Assim que entraram na cela vazia, a grossa porta de metal fechou-se atrás de Lucien e Melinda, deixando-os sob uma escuridão tão densa que era quase palpável, fazendo-no lembrar estranhamente da vez em que atravessara junto de Rhysand, tanto tempo antes, quando partiu para procurar por Vassa.
O momento de breu foi fugaz, no entanto. Tão logo Melinda certificou-se de que estavam seguros, uma pequena bola de fogo surgiu no canto mais afastado da cela, iluminando-os apenas o suficiente para que pudessem encarar um ao outro na cela diminuta.
Lucien encarou sua mãe, por um curto segundo estranhando o fato de ser - agora - mais alto que a pessoa que deu a luz a ele. Os pensamentos de Melinda pareciam estar indo no mesmo rumo, pois ela deu um amplo sorriso ao pôr as duas mãos nos ombros de Lucien e proferir:
- Deixe-me dar uma boa olhada em você. Quando ficou tão alto assim?
O ruivo não conseguiu impedir o sorriso que cresceu em seu rosto. Mas a mãe não lhe deu tempo para responder, envolvendo-o em um abraço caloroso. Ele nem precisou pensar no que estava fazendo, apenas envolveu os braços ao redor da fêmea e a abraçou tão apertado quanto conseguiu sem machucá-la. Não conseguia se lembrar da última vez em que estivera em um local seguro, e o abraço de sua mãe era definitivamente o lugar mais seguro do mundo, não importava quantos anos tinha ou quanto tempo tinham passado longe um do outro. A mãe tinha o mesmo cheiro que ele se lembrava - um misto de lírios silvestres e maçãs maduras - era cheiro de casa.
Afastando-se, Melinda colocou as mãos no rosto de Lucien, os olhos marejados.
- Você é tão bonito, meu bebê. É tão bom ver você de novo.
- É bom ver você também, mamãe. - Lucien respondeu, tentando conter a emoção. - Como estão as coisas por aqui?
Melinda fez um muxoxo e afastou-se, virando-se brevemente para se sentar em um banquinho junto à parede à esquerda da porta e ocupando as mãos ajeitando as saias da camisola branca até que ficassem impecavelmente arrumadas em volta de suas pernas e do banco de madeira. As memórias ainda o assolavam; Lucien conhecia essa postura: quando não queria que soubesse que Beron havia batido nela, Melinda sempre dava as costas a Lucien e ocupava-se sentando em algum lugar e ajeitando as vestes, evitando olhar para o filho para que ele não visse o que quer que houvesse em seus olhos.
- Não viemos aqui para falar de mim. - Melinda respondeu finalmente, passando os longos cabelos cor de fogo sobre o ombro direito para que não sujasse na parede imunda. - Quero ouvir de você. Você tem uma parceira! Isso é incrível!
- Ah, sim, incrível. - Lucien não conseguiu conter o sarcasmo na voz, encostando-se na porta fechada.
Melinda estreitou os olhos cor de âmbar.
- Conte-me.
Lucien não queria contar. Não queria se abrir. Nem mesmo sabia como fazer aquilo. Estava tão acostumado a guardar as coisas para si mesmo, a enterrar toda a dor, mágoa e angústias para si, que era estranho para ele que alguém no mundo se preocupasse com seu bem-estar - mesmo que esse alguém fosse sua própria mãe. Então, obviamente, o ruivo ficou na defensiva. Cruzou os braços no peito e falou com mais aspereza do que talvez pretendesse.
- Me chamou até aqui, correndo risco de sermos punidos por Beron, talvez até acusados de traição, para perguntar sobre minha vida amorosa? Não sabia que tinha se rebaixado a mexericos.
Mesmo na semipenumbra, Lucien pôde ver as narinas de sua mãe dilatando-se, o rosto ficando vermelho de raiva. Mas, sendo a dama que era, Melinda apenas baixou a voz e o repreendeu.
- Sugiro que reveja os modos como fala comigo. Ainda sou a Senhora desta Corte e, se não se esqueceu, sou sua mãe. Respeite-me.
Apesar de ser mais alto e mais forte do que a fêmea de aparência frágil sentada diante de si, Lucien sentiu um arrepio gelado percorrer-lhe a espinha. Melinda tinha razão, é claro. E, em um segundo, soube colocá-lo novamente em seu devido lugar. Lucien sentiu-se estupidamente como uma criança sendo repreendida por sua falta de educação.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Corte de Flores Flamejantes
Fanfiction"Havia fogo por toda parte. E em meio a todo aquele fogo... Ele. Elain não conseguia se mover. Não conseguia gritar. Não conseguia avisar Lucien para que corresse, para que se salvasse. Ele morreria, ela sabia disso. Sentia em seus ossos. Sentia...