Capítulo 69

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Elain acordou assustada. O suor frio que cobria sua testa estava presente também em suas costas, descendo por sua espinha como uma espécie de aviso conforme sentava-se sobre o colchão macio.

Olhou em volta do quarto escuro, mal iluminado pela Lua Minguante.

Sozinha.

Sim, estava sozinha, mas...

Mas Elain podia jurar que tinha ouvido alguém chamando por ela. Uma voz sombria que era ao mesmo tempo nova e velha, inocente e perigosa. Não sabia se era masculina ou feminina e nem ao menos de onde havia surgido, mas definitivamente chamara por ela.

Chutou as cobertas e pôs os pés para fora da cama. A sensação de perigo iminente deixava todos os seus sentidos em alerta, mas a fêmea sentia-se fisicamente incapaz de resistir ao chamado. Um pé descalço após o outro, caminhou até a janela, afastou levemente as cortinas de seda e olhou para fora, para os jardins escuros e pacíficos da Corte Primaveril - ou não tão pacíficos assim, se confiasse no que Feyre havia lhe dito sobre o local uma eternidade antes.

O jardim estava totalmente deserto. Exceto... Exceto por uma figura alta, com uma capa escura e puída que parecia flutuar ao redor de seus pés. Um capuz lhe cobria a face, mas Elain sabia - sentia em seus ossos - que o que quer que fosse aquela coisa, estava olhando diretamente para ela.

Outro arrepio lhe percorreu a espinha quando a fêmea ouviu novamente aquela voz, que era ao mesmo tempo assustadora e calmante conforme exigia sua presença. Incapaz de fazer qualquer outra coisa senão obedecer, ela caminhou até a porta e a abriu, saindo para o corredor parcamente iluminado. Ao descer o corredor, algo próximo a uma das cortinas lhe chamou a atenção, e Elain podia jurar que viu as sombras dançando por ali. Mas não tinha tempo para pensar nisso agora, precisava encontrar aquela coisa que chamava por ela tão avidamente. Fez uma nota mental para repassar isso em sua mente mais tarde e seguiu seu caminho, tão silenciosamente quanto as gêmeas meio-espectro lhe ensinaram na Corte Noturna.

Seguiu adiante e adiante e adiante, até finalmente estar do lado de fora da Mansão Primaveril, a grama suave roçando seus dedos descalços e a brisa de primavera acariciando sua pele mesmo através da camisola de cetim que usava. A figura encapuzada estava alguns metros à frente, e não fez menção de mover nenhum músculo conforme Elain seguia diretamente até ela e parava imediatamente à sua frente.

A fêmea reprimiu um suspiro assustado quando a figura enorme ergueu a cabeça e olhou diretamente para ela com aqueles olhos que não estavam lá. A pele era tão pálida que era quase translúcida, os lábios e o nariz há muito deixado de existir. A criatura era praticamente uma caveira ambulante, mas Elain teve certeza que de, fosse o que fosse, a criatura poderia esmagá-la como um inseto, se assim desejasse.

No entanto, para surpresa de Elain, a criatura que praticamente ordenara que se juntasse a ela apoiou um dos joelhos no chão, a capa esfarrapada estendendo-se e cobrindo de preto a grama verde, pôs a mão direita sobre o coração - que talvez nem sequer batesse - e lhe disse, com aquela voz de um milhão de pessoas ao mesmo tempo:

- Minha Rainha, que bom que finalmente ouviu nosso chamado.

• • •「🌸 🔥」• • •

- Devo satisfazer minha fome, de um jeito ou de outro.

Aquele rosnado ecoava na mente de Lucien, os pensamentos seguindo em um ritmo frenético enquanto ele assimilava o aviso de Elain com a cena que ocorria à sua frente. Eris, no entanto, estava totalmente alheio ao perigo que corria e continuava a agir com toda a arrogância que sempre possuía.

- Ora, não se sinta acanhado por minha causa. - O mais velho dos Vanserra gesticulou para as pilhas de corpos em diferentes níveis de decomposição que jaziam jogados naquela sala.

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