Capítulo 22

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O Caldeirão deveria odiá-lo muito. Muito mesmo.

Lucien passara três meses vagando entre as cortes e o continente, buscando desesperadamente ocupar a mente e o corpo e não pensar em tudo o que vivera em apenas uma noite com Elain. Não queria saber de nada que envolvesse as irmãs Archeron ou mesmo a Corte Noturna, por isso tentou se manter o mais imperceptível possível, mesmo que soubesse que, cedo ou tarde, acabariam por encontrá-lo. Ele não se orgulhava de quase ter expulsado Azriel a pontapés da pensão onde estava hospedado cerca de três noites atrás, quando o encantador de sombras apareceu do nada em seu quarto e fez ameaças caso Lucien não se apresentasse à Corte em dois dias. Se as ameaças envolvessem apenas ele, Lucien não teria se importado, mas o maldito espião fora baixo o suficiente para usar a parceira dele como moeda de barganha. Aquele idiota presunçoso.

Então, mal havia chegado em Velaris, sentou-se naquela mesa disposto a adiar o encontro com Feyre - e Elain, por associação - o máximo possível, e aqueles dois machos logo começaram a discutir sobre a quem a mesa pertencia. E ela apareceu, como uma visão. Os cabelos em um dos ombros, o vestido leve revelando muita pele que era deliciosamente banhada pelo Sol, como se nem mesmo ele fosse capaz de resistir a tocá-la. A porcaria da risada de Elain ainda ecoava em seus ouvidos, e a proximidade do corpo dela não ajudava muito a clarear a mente de Lucien.

E agora ela estava sentada à sua frente, os joelhos posicionados entre as pernas de Lucien por baixo da mesa, o encarando como se tivesse algo importante a dizer, mas não soubesse como verbalizar.

- Foi muito boa encerrando a discussão daqueles dois. - Lucien apontou com o queixo na direção de uma das lojas, tentando parecer casual, apesar de querer desesperadamente dar o fora dali.

- Cresci entre Nestha e Feyre. - Elain sorriu docemente, e Lucien a amaldiçoou por isso. - Ou dava um jeito de elas pararem de discutir ou acabariam ateando fogo uma à outra.

Lucien tentou imaginar as três Archeron mais novas, Nestha e Feyre brigando por alguma futilidade enquanto Elain tentava apaziguar a situação. Era uma visão um tanto cômica, e ele quase não conseguiu impedir o sorriso que ameaçou estampar seu rosto. O silêncio predominou novamente, e Lucien desviou o olhar. Olhar para Elain era quase doloroso. Lembrar do beijo que compartilharam, da dor que sentira emanando dela, de ter sido impedido por ela de confortá-la, impedido de sequer ficar perto dela em um momento de fragilidade... Sim, estava com o orgulho ferido, mas também se sentia perdido. Tinha esperança de que um tempo longe dela - longe de qualquer coisa que lembrasse dela - faria o Laço diminuir aquele aperto sobre ele, mas pelo jeito estava enganado, já que apenas sentir o cheiro dela já o deixava desesperado.

Cada vez que ficava perto de Elain, seu respeito por Rhysand crescia. O Grão-Senhor da Corte Noturna era realmente muito forte - de caráter, espírito e vontade - para suportar ficar longe de Feyre em todas aquelas ocasiões; suportar que ela quase se casasse com Tamlin, quando o Laço deveria gritar para ele a toda maldita hora para tomá-la.

- Você sumiu... - Elain disse baixinho, olhando para o centro de mesa redondo que continha um pequeno menu de sobremesas.

- Você me mandou ir embora. - Lucien respondeu, sem conter o amargor na voz.

- Bem, sim... Mas...

- Aqui estão seus refrescos. - O feérico escamoso retornou, trazendo consigo dois copos grandes de algo verde e denso, com uma espuma verde no topo.

- Obrigada, Mipha. Pode colocar na minha conta, por favor. - Elain sorriu para o macho, que pareceu perder a falar diante dela.

Revirando os olhos, Lucien puxou duas moedas do bolso da túnica e entregou ao tal Mipha, que acenou em agradecimento antes de colocar os copos sobre a mesa e deixar os dois a sós novamente. Lucien encarou o refresco com uma careta. O som da risada de Elain encheu seus ouvidos novamente.

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora