Capítulo 55

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A enorme mesa de carvalho do igualmente enorme salão de jantar estava posta com os mais variados pratos, alguns típicos da Corte Primaveril, outros que poderiam facilmente ser encontrados nos grandes salões Outonais. Os machos emissários banqueteavam-se, tão famintos que quase se esqueceram dos bons modos. Levien, que o Caldeirão o amaldiçoasse, estava conversando com Duncan desde que saíram daquela linda sala de descanso. O macho primaveril estava sentado em uma das cabeceiras da mesa, com Levien à sua direita e Viktor à esquerda. Silas estava um pouco mais para o centro da mesa, imediatamente em frente à Senhorita Archeron, fato que o estava deixando ainda mais nervoso. Lucien ainda não havia aparecido.

A conversa fluía com uma naturalidade forçada; os emissários outonais por certo não estavam acostumados a se sentarem à mesa com meros sentinelas e uma dama de companhia de classe inferior, que ocupavam as demais cadeiras, além de dois outros comandantes fora Duncan: aquele chamado Cedric, e um outro macho com aparência igualmente bela chamado Naim. Este último encarava Viktor com afinco, o que estava contribuindo em muito para o desconforto de Silas. Seu amigo estava calado desde que chegaram, mas não podia culpá-lo. Ele, de fato, não podia falar. Tivera a língua cortada pelo Grão-Senhor Outonal dois dias antes de partirem de suas terras - um castigo e um aviso desnecessário para que os três se mantivessem na linha e cumprissem suas ordens.

Maldito seja Beron, Silas praguejou em sua mente. Ele sabia o que o Grão-Senhor planejava para a parceira de Lucien, e não achava correto. Pelo Caldeirão, já pensava que era errado antes mesmo se conhecer a tão falada Senhorita Archeron, mas depois que a viu... Assim que pôs os olhos naquela pequena criatura, logo que chegaram, não havia sido capaz de olhar para mais nada. Mal conseguira cumprir seu papel, entregando-lhe a carta forjada em meio a uma explicação gaguejante. Não foi culpa dele, no entanto, porque a Senhorita havia direcionado aqueles belos olhos cor de corça diretamente nos dele bem quando estava começando sua explicação. Aqueles olhos o haviam deixado bastante atônito desde que os vira brilhando sob a soleira daquela porta. Então a Senhorita sorriu, fazendo com que o coração de Silas começasse a palpitar como o de uma donzelinha tola. Sua mente não palpitou, no entanto. Não, sua mente simplesmente esvaiu-se de todos os pensamentos, exceto um: ela estava direcionando toda a sua atenção à ele naquele momento. Era a fêmea mais bonita que já havia visto em toda a sua existência. E abençoada fosse, a jovem era gentil e dócil tal qual um filhote de coelho.

Pestanejando, Silas ousou levantar os olhos do próprio prato e lançar um olhar para a fêmea que ocupava seus pensamentos na última hora. A Senhorita Archeron estava conversando com o tal Cedric, mas a mente de Silas simplesmente não absorvia as palavras. Toda sua atenção estava voltada para os lábios dela, pequenos e rosados, tinham um formato peculiar, parecendo um coração. O tal Cedric falou alguma coisa que a Senhorita achou engraçada, pois um suave som de riso escapou daquela boca. Silas queria beijá-la. Queria tomar seu lábio inferior entre os dentes, queria afundar sua língua dentro dela e saborear o doce mel daquela boca. Sua mente era invadida por pensamentos perigosos e pecaminosos, mas não conseguia evitar. Não quando a Senhorita Archeron, ainda sorrindo, voltou os olhos brilhantes para ele novamente. Ela disse alguma coisa, mas os ouvidos de Silas estavam retumbando com sua própria pulsação errante.

Apenas voltou a si quando a mesa inteira pareceu se calar e uma presença imponente entrou na sala de jantar. Olhando para onde todos olhavam, Silas viu que Lucien havia acabado de chegar para se juntar à eles. O macho ocupou a cadeira à direita da cabeceira vazia, e o fato de não ter se sentado na cadeira que, por direito, pertencia ao Grão-Senhor daquela Corte, não passou despercebido por Silas e seus colegas, que se entreolharam. Lucien parecia atônito, atordoado, parecendo não captar exatamente o que estava ao seu redor. Serviu-se de um taça de vinho, que tomou de um gole só antes de se servir novamente, em completo silêncio.

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