Lucien gemeu ao se revirar na cama, uma pontada de dor atingindo a parte inferior do abdômen. Mesmo assim, obrigou-se a virar de lado quando sentiu o calor de outro corpo próximo ao seu. Uma mão pequena estava pousada relaxadamente sobre seu peito - mais precisamente sobre onde seu coração batia - e sua própria mão direita a encimou, traçando um caminho pelo braço delicado, chegando ao ombro exposto e pousando no pescoço esguio. O quarto estava um completo breu, escondido pela noite sem luar, mas ele não precisava ver para distingui-la.
Ah, minha Elain, pensou. O que está fazendo aqui, meu bem?
Pouco a pouco, enquanto a consciência tomava forma, o macho se lembrava dos acontecimentos do dia, desde a "briga" com Elain até a hora em que apagou sobre aquela mesa do lado de fora da Mansão Primaveril. A última lembrança que tinha era do rosto de Elain, ruborizado ao expor seu tronco ferido. Gostava de vê-la corar, gostava ainda mais quando isso ocorria devido à sua mera aparência física; não entenda mal, Lucien sabia que era um macho bonito apesar da cicatriz, mas a beleza de Elain era tamanha que tornava qualquer outra coisa insignificante quando se comparada a ela, e Lucien sentia seu ego inflar com a consciência de que ela achava ele bonito.
Temendo acordá-la de um sono tão pacífico, Lucien guardou seus pensamentos para si e, cautelosamente, saiu da cama. Encaminhou-se às cegas para o banheiro adjacente ao quarto, seus pés sabendo o caminho de cór. Na segurança do cômodo, acendeu uma pequena chama com sua magia e examinou os ferimentos recentes. Não estava tão ruim quanto pensara de início. Sua fêmea fez um ótimo trabalho com aquele cataplasma fedorento e as ataduras. De fato, os buracos causados pelas flechas de freixo já estavam começando a fechar nas bordas. Satisfeito e grato ao Caldeirão, Lucien avaliou então o estado de suas vestimentas. Ainda usava a calça que havia posto cedo pela manhã, embora agora ela não passasse de farrapos. Removendo a peça, Lucien tratou de cuidar de suas necessidades fisiológicas e de sua higiene pessoal. Sem disposição para esperar a banheira encher, lavou-se o melhor que pôde na pia de porcelana, usando um copo e um pano úmido para remover o sangue seco do corpo e do cabelo ruivo. Por um segundo, quase voltou à cama da forma como estava, completamente nu, antes de lembrar-se que Elain estava lá. Não queria constrangê-la, então buscou por uma de suas calças de pijama que estavam jogadas pelo banheiro e a vestiu, o cós caindo baixo em seu quadril. Sem pensar mais, o macho apagou a chama que mantinha acesa e se encaminhou para o calor de sua cama e sua parceira novamente.
Tentou fazer o mínimo de movimentos possível, no entanto, Elain acordou assim que seu corpo afundou no colchão.
- Lucien? - Sua voz soou deliciosamente sonolenta e preocupada. - Está tudo bem? Está com dor?
Lucien sentiu o corpo pequeno pairando acima de si na escuridão, e uma mão acolhedora pousou em sua testa, escorregando para a bochecha.
- Estou bem. - Ele segurou aquela mão em seu rosto por um segundo a mais do que o necessário, saboreando aquele prazer desconhecido.
Elain deixou-se cair no colchão novamente com um suspiro visivelmente cansado.
- Volte a dormir, meu bem. Foi um longo dia.
- Eu deveria ir para o meu quarto... - A voz dela soou indecisa. - Não tinha intenção de adormecer aqui, peço desculpas. Mas...
Lucien aguardou em silêncio que Elain completasse a frase, mas quando ela não o fez, o macho a incitou.
- Mas...?
Ela permaneceu em silêncio, e Lucien supôs que não obteria sua resposta. Quando estava prestes a tentar mudar o assunto, Elain o respondeu.
- Mas, por algum motivo, eu fui simplesmente incapaz de deixar você. Nem pensei no que estava fazendo, apenas me deitei aqui e fiquei velando por você, embora em algum momento o sono tenha me alcançado. - Elain falava rápido, como se estivesse nervosa, e Lucien podia senti-la se remexendo em seus lençóis, o farfalhar suave estranhamente reconfortante. - Espero que me perdoe pela ousadia.
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Corte de Flores Flamejantes
Fanfiction"Havia fogo por toda parte. E em meio a todo aquele fogo... Ele. Elain não conseguia se mover. Não conseguia gritar. Não conseguia avisar Lucien para que corresse, para que se salvasse. Ele morreria, ela sabia disso. Sentia em seus ossos. Sentia...