Elain fora criada para ser uma dama da alta sociedade, segundo as regras de sua mãe: calada, obediente, sempre bonita e parecendo feliz. Não podia demonstrar nada de errado ou anormal, caso contrário seria castigada. Nunca foi castigada. Sua necessidade e desejo de agradar a todos estava profundamente enraizada dentro dela, desde que se lembrava por gente. Então, ainda jovem, ela criara um compartimento dentro de sua mente, para onde enviava todos os pensamentos e sentimentos que não podiam - não deviam - ser mostrados em público; pensamentos e sentimentos que guardava apenas para si.
O beijo com Lucien estava sendo trancafiado nesse compartimento. Ao menos por hora.
Tinha um papel a cumprir ali, e o faria com perfeição. Embora, verdade seja dita, não seria mais capaz de encarnar as atitudes de Nestha nem se sua vida dependesse disso. Aquele beijo havia mexido com ela mais do que Elain gostaria de admitir para si mesma. Não sabia dizer ao certo em que ponto aquilo começou. Estava disposta a rejeitá-lo quando saiu do solário, mas ao olhar para Lucien, encarar aqueles olhos e ouvir as palavras dele, sentir o cheiro dele - o cheiro da parceria que compartilhavam -, não foi capaz de fazer nada a não ser ceder ao Laço.
Ainda tentava se recuperar - suas mãos tremiam tanto que ela tinha receio que Jurian pudesse sentir. De fato, enquanto o humano a acompanhava até onde Graysen e a Rainha Ceora estavam, pôs uma mão sobre a de Elain, que repousava em seu braço, e lhe lançou um olhar de conhecimento. Não disse nada, pelo que Elain foi grata. Não seria capaz de lidar com piadinhas ou perguntas sobre o que houve.
Quando, por fim, chegaram à mesa onde Graysen, Ceora, Vassa e Lorde Nolan estavam acomodados, Elain já havia depositado todas as preocupações e anseios em seu compartimento mental, e exibia uma expressão afável para os presentes.
- Bem, aqui está a dama. - Jurian declarou, sem necessidade.
Elain sorriu educadamente, enquanto Lucien se postava ao seu lado.
- Minhas felicitações ao casal. - Desejou. Não sabia se era falso ou não, mas o fez mesmo assim.
Graysen a encarou e sorriu. Ceora agradeceu, mas foi a reação de Lorde Nolan a mais efusiva.
- Deve se curvar perante uma rainha e seu marido. - O senhor disse com desdém, nem ao menos se dignando a olhar para Elain.
- Ah, não é necessário. - Ceora declarou, e Elain sentiu uma pontada de inveja da voz aveludada da humana.
- Eles não são melhores que ninguém aqui, e todos se curvaram quando vieram dar as felicitações. O justo é o justo. - Nolan cruzou os braços, desafiando-a ao finalmente lhe olhar com desdém.
O senhor de terras sempre deixara Elain desconfortável, mas até então ela possuía Graysen para lidar com o pai. Agora, o ex-noivo simplesmente balançava a cabeça e olhava nervosamente para os demais convidados. Elain estava prestes a fazer uma reverência quando sentiu a mão de Lucien na base de sua coluna.
- Devo lembrá-lo, Lorde Nolan, que Elain não é mais uma humana. Assim como eu, ela não responde às suas rainhas, mas sim ao Grão-Senhor de sua corte. E é apenas a ele que ela fará reverências.
Um pitada de orgulho do macho ao seu lado fez Elain erguer os cantos da boca, e as palavras saltaram antes que ela pudesse contê-las.
- À Grã-Senhora também. Não esqueça de Feyre.
- Jamais esqueceria. - Lucien piscou para ela e Elain sorriu em resposta. Quando virou-se novamente para os humanos, todos, com exceção de Ceora, exibiam uma carranca de desgosto ou dúvida.
- Diga-me, Elain. - Ceora apoiou os antebraços na mesa, inclinando-se para frente. - Soube que pode prever o futuro. É verdade?
Era disso que se tratava essa cena toda, então? Elain não conseguia decidir se devia ser sincera ou não, mas considerando o fato de que muito provavelmente Ceora já sabia a verdade, resolveu ser evasiva.
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Corte de Flores Flamejantes
Fanfiction"Havia fogo por toda parte. E em meio a todo aquele fogo... Ele. Elain não conseguia se mover. Não conseguia gritar. Não conseguia avisar Lucien para que corresse, para que se salvasse. Ele morreria, ela sabia disso. Sentia em seus ossos. Sentia...