Capítulo 66

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As coisas pareciam estranhamente calmas na Corte Primaveril durante o primeiro dia de ausência de Lucien.

Nuala e Cerridwen estavam estarrecidas com a possibilidade de algo dar errado enquanto Elain estivesse no comando da Corte. Torciam para que a amiga conseguisse conduzir as coisas majestosamente, da forma como lidava com tudo na vida, mas não podiam deixar de se preocupar. Achavam que Lucien fora um tolo por deixar uma fêmea tão frágil quanto Elain responsável por aquela corte atualmente sem leis, e a achavam ainda mais tola por ter permitido que ele o fizesse. Mas nada podiam fazer a não ser assistir; não poderiam nem mesmo ajudar Elain caso algo desse errado, sob o risco de serem duramente castigadas por revelar sua presença ali.

Então as irmãs apenas acompanharam Elain, bem de perto, enquanto a fêmea fazia suas atividades cotidianas. Tão cotidianas que, a certa altura, tornaram-se entediantes em comparação com toda a movimentação da última semana. Elain passara a maior parte do dia no jardim, tentando remover folhas velhas de um cerca viva que ficava próximo demais aos bosque, na opinião de Nuala.

Em especial, preocupavam-se com Naim. O macho deixara bem claro suas opiniões com relação à vidente, e não era nada amistoso com nenhuma outra criatura a não ser com os que considerava dignos. Uma ova, era o que Cerridwen pensava. Achava que Naim era um macho impetuoso, amargo e machista. Bem poderia oriundo da Corte Outonal, a julgar por suas qualidades.

No fim, após um dia de incrível marasmo, a noite começava a surgir, a agitação de criados sendo substituída por uma ou outra criatura de hábitos mais noturnos. A Mansão Primaveril estalava conforme as madeiras pareciam se acomodar em seus lugares, vivas e finalmente em paz sem toda a movimentação em seu interior. Elain também se retirara, e as irmãs meio-espectro não acharam necessário vigiá-la em seu sono. As duas estavam, no momento, escondidas num emaranhado de cortinas que cobria uma das enormes janelas no corredor do quarto de Elain. Nuala brincava com suas sombras enquanto Cerridwen aparava as unhas e observava a gêmea.

- Até quando acha que Azriel nos manterá aqui? - Nuala sussurrou, atrevendo-se a falar, sabendo muito bem que não havia absolutamente ninguém por perto para ouvi-las.

- Espero que não muito. - Respondeu. - O Solstício de Inverno é em quatro dias... - Olhou pela janela, para a Lua alta no céu. - Espero que a raposa a leve e então Azriel vai perceber por si só o que está bem óbvio.

Nuala deu uma risadinha, acariciando uma das espirais de pura sombra quando retrucava a irmã.

- Nem eles mesmos perceberam o óbvio, Cerri. Acha mesmo que Azriel o fará?

- Ele é mais esperto do que parece, Nu. E sabe ler as pessoas. É só olhar para Lucien enquanto ele observa Elain quando acha que ela não está olhando, ou mesmo reparar como ela parece sempre precisar tocá-lo, não importa onde seja. Os dois são como imãs sendo atraídos um ao outro, e não estou nem levando em consideração a parceria deles.

Cerridwen soprou uma das espirais de sombra de Nuala que se atrevera a chegar próximo demais de seu rosto. A pequena criatura fugira correndo e se enrolou em volta do pescoço de sua ama, o que gerou risadinhas entre as gêmeas. Nuala vinha praticando com as sombras desde que saíram de Sob a Montanha, com permissão de Rhysand e Azriel. Evoluíra muito bem nas suas entonações, provavelmente não demoraria muito para que fosse considerada uma encantadora. De fato, seu progresso foi tão rápido que as gêmeas ficaram boquiabertas quando uma das sombras de Azriel se desprendeu dele e foi gentilmente apoiar Elain durante a cerimônia de parceria de Nestha e Cassian. Obviamente todos pensaram que a sombra era de Azriel, e as irmãs não se importavam, o que importava era que ao menos uma parte delas poderia estar ao lado de sua amiga, apoiando-a em um dia tão especial, já que as leis imbecis dos feéricos as impedia de estar fisicamente presentes.

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