Capítulo 60

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Lucien gemeu ao se revirar na cama, uma pontada de dor atingindo a parte inferior do abdômen. Mesmo assim, obrigou-se a virar de lado quando sentiu o calor de outro corpo próximo ao seu. Uma mão pequena estava pousada relaxadamente sobre seu peito - mais precisamente sobre onde seu coração batia - e sua própria mão direita a encimou, traçando um caminho pelo braço delicado, chegando ao ombro exposto e pousando no pescoço esguio. O quarto estava um completo breu, escondido pela noite sem luar, mas ele não precisava ver para distingui-la.

Ah, minha Elain, pensou. O que está fazendo aqui, meu bem?

Pouco a pouco, enquanto a consciência tomava forma, o macho se lembrava dos acontecimentos do dia, desde a "briga" com Elain até a hora em que apagou sobre aquela mesa do lado de fora da Mansão Primaveril. A última lembrança que tinha era do rosto de Elain, ruborizado ao expor seu tronco ferido. Gostava de vê-la corar, gostava ainda mais quando isso ocorria devido à sua mera aparência física; não entenda mal, Lucien sabia que era um macho bonito apesar da cicatriz, mas a beleza de Elain era tamanha que tornava qualquer outra coisa insignificante quando se comparada a ela, e Lucien sentia seu ego inflar com a consciência de que ela achava ele bonito.

Temendo acordá-la de um sono tão pacífico, Lucien guardou seus pensamentos para si e, cautelosamente, saiu da cama. Encaminhou-se às cegas para o banheiro adjacente ao quarto, seus pés sabendo o caminho de cór. Na segurança do cômodo, acendeu uma pequena chama com sua magia e examinou os ferimentos recentes. Não estava tão ruim quanto pensara de início. Sua fêmea fez um ótimo trabalho com aquele cataplasma fedorento e as ataduras. De fato, os buracos causados pelas flechas de freixo já estavam começando a fechar nas bordas. Satisfeito e grato ao Caldeirão, Lucien avaliou então o estado de suas vestimentas. Ainda usava a calça que havia posto cedo pela manhã, embora agora ela não passasse de farrapos. Removendo a peça, Lucien tratou de cuidar de suas necessidades fisiológicas e de sua higiene pessoal. Sem disposição para esperar a banheira encher, lavou-se o melhor que pôde na pia de porcelana, usando um copo e um pano úmido para remover o sangue seco do corpo e do cabelo ruivo. Por um segundo, quase voltou à cama da forma como estava, completamente nu, antes de lembrar-se que Elain estava lá. Não queria constrangê-la, então buscou por uma de suas calças de pijama que estavam jogadas pelo banheiro e a vestiu, o cós caindo baixo em seu quadril. Sem pensar mais, o macho apagou a chama que mantinha acesa e se encaminhou para o calor de sua cama e sua parceira novamente.

Tentou fazer o mínimo de movimentos possível, no entanto, Elain acordou assim que seu corpo afundou no colchão.

- Lucien? - Sua voz soou deliciosamente sonolenta e preocupada. - Está tudo bem? Está com dor?

Lucien sentiu o corpo pequeno pairando acima de si na escuridão, e uma mão acolhedora pousou em sua testa, escorregando para a bochecha.

- Estou bem. - Ele segurou aquela mão em seu rosto por um segundo a mais do que o necessário, saboreando aquele prazer desconhecido.

Elain deixou-se cair no colchão novamente com um suspiro visivelmente cansado.

- Volte a dormir, meu bem. Foi um longo dia.

- Eu deveria ir para o meu quarto... - A voz dela soou indecisa. - Não tinha intenção de adormecer aqui, peço desculpas. Mas...

Lucien aguardou em silêncio que Elain completasse a frase, mas quando ela não o fez, o macho a incitou.

- Mas...?

Ela permaneceu em silêncio, e Lucien supôs que não obteria sua resposta. Quando estava prestes a tentar mudar o assunto, Elain o respondeu.

- Mas, por algum motivo, eu fui simplesmente incapaz de deixar você. Nem pensei no que estava fazendo, apenas me deitei aqui e fiquei velando por você, embora em algum momento o sono tenha me alcançado. - Elain falava rápido, como se estivesse nervosa, e Lucien podia senti-la se remexendo em seus lençóis, o farfalhar suave estranhamente reconfortante. - Espero que me perdoe pela ousadia.

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora