O coração de Elain martelava em seu peito, mas algo naquela voz sussurrante acalmava a agitação que sentia. Uma estranha mistura de medo e curiosidade tomou conta dela enquanto encarava o ser encapuzado ajoelhado diante dela.
- Quem... quem é você? - Elain perguntou, sua voz trêmula ecoando no silêncio da noite. A figura não respondeu imediatamente, mas ergueu lentamente a cabeça, revelando sombras profundas onde os olhos deveriam estar. Ela sentiu-se estranhamente enfeitiçada por aquela escuridão, como se visse além das aparências físicas da criatura.
- Sou um Suriel, minha Rainha. - A voz ecoou em sua mente, envolvendo-a como uma melodia mística. Elain piscou, tentando processar a revelação. Um Suriel? O ser que normalmente era associado a visões e profecias?
- Por que me chamou? O que você quer de mim? - Elain indagou, sentindo a presença do Suriel se intensificar ao seu redor. A capa escura ondulava como sombras dançantes, e ela podia jurar que as flores próximas se inclinavam em reverência.
- Minha Rainha, você é a guardiã dos segredos perdidos, a detentora de verdades enterradas sob as raízes da primavera.
Elain franziu a testa, tentando compreender a magnitude das palavras proferidas pelo ser encapuzado. Guardiã de segredos e detentora de verdades?
- O que quer dizer com isso? Por que eu? - A fêmea questionou, sentindo o coração acelerar por algo que ela nem mesmo compreendia. - Por que não o Grão-Senhor ou qualquer outro ser que habita essas terras?
O Suriel permaneceu em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras. As sombras ao redor dele pareciam dançar com uma energia misteriosa, e o vento sussurrava segredos inaudíveis.
- Na dança do destino, cada alma carrega um fio, uma trama única entrelaçada no tecido do tempo. A responsabilidade, minha Rainha, não é apenas dos títulos ou coroas que adornam o Grão-Senhor. É da alma, da essência que ecoa nas raízes de cada ser - o Suriel respondeu com voz enigmática, suas palavras carregadas de metáforas.
Elain franzia ainda mais a testa, tentando decifrar as palavras do Suriel. O porquê dela, a simples e pacífica Elain, ser a guardiã de segredos perdidos era um mistério que escapava à sua compreensão.
- O Grão-Senhor é um líder, uma força que governa essas terras. Mas, você, minha Rainha, é a guia das vidas, aquela que caminha pelos reinos esquecidos, onde os segredos brotam como ervas daninhas. Carrega consigo um dom, uma sensibilidade para o oculto, que transcende títulos e hierarquias - o Suriel continuou, suas palavras flutuando como pétalas ao vento.
A confusão de Elain persistia, mas a chama de curiosidade dentro dela queimava cada vez mais intensamente. Aquela conexão com algo maior, algo que transcendia as fronteiras da realidade que conhecia, a envolvia como uma teia mágica.
- Entendo que isso é difícil de aceitar, minha Rainha. Mas é a sua alma que ressoa com os segredos da primavera, e somente você pode desvendá-los. O equilíbrio da Corte Primaveril depende de sua compreensão, da luz que você pode trazer das sombras mais profundas - o Suriel explicou, sua voz perdendo-se como um suspiro no vento.
Elain suspirou, sentindo o peso da responsabilidade que agora repousava sobre seus ombros. A jornada diante dela era obscura e repleta de mistérios, mas algo dentro dela, uma força ancestral, a impelia a aceitar esse papel que a vida reservara. Foi então que uma compreensão súbita a tomou.
- Annia... - O Suriel esperou pacientemente enquanto ela formulava o pensamento. - Ela... Eu sou a reencarnação dela? É por isso que você diz que meu dom vem da minha alma?
O Suriel não respondeu, mas se aquele rosto esquelético tivesse lábios, Elain juraria que ele dera um sorrisinho.
- Ótimo... - Resmungou. - Mas então, se eu sou essa tal guardiã, como Annia, qual o papel de Dener e Lucien nisso tudo?
O Suriel permaneceu diante de Elain, as sombras ao seu redor pareciam intensificar-se enquanto a Lua lançava seus raios sobre aquele momento de revelações.
- Dener é a sombra do passado, uma vida que ecoa na existência de Lucien. Assim como Annia é a sua sombra. Ambos carregam consigo os vestígios das eras passadas. Dener, no seu parceiro, é uma parte do equilíbrio, uma faceta que se entrelaça com a sua história - o Suriel disse, suas palavras mais uma vez envoltas em mistério.
Ela sentiu um arrepio ao ouvir os nomes de suas vidas passadas, e a ideia de que ela e Lucien estiveram ligados através das eras a intrigava.
- Lucien... ele também é parte dessa... dança do destino? - Elain questionou, os olhos buscando respostas nas sombras que encobriam o rosto do Suriel.
- Lucien é o tecelão dos dias presentes, o elo que une as eras. Ele é a luz que guia seu caminho nas trevas, uma chama que ilumina os dias mais sombrios. Mesmo as flores mais fortes e resistentes precisam da luz do sol, pois ela é um farol nos dias mais sombrios - o Suriel respondeu, suas palavras mais uma vez carregadas de significado oculto.
Elain se viu imersa em pensamentos, tentando desvendar o que essas palavras enigmáticas significavam para sua jornada. A conexão entre ela, Lucien, Dener e Annia parecia formar uma teia complexa de destinos entrelaçados.
- O que devo fazer agora? - A fêmea indagou, sentindo o peso da responsabilidade sobre ela.
O Suriel olhou-a com seus olhos sombrios, e novamente, a sensação de estar diante de algo mais antigo que o tempo a envolveu.
- Siga as pistas que a primavera lhe revelará, minha Rainha. Desvende os enigmas nas raízes mais profundas. A câmara oculta aguarda, e sua jornada apenas começou. Não tema o desconhecido, pois a luz que você carrega iluminará até mesmo as sombras mais densas - as palavras do Suriel flutuaram como notas suaves no ar.
Elain, decidida a aceitar seu destino, assentiu. A compreensão de seu papel como guardiã dos segredos perdidos e detentora das verdades enterradas era um fardo, mas também uma dádiva.
- Vá, minha Rainha, e que as estrelas guiem seus passos - disse o Suriel, e com um último olhar enigmático, desvaneceu-se nas sombras, deixando Elain sozinha sob a luz pálida da Lua, com a promessa de descobertas além do véu do tempo.
Ela não conseguiu voltar para a mansão, no entanto. Estava confusa, preocupada. Sentia-se perdida e sozinha. E, pela primeira vez, se via obrigada a admitir que desejava o conforto dos braços calorosos do seu parceiro. Orava à Mãe para que Lucien estivesse bem e que voltasse logo. Precisava compartilhar com ele aquele encontro estranho e saber o que o macho acharia daquilo tudo. Precisava, mais do que qualquer outra coisa, da sabedoria e da orientação que ela sabia que apenas ele poderia dar. Sem julgamentos, sem ressalvas, apenas sendo eles mesmos tentando se encaixar em um mundo que não lhes dava um lugar.
Com passos lentos, Elain começou a retornar à mansão, seu coração ainda pulsando com a energia da descoberta. Cada passo era acompanhado pela sensação de um peso recém-descoberto em seus ombros, mas ela se sentia determinada a enfrentar o desconhecido que aguardava. As estrelas, testemunhas silenciosas de seu encontro com o Suriel, guiavam seus passos na noite.
Ao entrar na mansão, Elain sentiu novamente a dor da ausência de Lucien e, por um momento, uma pontada de preocupação a invadiu. No entanto, a lembrança das palavras do Suriel a tranquilizou, e ela soube que a jornada que se desenrolava estava além do entendimento imediato de seu parceiro.
Subiu as escadas silenciosamente, guiada pela Lua que lançava sua luz suave pelos corredores. Seu quarto estava vazio, mas ela sentiu a presença de Lucien pairando no ar, uma conexão que transcendia a distância física. O coração do macho pulsava ritmicamente em seus ouvidos.
Deitou-se na cama e tentou se concentrar apenas naquele som. O tum-tum constante e regular a embalou suavemente de volta ao sono, até que toda aquela conversa estranha ficasse escondida do recôndito de sua mente, como o eco de um sonho distante.
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Corte de Flores Flamejantes
Fiksi Penggemar"Havia fogo por toda parte. E em meio a todo aquele fogo... Ele. Elain não conseguia se mover. Não conseguia gritar. Não conseguia avisar Lucien para que corresse, para que se salvasse. Ele morreria, ela sabia disso. Sentia em seus ossos. Sentia...