Capítulo 9

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Os dias que se seguiram à cerimônia de Nestha passaram de forma incomum.

Elain voltara a sua rotina: levantava antes do nascer do Sol e ajudava as gêmeas na cozinha, saia para cuidar de alguns jardins que foram destruídos durante o ataque de Hybern à Velaris - ainda havia muito trabalho a ser feito, mas ela era grata por isso - e ajudava a cuidar de Nyx enquanto Feyre e Rhysand faziam suas ocupações de Grão-Senhores. No entanto, ela se pegou cada vez mais protelando a volta para casa. Com Nestha e Cassian praticamente em Lua de Mel, Azriel estava hospedado na Casa do Rio, e Elain não queria encontrar com ele. Não sabia como reagiria - ou como ele reagiria - após a descoberta de que o macho dera o presente, que havia sido comprado para ela, para outra fêmea. Sim, ela devolvera o presente, mas ele precisava dá-lo a outra? Só porque ela havia insinuado um beijo?

Certamente não o confrontaria em busca de respostas.

Poderia morrer com todas as palavras que a estavam estrangulando, mas não seria rude e não poria Az contra a parede. Fora criada com bons modos, à moda antiga dos ricos humanos abaixo da muralha; acreditava na compostura, na gentileza e, acima de tudo, na discrição. Sua mãe sempre deixou algo bem claro: Nestha poderia fazer o que bem entendesse - havia sido criada para ser soberana -, mas Elain... Elain precisava manter-se submissa e arrumar um bom casamento, um casamento vantajoso com um homem de uma boa família. Então ela se mantinha sempre calada, sempre obedecendo, nunca julgando, nunca contrariando. O hábito faz o sacerdote.

Tirando o fato de que não queria encontrar com Azriel, havia também Mor, que ainda não havia retornado ao continente. O que deixava as coisas ainda mais incomuns.

Elain não se intrometia muito nos assuntos da Corte, mas os últimos três dias estavam a deixando agitada. Podia sentir que alguma coisa estava para acontecer: o Círculo Íntimo ficava horas a fio no escritório de Feyre ou Rhys, mas mudavam de assunto sempre que ela estava por perto e isso a irritava. Não era uma criança, sabia guardar segredos e sabia não se meter em assuntos que não dominava.

E foi essa irritação que levou Elain a pegar sua bolsa de jardinagem e sair pelas ruas de paralelepípedos. Não tinha um destino certo, mas não podia mais ficar dentro da casa de Feyre ouvindo os sussurros de planos de paz. Caminhou a esmo, cumprimentando os feéricos que passavam por ela e sorriam. Parou para brincar de corda com um par de crianças muito alegres que aqueceram seu coração e, sem que precisasse pensar a respeito, acabou se vendo subindo a colina onde jazia a lápide de seu pai.

Mal havia terminado de subir a colina quando avistou o contorno da lápide, encimada pelo entalhe de rosa que o pai fizera para ela tantos anos antes, quando ainda moravam na cabana caindo aos pedaços. Elain suspirou, continuando a subida e sentindo falta daquela época - não pela primeira vez. Sim, as coisas eram infinitamente mais complicadas, e não poderia reclamar de ter a barriga cheia e não mais passar fome. Mas sentia falta da proximidade com as irmãs. Mesmo antes de ser Feita, mesmo quando Feyre estava na Corte Primaveril e Elain estava sob o feitiço de esquecimento de Tamlin, quando moravam na grande mansão, ela sentia falta do calor proporcionado pelos corpos das irmãs. Ainda hoje dormia enrolada nos lençóis e cobertores, nunca se sentindo aquecida o suficiente.

Ao se aproximar da lápide, a fêmea percebeu que a primavera que enchia Velaris de vida deu as caras por aqui também. Não fazia nem duas semanas que havia retirado as ervas daninhas e ajeitado a grama ao redor da lápide, e tudo já estava um caos novamente.

- Oi, papai. - Cumprimentou ao se ajoelhar sobre a grama, sem se importar em sujar o vestido simples de algodão cor de salmão.

Pousou a bolsa de jardinagem ao lado e começou a retirar as ervas daninhas que já começavam a subir pelas laterais do mármore polido. Por alguns minutos a mente de Elain se aquietou, enquanto ela se concentrava na tarefa de arrancar aquelas plantinhas pela raiz, segurando-as firmemente com os dedos na base do caule e puxando com delicadeza, girando um pouco para que não restasse nenhuma raiz por dentro da terra. Ao terminar a tarefa, olhou para as mãos sujas e riu sozinha.

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora