Capítulo 49

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Os pêlos da nuca de Lucien se arrepiaram conforme observava o irmão se aproximar. Uma familiar sensação de pânico se instalando na boca do estômago quando Eris desviou o olhar acobreado para a parceira ao seu lado. Um sorriso ferino se espalhou lentamente por aqueles lábios finos quando o macho sentiu o cheiro deles - o cheiro do que faziam - e a risada zombeteira os alcançou no exato momento em que Lucien se colocou em estado de alerta máximo.

- Acho que cheguei em péssima hora. - Comentou Eris casualmente enquanto ainda se aproximava.

- O que faz aqui, Eris? - Lucien não se preocupou em ser cortês. Não com o irmão, não naquele momento.

Seu olho mecânico vasculhava os arredores em busca de qualquer outra ameaça, qualquer coisa que pudesse pôr a segurança de Elain em risco.

- É assim que trata seu irmão mais velho? O que sua fêmea vai pensar sobre a educação dos Vanserra?

A frase, dita tão casual e suavemente, despertou uma lembrança em Lucien. Uma que nublou sua visão, o fez ranger os dentes e cerrar os punhos. Um dia, há muitas décadas atrás, havia ouvido exatamente a mesma frase. Não de Eris. Não, o desgraçado nem sequer estava lá para testemunhar o que os demais estavam fazendo. Adrian, maldito seja, fizera a mesma pergunta quando Lucien lançara contra ele uma explosão de fogo e luz, na vã tentativa de salvar Jesminda. Isso só servira para que os outros quatro irmãos presentes se irritassem. Eles o circularam, obrigando Jesminda a assistir enquanto Lucien era espancado pelos irmãos mais velhos, lutando debilmente da forma como podia. Quando acharam que havia perdido a graça - afinal, faziam isso há décadas -, voltaram-se para Jesminda e, enquanto dois dos irmãos o seguravam, os demais seguraram a fêmea, que não soltou um único grito. Sua forte, linda e guerreira Jesminda confrontou os oponentes como uma igual e não baixou o queixo. Claro que aquilo só servira para irritar Adrian ainda mais que, com um giro poderoso da espada, arrancou a cabeça da fêmea com um corte limpo. O grito que cortou a garganta de Lucien fora apavorante, e sua visão se tornou um borrão de vermelho quando luz pura eclodiu de seu corpo, lançando os machos que o seguravam alguns metros para trás. Ele correra direto para o pescoço de Adrian, suas mãos e braços em chama viva. Estrangulara o irmão, queimando sua garganta até que a carne soltasse dos ossos antes mesmo que os demais pudessem se recompor do ataque de luz. Fugira em seguida, sabendo muito bem que não poderia lidar com os quatro de uma única vez. Correra e correra e correra, para o único lugar onde poderia encontrar um ponto de apoio, para o único lugar em que sabia que seria bem recebido. Correra e correra até alcançar a Corte Primaveril, até que, por bênção do Caldeirão, encontrasse uma fera imensa com presas afiadas esperando. Apenas Nathanael fora tolo o suficiente para seguir Lucien para as terras Primaveris, e Tamlin acabou com o desgraçado no momento em que pisou em suas terras.

- Apague isso. - A voz de Eris era um murmúrio em meio ao estampido que lhe obstruía a audição. - Lucien, apague isso agora mesmo.

A ordem, dita com toda a soberania que Eris possuía em seu sangue, fez Lucien lembrar-se de uma época em que o macho à sua frente não era sinônimo de inimigo; uma época que parecia ter sido há eras atrás, quando Lucien não passava de uma criança tola, que tinha o mais velho dos irmãos como ídolo. Eris era jovem, forte, imponente; todos o respeitavam. Isso, claro, até Lucien ter idade o suficiente para saber que o que ele imaginava ser respeito, na verdade era temor.

- Pelo Caldeirão, Lucien. - Eris soltou uma risada de escárnio. Os olhos de Lucien brilhavam em vermelho-sangue, os cabelos iluminados como chama eterna crepitavam em seus ombros. - Acha mesmo que pode lutar contra mim? Se eu quisesse mesmo machucá-la, já o teria feito. - Apontou com o queixo na direção de algo que estava imediatamente atrás de Lucien.

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora