Os dias que se seguiram à cerimônia de Nestha passaram de forma incomum.
Elain voltara a sua rotina: levantava antes do nascer do Sol e ajudava as gêmeas na cozinha, saia para cuidar de alguns jardins que foram destruídos durante o ataque de Hybern à Velaris - ainda havia muito trabalho a ser feito, mas ela era grata por isso - e ajudava a cuidar de Nyx enquanto Feyre e Rhysand faziam suas ocupações de Grão-Senhores. No entanto, ela se pegou cada vez mais protelando a volta para casa. Com Nestha e Cassian praticamente em Lua de Mel, Azriel estava hospedado na Casa do Rio, e Elain não queria encontrar com ele. Não sabia como reagiria - ou como ele reagiria - após a descoberta de que o macho dera o presente, que havia sido comprado para ela, para outra fêmea. Sim, ela devolvera o presente, mas ele precisava dá-lo a outra? Só porque ela havia insinuado um beijo?
Certamente não o confrontaria em busca de respostas.
Poderia morrer com todas as palavras que a estavam estrangulando, mas não seria rude e não poria Az contra a parede. Fora criada com bons modos, à moda antiga dos ricos humanos abaixo da muralha; acreditava na compostura, na gentileza e, acima de tudo, na discrição. Sua mãe sempre deixou algo bem claro: Nestha poderia fazer o que bem entendesse - havia sido criada para ser soberana -, mas Elain... Elain precisava manter-se submissa e arrumar um bom casamento, um casamento vantajoso com um homem de uma boa família. Então ela se mantinha sempre calada, sempre obedecendo, nunca julgando, nunca contrariando. O hábito faz o sacerdote.
Tirando o fato de que não queria encontrar com Azriel, havia também Mor, que ainda não havia retornado ao continente. O que deixava as coisas ainda mais incomuns.
Elain não se intrometia muito nos assuntos da Corte, mas os últimos três dias estavam a deixando agitada. Podia sentir que alguma coisa estava para acontecer: o Círculo Íntimo ficava horas a fio no escritório de Feyre ou Rhys, mas mudavam de assunto sempre que ela estava por perto e isso a irritava. Não era uma criança, sabia guardar segredos e sabia não se meter em assuntos que não dominava.
E foi essa irritação que levou Elain a pegar sua bolsa de jardinagem e sair pelas ruas de paralelepípedos. Não tinha um destino certo, mas não podia mais ficar dentro da casa de Feyre ouvindo os sussurros de planos de paz. Caminhou a esmo, cumprimentando os feéricos que passavam por ela e sorriam. Parou para brincar de corda com um par de crianças muito alegres que aqueceram seu coração e, sem que precisasse pensar a respeito, acabou se vendo subindo a colina onde jazia a lápide de seu pai.
Mal havia terminado de subir a colina quando avistou o contorno da lápide, encimada pelo entalhe de rosa que o pai fizera para ela tantos anos antes, quando ainda moravam na cabana caindo aos pedaços. Elain suspirou, continuando a subida e sentindo falta daquela época - não pela primeira vez. Sim, as coisas eram infinitamente mais complicadas, e não poderia reclamar de ter a barriga cheia e não mais passar fome. Mas sentia falta da proximidade com as irmãs. Mesmo antes de ser Feita, mesmo quando Feyre estava na Corte Primaveril e Elain estava sob o feitiço de esquecimento de Tamlin, quando moravam na grande mansão, ela sentia falta do calor proporcionado pelos corpos das irmãs. Ainda hoje dormia enrolada nos lençóis e cobertores, nunca se sentindo aquecida o suficiente.
Ao se aproximar da lápide, a fêmea percebeu que a primavera que enchia Velaris de vida deu as caras por aqui também. Não fazia nem duas semanas que havia retirado as ervas daninhas e ajeitado a grama ao redor da lápide, e tudo já estava um caos novamente.
- Oi, papai. - Cumprimentou ao se ajoelhar sobre a grama, sem se importar em sujar o vestido simples de algodão cor de salmão.
Pousou a bolsa de jardinagem ao lado e começou a retirar as ervas daninhas que já começavam a subir pelas laterais do mármore polido. Por alguns minutos a mente de Elain se aquietou, enquanto ela se concentrava na tarefa de arrancar aquelas plantinhas pela raiz, segurando-as firmemente com os dedos na base do caule e puxando com delicadeza, girando um pouco para que não restasse nenhuma raiz por dentro da terra. Ao terminar a tarefa, olhou para as mãos sujas e riu sozinha.
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Corte de Flores Flamejantes
Fanfic"Havia fogo por toda parte. E em meio a todo aquele fogo... Ele. Elain não conseguia se mover. Não conseguia gritar. Não conseguia avisar Lucien para que corresse, para que se salvasse. Ele morreria, ela sabia disso. Sentia em seus ossos. Sentia...