Capítulo 67

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Assim que entraram na cela vazia, a grossa porta de metal fechou-se atrás de Lucien e Melinda, deixando-os sob uma escuridão tão densa que era quase palpável, fazendo-no lembrar estranhamente da vez em que atravessara junto de Rhysand, tanto tempo antes, quando partiu para procurar por Vassa.

O momento de breu foi fugaz, no entanto. Tão logo Melinda certificou-se de que estavam seguros, uma pequena bola de fogo surgiu no canto mais afastado da cela, iluminando-os apenas o suficiente para que pudessem encarar um ao outro na cela diminuta.

Lucien encarou sua mãe, por um curto segundo estranhando o fato de ser - agora - mais alto que a pessoa que deu a luz a ele. Os pensamentos de Melinda pareciam estar indo no mesmo rumo, pois ela deu um amplo sorriso ao pôr as duas mãos nos ombros de Lucien e proferir:

- Deixe-me dar uma boa olhada em você. Quando ficou tão alto assim?

O ruivo não conseguiu impedir o sorriso que cresceu em seu rosto. Mas a mãe não lhe deu tempo para responder, envolvendo-o em um abraço caloroso. Ele nem precisou pensar no que estava fazendo, apenas envolveu os braços ao redor da fêmea e a abraçou tão apertado quanto conseguiu sem machucá-la. Não conseguia se lembrar da última vez em que estivera em um local seguro, e o abraço de sua mãe era definitivamente o lugar mais seguro do mundo, não importava quantos anos tinha ou quanto tempo tinham passado longe um do outro. A mãe tinha o mesmo cheiro que ele se lembrava - um misto de lírios silvestres e maçãs maduras - era cheiro de casa.

Afastando-se, Melinda colocou as mãos no rosto de Lucien, os olhos marejados.

- Você é tão bonito, meu bebê. É tão bom ver você de novo.

- É bom ver você também, mamãe. - Lucien respondeu, tentando conter a emoção. - Como estão as coisas por aqui?

Melinda fez um muxoxo e afastou-se, virando-se brevemente para se sentar em um banquinho junto à parede à esquerda da porta e ocupando as mãos ajeitando as saias da camisola branca até que ficassem impecavelmente arrumadas em volta de suas pernas e do banco de madeira. As memórias ainda o assolavam; Lucien conhecia essa postura: quando não queria que soubesse que Beron havia batido nela, Melinda sempre dava as costas a Lucien e ocupava-se sentando em algum lugar e ajeitando as vestes, evitando olhar para o filho para que ele não visse o que quer que houvesse em seus olhos.

- Não viemos aqui para falar de mim. - Melinda respondeu finalmente, passando os longos cabelos cor de fogo sobre o ombro direito para que não sujasse na parede imunda. - Quero ouvir de você. Você tem uma parceira! Isso é incrível!

- Ah, sim, incrível. - Lucien não conseguiu conter o sarcasmo na voz, encostando-se na porta fechada.

Melinda estreitou os olhos cor de âmbar.

- Conte-me.

Lucien não queria contar. Não queria se abrir. Nem mesmo sabia como fazer aquilo. Estava tão acostumado a guardar as coisas para si mesmo, a enterrar toda a dor, mágoa e angústias para si, que era estranho para ele que alguém no mundo se preocupasse com seu bem-estar - mesmo que esse alguém fosse sua própria mãe. Então, obviamente, o ruivo ficou na defensiva. Cruzou os braços no peito e falou com mais aspereza do que talvez pretendesse.

- Me chamou até aqui, correndo risco de sermos punidos por Beron, talvez até acusados de traição, para perguntar sobre minha vida amorosa? Não sabia que tinha se rebaixado a mexericos.

Mesmo na semipenumbra, Lucien pôde ver as narinas de sua mãe dilatando-se, o rosto ficando vermelho de raiva. Mas, sendo a dama que era, Melinda apenas baixou a voz e o repreendeu.

- Sugiro que reveja os modos como fala comigo. Ainda sou a Senhora desta Corte e, se não se esqueceu, sou sua mãe. Respeite-me.

Apesar de ser mais alto e mais forte do que a fêmea de aparência frágil sentada diante de si, Lucien sentiu um arrepio gelado percorrer-lhe a espinha. Melinda tinha razão, é claro. E, em um segundo, soube colocá-lo novamente em seu devido lugar. Lucien sentiu-se estupidamente como uma criança sendo repreendida por sua falta de educação.

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