Capítulo 30

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Contar de sua partida para a família não foi exatamente fácil, mas não foi nada comparado a Elain ter que explicar para Nuala e Cerridwen o motivo de estar indo com Lucien. Falou com as gêmeas antes mesmo de avisar à família, mas Cerri ficou furiosa, bradando que Elain se arrependeria daquela decisão, que se Lucien morresse, seria um filho de Beron a menos no mundo. Aquela declaração havia deixado o coração de Elain profundamente triste e decepcionado, então ela havia deixado a cozinha sem mais uma única palavra. O café da manhã que se seguiu também não foi animador, para dizer o mínimo.

Elain ainda remoía toda aquela balbúrdia conforme abraçava Feyre, já na soleira da porta de entrada da Casa do Rio. Nestha estava poucos passos atrás, com os braços cruzados e a cara fechada, recusando-se a olhar para as irmãs. Elas ainda não estavam nos melhores termos, mas estavam começando a retomar ao menos um pouco da amizade que as uniu por anos, embora Elain achasse que agora seria ainda mais difícil se reaproximar da irmã mais velha.

- Mantenha-me informada, está bem? - Feyre afagou-lhe os cachos que cobriam as pontas das orelhas. - Se não conseguir se comunicar comigo, tente Rhysand, mas não nos deixe sem notícias.

- Está bem. - Elain tentou parecer confiante, embora suas mãos tremessem tanto que ela quase não conseguia segurar a bolsa de viagem.

Feyre olhou por cima do ombro da fêmea, para Lucien, que aguardava já no jardim.

- Se alguma coisa acontecer com ela... - Disse, em tom ameaçador.

- Você me mata. Eu sei. - O macho retrucou, e Feyre sorriu, dando um passo para o lado e abrindo os braços.

Lucien revirou os olhos, mas caminhou calmamente em direção à Grã-Senhora e curvou-se, tomando Feyre em um abraço apertado.

- Cuide-se você também. - Feyre murmurou. Ele respondeu alguma coisa que Elain não conseguiu ouvir, depois afastou-se e passou a mão no topo da cabeça de Feyre, bagunçando o cabelo, fazendo algumas mechas se soltarem da trança frouxa.

- Babaca! - Ela rugiu, batendo os braços para espantar a mão brincalhona, e Lucien riu em resposta antes de se virar para Elain e ofertar o braço à ela.

- Pronta?

Ela não estava, mas não havia volta agora. Não seria mais uma covarde. Então assentiu e pôs a mão esquerda delicadamente entre a dobra do braço direito de Lucien, que no mesmo instante se inclinou e pegou a pequena bolsa de viagem de suas mãos. Enquanto se afastavam até um local onde o escudo que Rhysand pôs na casa já não surtisse efeito, ela deu tchauzinhos para as irmãs.

A última coisa que viu foi um entremeado de sombras no canto mais afastado da casa, escondendo um par enorme de asas illyrianas, bem como seu dono. Elain sabia que Azriel a estava observando, e uma pontada de culpa a assolou. Dera esperanças à ele, ele as retribuiu; não parecia certo ela estar indo embora com outro macho, para lugares que só o Caldeirão sabia quais seriam. Mas, ao mesmo tempo, Az dera o colar dela para Gwyn. Isso deveria significar alguma coisa, certo? Talvez Elain não fosse tão importante assim para ele - não como parecia ser para Lucien. Por mais que fosse egoísta e mesquinho admitir tal coisa, Graysen tinha razão em algo que falou na noite de seu casamento: Elain gostava mesmo de ser protegida. Se sentir segura e cuidada por alguém era algo que ela prezava muito. Pensando em retrospecto, talvez fosse exatamente isso o que a havia levado a pensar que sentia algo por Azriel: a sensação de segurança que ele fornecia. A epifania veio como uma rajada de vento, jamais fora apaixonada por Az, estava, na verdade, desesperada por proteção.

Olhou de soslaio para Lucien no exato instante em que sentiu que deixavam a proteção do escudo de Rhys. O queixo erguido e o caminhar tranquilo do macho lhe diziam algo que Elain já sabia: ele cuidaria dela, a protegeria. Ela estaria segura em seus braços. Mas também havia algo a mais, um quê de perigo que emanava daquele fogo no olhar e do humor ácido. Ele a protegeria, mas também a levaria aos limites em todos os sentidos possíveis. E ela estava ansiosa por isso.

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