Capítulo 50

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Elain caminhava de um lado a outro no hall de entrada da Mansão do Grão-Senhor Primaveril desde que chegara. Estava curiosa e receosa pelo motivo da presença furtiva de Eris mas, acima de tudo, estava preocupada com Lucien. A reação do macho ao ver o irmão foi tão instantânea que Elain mal teve tempo de absorver o que estava acontecendo - seu parceiro esticara o braço direito e a puxara para trás de si, protegendo-a ao mesmo tempo que o poder de puro fogo emanava dele; era lindo - e letal, e Elain não entendia o porquê aquilo a excitara.

Já havia se passado um quarto de hora desde que ela chegara em casa. Aqueles que passavam por ela a olhavam como se estivesse ficando louca - novamente -, mas não se aproximavam nem falavam com ela. Então Elain permaneceu ali, retorcendo as mãos, esperando.

E esperando.

E esperando.

E esperando.

O Sol parco da manhã se elevou mais no céu, e nenhum sinal de Lucien. Elain tinha a vaga lembrança de alguém falando com ela, talvez perguntando sobre o almoço, mas não registrara realmente o que estava sendo dito. Os olhos castanhos permaneciam fixados nas imensas portas duplas abertas ou, quando ela voltava para a parte de trás da Mansão, nas portas de vidro que davam para os jardins de rosa pelo qual haviam saído naquela manhã. Céus, parecia ter sido há uma era atrás. Onde estava Lucien? Será que Eris fez algum mal à ele? Deveria avisar alguém, pedir por ajuda? Clamar que encontrassem Lucien? Mas, e se ele estivesse ferido, ou pior, morto, será que ela seria capaz de lidar com aquilo? As perguntas giravam e giravam e giravam em sua mente inquieta e imaginativa.

O dia se transformou em noite. As pessoas começaram a se recolher, os que voltaram a seus cargos oficiais antes de Feyre recolheram-se para seus aposentos, e aqueles que estavam apenas aguardando novas ordens - em sua maioria sentinelas de Cedric - se aquietaram em suas barracas no átrio da Mansão. Elain não sabia a quanto tempo estava parada, encarando aquelas rosas que havia podado nas semanas anteriores, quando um toque em seu ombro a sobressaltou.

Virando-se na esperança de encontrar Lucien, a fêmea deu de cara com Alis, que assumira o papel de governanta da casa a pedido de Elain, endossado por Lucien.

- Já está tarde, você precisa descansar.

- Lucien já voltou? - Sua voz estava rouca, a garganta seca, e ela se surpreendeu por conseguir falar tão claramente.

- Ainda não. - Os olhos de Alis estavam duros, mas as sobrancelhas se franziram com pena de Elain quando acrescentou: - Sei que não ajuda muito, mas não é a primeira vez que Lucien passa a noite fora, menina. Ele sabe se virar nos bosques e conhece essa Corte tão bem quanto o próprio Grão-Senhor.

- Tem razão, não ajuda. - Elain baixou os olhos e abraçou o próprio corpo. - Eu só... - Suspirou. - Ele podia ao menos ter avisado que não voltaria para casa.

Aquela não era realmente a casa dela, não havia um lugar para ela no mundo, pensou amargamente.

- Vamos... - Alis sorriu com ternura. - Vou preparar um banho para você e ajudá-la a se preparar para dormir.

Elain se viu incapaz de negar algo à Alis quando ela a olhava como se a conhecesse por dentro, então, mesmo com cada fibra de seu ser implorando para encontrar o parceiro, ela deixou-se envolver no abraço de casca de árvore da fêmea e, juntas, subiram a infinidade de degraus que levavam ao quarto de Elain.

Era um cômodo grande, com um espaço adjacente que servia como banheiro, uma enorme cama com dossel dava de frente para a porta, mas Elain foi diretamente para a janela, cuja vista dava para a parte de trás dos jardins. Podia ouvir os sons de Alis preparando seu banho enquanto encarava a escuridão lá fora. Não se sentia tão vazia desde que saíram da Corte Noturna, quase cinco meses atrás. Mesmo que lhe custasse admitir, havia algo de reconfortante em saber que o calor de Lucien estava a poucos metros dela, mesmo quando estavam sem se falar, e ainda mais agora que começaram a se conhecer melhor. Céus, ela até mesmo experimentara coelhos recheados com abacate, só porque era o prato favorito de Lucien - era nojento, mas a expressão de contentamento do parceiro fez um calor subir por seu ventre e queimar suas bochechas mesmo enquanto mastigava aquela carne rançosa. Ele não compartilhava muitas coisas sobre a família ou nada muito pessoal, mas parecia ficar contente sempre que Elain compartilhava suas histórias.

Alis apareceu e, em silêncio, a guiou para o banheiro. Elain se despiu sem pudor, já estava acostumada a ter uma criada para ajudar com essas coisas, embora isso tivesse sido anos atrás. Erguendo um pé após o outro, encontrou a água perfeitamente quente. Os sais de banho que Alis espalhara formavam uma espuma que abraçou seu corpo conforme a fêmea se abaixava até sentar na porcelana. Imediatamente, sentiu uma corrente de água morna caindo por seus cabelos e os dedos ágeis e inesperadamente delicados de Alis encontraram seu couro cabeludo.

Permaneceram em silêncio enquanto Elain gradativamente relaxava, os toques suaves de Alis parecendo fazer algum tipo de mágica com ela - o que provavelmente era verdade. Quando a água já havia esfriado, Alis enrolou-a em um roupão leve de algodão branco e sentou-a em frente à penteadeira, trançando seus cabelos ainda molhados.

- Você é mais mansa que Feyre jamais foi. - Alis riu.

- Não sei até que ponto isso é uma coisa boa. - Sorriu docemente.

- Ah, menina, não fique se comparando a outras pessoas. Você tem seu jeito, e está tudo bem. Todos aqui adoraram Feyre por quem ela era, e todos aqui adoram você pelo que você é.

Elain baixou os olhos. Não era forte e corajosa como as irmãs. Não, ela era calma e compassiva. "Mansa". Era um atributo que lhe servira muito bem quando era humana, quando era uma dama, quando era noiva de Greysen. Mas ali, naquelas terras feéricas cheias de perigos e tramas e pessoas ardilosas? Era uma tola inútil. Se fosse corajosa como Nestha ou forte como Feyre, teria ficado ao lado de Lucien e encarado Eris com ele. Agora sabe-se lá onde o parceiro estava, ou sequer se estava bem.

Tola mansa e inútil.

- Agora, tente descansar, está bem? - Alis finalizou a trança em seu cabelo, deixando os fios castanho-dourados entrelaçados nas costas de Elain. - Volto amanhã cedo para remover esta trança e finalizar os belos cachos que resultarão disso.

- Por favor, peça para me avisarem assim que Lucien retornar, não importa a que horas seja isso.

Com um sorriso gentil e um aceno em concordância, Alis a deixou sozinha.

Mas Elain era incapaz de descansar. Revirou-se nos lençóis e, incapaz de dormir, puxou a cadeira de madeira da penteadeira e a colocou de frente para a janela. Vigiaria a noite inteira, se fosse preciso, até saber que Lucien estava bem.

E foi o que aconteceu. Quando a noite se transformou em dia novamente, Elain não havia pregado os olhos, e Lucien não havia retornado.

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