Capítulo 63

823 75 29
                                    

A confusão que se seguiu ao pronunciamento de Lucien ficou a ponto de transformar-se em uma luta corporal quando Naim recusou-se veementemente a aceitar que Elain ficasse como regente. E embora Elain decididamente não confiasse - nem mesmo gostasse - de Naim, tinha que admitir que parte dela torcia para que o macho vencesse o debate contra Lucien.

Ficara desesperada quando Lucien pronunciara a fatídica decisão. Quem era ela para "tomar conta" de uma corte inteira? Elain estava desnorteada. Queria gritar com Lucien, sacudi-lo pelos ombros e colocar a razão em sua mente, tal como fazia Naim. Ela não era ninguém, pelos céus! No entanto, a parte mais externa de Elain, aquela que fora enraizada em sua alma por sua mãe, a manteve calada. Lucien era seu parceiro - seja lá o que isso significava - e, segundo o que lhe fora ensinado, uma dama jamais questionava os meios, motivos ou decisões de seu companheiro, muito menos na frente de outras pessoas. Então ela se calara e ouvira a discussão dos machos e, quando Lucien estava a ponto de perder a infinita paciência com um muito raivoso Naim, Duncan intervira, dizendo que, se Naim fosse rápido e eficiente em sua busca por Tamlin, Elain não ficaria no poder por muito tempo. Isso acalmou o macho loiro o suficiente para que saísse da biblioteca batendo as portas, bradando que encontraria Tamlin nem que fosse a última coisa que fizesse em vida. Cedric o seguiu, fazendo uma mensura para ela e dando um sorriso lateral gentil e sedutor antes de sair do cômodo.

Lucien tentava recuperar a compostura, passando as mãos pelos cabelos meio presos, meio soltos, enquanto andava de um lado a outro e respirava fundo várias vezes seguidas. Duncan foi até ele e, com um apertão no ombro do companheiro, aproximou a cabeça da orelha pontuda de Lucien para sussurrar algo. Lucien, por sua vez, assentiu, e eles trocaram um breve abraço antes de Duncan deixar a biblioteca, acenando com a cabeça na direção de Elain e fechando as portas duplas atrás de si, deixando-a completamente sozinha com Lucien.

Elain não o encarava. Temia que, se o fizesse, diria todas as coisas que rodopiavam em sua mente. Ele estava insano se achava que ela era a pessoa ideal para tomar conta da Corte Primaveril na ausência de todos os seus representantes. A fêmea segurava as saias cor de salmão com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos, e ela suspeitava que pudesse ter feito alguns rasgos no tecido com suas unhas, tamanha era sua inquietação.

- Desculpe por isso. - Lucien disse por fim. Elain permaneceu em silêncio. - Está chateada?

Quando ela não respondeu novamente, o macho ruivo caminhou apressadamente até seu lado, afastou os fios de cabelo castanho-dourado de seu rosto e acariciou sua bochecha.

- Meu bem, olhe para mim. - Ele pediu. Elain não obedeceu. - Elain...

- Eu não tenho nenhum direito de opinar sobre o assunto? - Ela conseguiu dizer, surpreendendo-se com a mágoa em sua voz.

- O quê...?

- Você simplesmente decidiu tudo e nem sequer perguntou se eu queria... Se eu conseguiria ficar no seu lugar. Achei que você fosse melhor do que isso.

Sem saber como, a fêmea conseguiu se levantar e dar dois passos firmes antes que as mãos de Lucien a puxassem pelo cotovelo e a virassem de frente para ele. A confusão estampada em seu belo rosto fez a confiança de Elain vacilar. Mas Lucien era um macho esperto e rápido, tão logo seus olhos se encontraram o macho percebeu o que havia feito.

- Fiz merda de novo, não foi? - Ele suspirou e fechou os olhos com força. - Desculpe, meu bem. Faz muitos séculos desde que tive um relacionamento de verdade. Às vezes me esqueço como é.

Eles estavam em um relacionamento? Elain queria questionar, mas se deteve.

- Tem que me falar o que quer e o que não quer, amor. - Ele abriu os olhos e a encarou, segurando o queixo de Elain para que ela o olhasse de volta. - Não sou Rhysand, não leio mentes. Não posso adivinhar quando estou fazendo ou dizendo algo que você não gosta. Se não quer ser regente em minha ausência, basta me dizer e encontraremos outro jeito.

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora