Era aquilo. Estava feito. Elain dissera o que havia planejado, embora houvesse lhe custado toda a coragem e força de vontade que conseguira reunir. Tivera que ter ainda mais força de vontade para não pular no pescoço de Lucien e capturar a boca do macho em um beijo ardente e frenético, pois, maldito fosse, ele estava tão... sexy. Ela não pôde deixar de reparar que era a segunda vez em sua vida que usava o adjetivo para descrever alguém, e as duas vezes fora para Lucien.
Mas estava feito. Ela lhe dissera que pretendia retornar à Corte Noturna.
No entanto, agora que as palavras escaparam por sua boca, Elain desejou retirá-las imediatamente.
Lucien não foi capaz de esconder a tempo aquele terrível traço de dor que lhe cruzou o rosto quando Elain proferiu sua decisão, e a falta do toque dele na pele dela a fazia sentir-se estranhamente fria e vazia.
Um longo minuto de silêncio se passou conforme Lucien a encarava nos olhos, testando a veracidade da informação. O peso de seu olhar de fogo era esmagador, e Elain se viu ficando com a respiração mais difícil, as mãos começando a tremer e a suar frio. Não sendo mais capaz de encarar o parceiro, Elain desviou os olhos para as botas de Lucien. Estava terrivelmente ciente de que os aldeões e os criados que vagavam pelos jardins da Mansão Primaveril estavam atentos a cada movimento dos dois, e que a expectativa em cima deles era alta, embora ela não entendesse muito bem o porquê.
- Era só isso que tinha a dizer? - A voz de Lucien soou dura, seca, e Elain instintivamente se encolheu.
Ele jamais havia falado tão rudemente com ela. Isso apenas reforçava que Elain havia tomado a decisão correta. Mas então por que seus olhos estavam se enchendo de lágrimas e sua garganta estava ficando apertada?
Incapaz de falar sem cair em prantos, a fêmea apenas balançou a cabeça afirmativamente, sem levantar os olhos uma única vez.
Ela estava confusa. Talvez mais do que jamais estivera em toda sua vida. Se Lucien não queria que ela fizesse parte da vida dele, então por que se dera ao trabalho de tentar fazê-la aceitar a parceria durante todos esses anos? Por que se dar ao trabalho de seduzi-la? E, o pior de tudo, por que ela continuava tendo essas visões e pequenos vislumbres de sentimentos?
- Olhe para mim. - A voz de Lucien continuava fria e, incapaz de obedecer, Elain apenas fechou os olhos com força e se encolheu um pouco mais. - Elain, olhe para mim e me diga que sua decisão está tomada, que você quer ir embora daqui e nunca mais voltar. Olhe para mim e diga que decidiu que não vale a pena lutar por essa parceria. Se essa for a sua decisão, vou respeitá-la e nunca mais a importunarei novamente, já lhe disse isso antes e continua sendo verdade. Mas só vou desistir de você se olhar nos meus olhos e dizer que não há nada para você aqui.
Nada pra ela ali? Ora, havia tudo para ela. Mas Elain não seria mais capaz de viver daquela forma. Não queria um parceiro, queria um amor. Havia sido uma tola infantil por confiar nessas malditas visões e achado que poderia encontrar esse amor nos braços de Lucien.
- Elain. - O comando na voz de Lucien foi mais do que ela pôde suportar.
- Não posso. - A voz saiu estrangulada.
Cobrindo a boca com as mãos, Elain virou as costas e, ainda de cabeça baixa, caminhou o mais rápido que pôde para uma trilha que ela agora conhecia como a palma de sua mão: a trilha do velho carvalho, onde haviam encontrado com Eris apenas dois dias antes; estava certa de que a natureza se encarregaria de acalmá-la. O som do coração de Lucien martelava em seus ouvidos, competindo com o seu para ver qual batia mais rápido e mais forte.
Não o ouviu chamando por ela. Não ouviu seus passos. Não sentiu sua presença até que Lucien a tivesse alcançado e, com um puxão em seu cotovelo, o macho parasse seus movimentos frenéticos e a virasse para olhar para ele. Elain não conseguia esconder as lágrimas agora, não quando elas rolavam tão profusamente por suas bochechas. Mas, em meio a visão borracha, ela pôde vislumbrar o macho ruivo, ofegante por ter corrido até ela, o cenho franzido conforme absorvia toda a tormenta em seus olhos.
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Corte de Flores Flamejantes
Fanfic"Havia fogo por toda parte. E em meio a todo aquele fogo... Ele. Elain não conseguia se mover. Não conseguia gritar. Não conseguia avisar Lucien para que corresse, para que se salvasse. Ele morreria, ela sabia disso. Sentia em seus ossos. Sentia...