto de seu prazer. Os gemidos da fêmea ainda ecoavam nos ouvidos de Lucien todas as noites, quando se deitava e tudo estava quieto. Tivera apenas aquelas poucas horas com ela, mas foram o suficiente para marcá-lo para sempre.

Apoiou o queixo no topo da cabeça de Elain, e pela Mãe, a parceira se recostou em seu peito, deitando a cabeça em seu ombro. Apesar de si, Lucien ficou tenso. Há décadas não ficava nessa posição com uma fêmea. Há décadas que ele vinha apenas trepando e indo embora, sem nunca se dar ao trabalho de romantizar algo. Desde Jesminda ele... Engoliu em seco, obrigando-se a afastar Jesminda da mente. Não podia se dar ao luxo de evocar as lembranças dela. Não ali, não agora. Haveriam perguntas demais, perguntas das quais ele não se sentia pronto para responder - bem como todas as outras perguntas pessoais demais que Elain lhe fizera nos últimos dias. Sabia que a deixava magoada, mas simplesmente... não queria - não suportaria encarar aqueles olhos de corça e ver o olhar de pena que sempre se seguia à sua história de vida. Preferia continuar do jeito que estava: Elain acreditando que Lucien seria capaz de protegê-la de tudo, de todos. Sabia que seria capaz de fazer qualquer coisa por ela - sentia isso em seus ossos - , mas não estava disposto a arriscar que ela o visse como um macho fraco e incapaz, e invariavelmente acabasse voltando para os braços de Azriel.

O cheiro de jasmim, limão e mel que emanava do cabelo da fêmea o deixava atordoado, despertava em Lucien sensações que, caso se prolongasse por muito tempo, acabaria com o seu juízo e seu autocontrole. Então, apesar de cada músculo de seu corpo protestar contra isso, ele se obrigou a dizer:

- Deveríamos voltar agora, meu bem. Há muita coisa a ser feita, precisamos reforçar as equipes de busca à Tamlin, e recebi um recado de Duncan sobre a invasão humana.

- Certo. - Elain murmurou.

No entanto, nenhum dos dois se moveu. Um sorriso lateral se espalhou no rosto de Lucien, enrugando a cicatriz que lhe cobria o lado esquerdo. Elain se acomodou um pouco mais em seu peito, e o macho suspirou, sentindo aquele cheiro - o cheiro dela agora se misturava ao dele, e toda dúvida e insegurança que pairavam sobre Lucien um momento antes desapareceram quando ele envolveu a cintura de Elain com ambos os braços e a apertou contra si.

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Se sua mãe a visse agora, diria que Elain não passa de uma vadia atirada, permitindo-se não só ficar sentada entre as pernas de um homem - macho, corrigiu-se mentalmente -, como também se aproveitar da sensação dos braços quentes e fortes do dito macho enroscando-se em sua cintura, puxando-a mais contra ele. As costas de Elain estavam completamente coladas ao peito de Lucien, e ela sentia cada respiração dele.

Estavam em um silêncio confortável e, não pela primeira vez, ela pegou-se imaginando como seria realmente aceitar aquela parceria - e tudo o que vinha com isso. Passara tanto tempo sentindo raiva e mágoa pelo que lhe aconteceu, culpando Lucien - culpando qualquer um - por sua perda, que nem ao menos se dera ao trabalho de pensar como seria estar com ele, se poderia ser minimamente parecido com o que Feyre havia encontrado ao lado de Rhysand. A felicidade da família da irmã a havia alimentado com amor, carinho e esperança, mas Elain sentia que chegara a hora de se libertar se suas amarras e deixar-se seguir pelo caminho que o destino trilhara para ela.

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