Não fazia sentido.
Nada daquilo fazia sentido.
Mas Elain podia sentir a tensão emanando de Lucien conforme ela cuidadosamente enrolava novamente o último pergaminho e o colocava de volta na pequena caixa. O macho havia dado certa privacidade à ela, afastando-se e sentando-se na beira da cama, mas estava inquieto, com os cotovelos apoiados nos joelhos, o pé direito batucando nervosamente, fazendo os fios ruivos que pendiam sobre seu ombro balançarem com o movimento. Estranhamente, observar as nuances daquele tom de ruivo - não só vermelho, ela já percebera, havia também alguns fios cor de cobre, alguns loiros, alguns um pouco mais amarronzados que, misturados, tornavam aquela cor tão única, tão dele - acalmava a mente de Elain e tornava mais fácil pensar racionalmente sobre o que havia lido.
- Onde conseguiu esses pergaminhos? - Ela conseguiu dizer, por fim.
- Lembra-se de quando estivemos na Corte Diurna e eu pedi para estudar sobre seus dons? - Ela assentiu. - Foi isso o que me mandaram. Passei mais de um mês tentando quebrar o feitiço de proteção.
Elain olhou em volta da barraca, as manchas chamuscadas que adornavam diversas partes.
- Era isso o que estava fazendo? - Apontou com o queixo para um amontoado de cinzas cuja brasa ela apartou assim que chegou.
- Bem... - Lucien passou uma mão pela nuca. - Em parte. Eu estava... Um tanto quanto fora de mim. Mas, bem, sim, isso abriu a caixa. Segundo o bilhete que Hélion mandou junto com os estudos... - Lucien se levantou e foi até a mesa, onde Elain permanecia sentada. Esticou um braço para remexer alguns papéis, quase roçando o corpo da fêmea, o que fez um arrepio quente subir por sua coluna. Parecendo alheio ao fato, Lucien puxou um bilhete e entregou à ela. - A tradução dos entalhes na caixa.
Ela leu o que Hélion havia escrito para Lucien, em uma caligrafia inclinada e elegante "Apenas o filho perdido do Sol, cuja chama interior arde com o desejo oprimido, será capaz de desvendar o mistério aqui contido."
- E qual a sua conclusão sobre tudo isso? - Perguntou ao macho, franzindo o cenho.
Lucien passou as mãos pelo rosto novamente, parecendo cansado.
- Não tive muito tempo para pensar. Havia acabado de ler o último pergaminho quando você chegou.
Elain havia lido os pergaminhos duas vezes, perguntando-se o quanto daquilo era real. Estranhamente, ela parecia mais calma com todas as revelações do que Lucien, que estava inquieto, andando de um lado a outro como um gato preso em uma gaiola. Tentando ignorar o vai e vem constante, Elain concentrou-se na caixa, ao invés de nos pergaminhos. De fato, aquele pedaço de madeira velho, chamuscado e intrincado não lhe era estranho. Mas o pior de tudo, o que tornava a situação ainda mais bizarra - se é que era possível - era o fato de a história não ser estranha para ela. Tinha a vaga sensação de já saber o que tinha ocorrido com Dener e...
- Annia morreu mesmo de fome? - Questionou, um estranho nó embrulhando-lhe o estômago.
- É o que parece. - Lucien respondeu. - Pelo que Dener escreveu, ela ficou em uma espécie de estado catatônico. - Pelo canto do olho, Elain viu que o macho parou de andar e agora a encarava, mas ela não teve coragem de olhar para ele conforme Lucien baixava o tom de voz e murmurava. - A descrição que ele deu do estado dela.. Me lembrou...
- De mim. - Ela completou a frase que morrera nos lábios do parceiro. Havia notado a semelhança também.
Não só a semelhança. Ela conhecia a sensação. Sabia o que provavelmente havia acontecido com Annia. Nunca havia falado com ninguém a respeito, tentava até mesmo não pensar no assunto. Mas a ideia de acabar morrendo da mesma forma que Annia havia morrido... Aquilo fazia as entranhas de Elain se revirarem.
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Corte de Flores Flamejantes
Fanfiction"Havia fogo por toda parte. E em meio a todo aquele fogo... Ele. Elain não conseguia se mover. Não conseguia gritar. Não conseguia avisar Lucien para que corresse, para que se salvasse. Ele morreria, ela sabia disso. Sentia em seus ossos. Sentia...