Capítulo 64

731 69 17
                                    

Lucien experimentava um novo conceito de "confusão mental" enquanto seu corpo seguia automaticamente, atravessando diretamente para a Mansão dos Exilados, onde combinara de se encontrar com Jurian para debater sobre a invasão humana à Corte Primaveril. Mas tudo o que passava em sua cabeça era o beijo de Elain, o corpo dela apertado contra o seu, as pernas ao redor de sua cintura, os seios pressionados contra seu peito...

"Volte logo para casa", ela pedira. E, pelo Caldeirão, era a primeira vez em que ele realmente tinha para onde voltar.

Seu coração batia descompassado conforme a Mansão dos Exilados aparecia à sua frente, gloriosa em toda a sua ruína. Não se dera conta até então do quanto sentia falta dos amigos, falta de ter com quem conversar sobre suas desventuras. Era bom estar lá, embora não sentisse mais que aquele era seu lugar. Não... Lucien tinha um lar agora, e esse lar tinha lindos olhos cor de corça e um beijo tão doce e suave quanto a voz.

Querendo resolver aquele assunto de uma vez por todas, o macho ruivo caminhou os poucos passos necessários para atingir a porta da frente. O familiar rangido de dobradiças velhas e enferrujadas o saudou quando abriu a porta e deparou com o hall de entrada impessoal e sem qualquer móvel à vista. Dirigiu-se até a sala de estar, contemplando o silêncio do imóvel. Perguntou-se onde estaria Vassa. Ainda estava chateado com ela por ter falado merda para Elain, mas ainda assim... A humana era sua amiga, não se esquecera disso. Com as mãos cruzadas nas costas, Lucien caminhou pelo espaço vazio, observando os sofás gastos e a lareira apagada, que dava um ar estranhamente solitário ao lugar geralmente acolhedor. Com um movimento da mão direita, Lucien criou fogo na lareira, que imediatamente aqueceu o ambiente e iluminou o espaço. Abriu as três janelas duplas e bateu o pó dos sofás e da poltrona antes de sentar-se, o tornozelo direito repousando sobre o joelho esquerdo. Recostou a cabeça no encosto e permitiu que sua mente vagasse novamente em direção ao Norte; em direção à Elain...

O fio do Laço o guiava, mas era mais que isso agora. Havia algo a mais, Lucien podia sentir, embora não pudesse admitir para si mesmo o que era. Aquela criatura pequena, de compleição delicada e voz mansa o pegara de jeito - como diria Jurian. Seria mentira se dissesse que não sentia as familiares borboletas no estômago quando a fêmea o olhava com aquela expressão, um misto de admiração e desejo que faziam suas entranhas se revirarem e um desejo insano de colocar Elain contra a parede e fodê-la até que ela gritasse seu nome, até que seu cheiro estivesse tão enraizado nela que seria impossível distinguir o cheiro dela e o dele - haveria apenas o cheiro deles.

Estava justamente imaginando como seria tê-la cavalgando em seu colo novamente quando ouviu alguém pigarrear próximo a si. Atordoado, Lucien abriu os olhos e deparou-se com Jurian, sentado no puído sofá escuro de três lugares à sua direita, um sorriso sacana nos lábios e provocação nos olhos castanhos.

- Nem começa. - Lucien cortou-o imediatamente, antes que começasse com as provocações.

Jurian, maldito seja, ergueu as duas mãos em sinal de rendição, mas o sorriso maroto continuava em seus lábios.

- Pra um feérico, sua aldição anda péssima. Não me ouviu chegar?

Não, ele não tinha ouvido. Em resposta à provocação do amigo, Lucien apenas ergueu uma sobrancelha e meneou a cabeça.

- Então, por que me chamou aqui? - Jurian foi direto ao assunto. Recostou-se no sofá gasto, os cabelos um pouco mais compridos do que Lucien lembrava-se roçavam no colarinho da camisa engomada.

Com um suspiro, Lucien contou ao humano tudo o que havia ocorrido, desde as pequenas incursões humanas até o ataque direto alguns dias antes. Jurian ouvia tudo com atenção, e seu cenho foi ficando cada vez mais franzido à medida que o ruivo lhe explicava sobre os brasões estampados nas armaduras humanas.

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora