Capítulo 46

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Alis estava morando numa cabana há um dia de distância da Mansão Primaveril desde que ouvira falar que Tamlin estava desaparecido. Estava prestando auxílio aos feéricos e subfeéricos que necessitavam, nestes tempos incertos; lhes dava comida, abrigo e cuidados. Havia juntado um pequeno grupo de pessoas e aquele se tornou o local mais seguro para ela e os sobrinhos viverem, apesar das circunstâncias. Não queria voltar para a Corte Estival, muito menos para a Outonal, onde trabalhara por algum tempo, e não conhecia nenhuma outra Corte tão bem quanto conhecia a Primaveril.

Tinha ouvido falar do contingente que Lucien Vanserra estava reunindo. Alguns de seus próprios protegidos foram se juntar à pequena milícia. No entanto, não esperava que eles fossem bater justamente à sua porta. Muito menos que fosse conhecer outra Archeron - como se uma já não tivesse sido castigo suficiente, embora sentisse um imenso carinho e gratidão por Feyre.

- Então os boatos são verdadeiros. - Comentou assim que Lucien, trajando uma túnica com as cores da Primaveril, entrava em sua cabana sem ser convidado, carregando pelo braço uma Grã-Feérica estonteante de tão linda em um vestido rosa pálido. - Você foi abençoado com uma parceira. Não uma parceira qualquer. - Completou, fechando a porta atrás do casal. - Uma das irmãs de Feyre. Tamlin deve estar radiante.

- É bom ver você também. - Lucien retrucou.

- O que quer aqui? - Alis foi ríspida. Lucien nunca fora de floreios, e apesar de nunca tê-la tratado mal, tão pouco era dado a gentilezas. Estava tão preocupado em chafurdar na própria merda ou em consertar as merdas de Tamlin que pouco se importava com o resto.

Ignorando-a, Lucien pegou a parceira pela mão para que ficasse frente a frente com Alis.

- Alis, esta é Elain Archeron. Elain, meu bem, está é a Alis de quem lhe falei.

- Meu bem? - Alis riu, mas a garota a encarava com tanta intensidade que a risada morreu subitamente.

A fêmea se preparava mentalmente para ser rechaçada, ridicularizada ou o que quer que fosse que pessoas com o porte de Elain fizessem com pessoas do porte dela. Mas foi pega totalmente desprevenida quando a fêmea lançou os braços estreitos ao redor de seus ombros e a abraçou. Alis arregalou os olhos para Lucien, que sorria zombeteiramente, como se soubesse o que estava passando na mente dela.

- É um prazer conhecer você. - Elain se afastou, olhando-a nos olhos. - Você é tão bonita!

A sinceridade daqueles grandes olhos castanhos, tão parecidos com os olhos de uma corça, a deixou sem palavras. Já fora chamada de muitas coisas, mas certamente não de "bonita". Com sua pele com aparência de casca de árvore e corpo rechonchudo, estava acostumada - e até gostava - a passar despercebida.

- Não tanto quanto você. - Pegou-se respondendo sinceramente, não que a fêmea a sua frente precisasse dessa constatação.

- Obrigada. - Elain sorriu docemente, voltando-se para Lucien, que por um momento pareceu desconcertado diante daquele sorriso. Era algo que Alis nunca havia imaginado acontecer, ver toda a arrogância deixar o corpo do macho.

- Como tem passado, Alis? - Lucien disse fingindo casualidade enquanto a parceira voltava ao seu lado. - Confesso que estou surpreso de vê-la aqui, imaginei que estivesse na Corte Estival.

- Criei raízes, imagino. - Deu de ombros, indicando para que o casal se sentasse no sofá gasto de veludo marrom. - Mas você não veio aqui apenas para ver como tenho passado.

- Não posso simplesmente estar com saudades? - O macho fingiu doçura, pondo uma mão sobre o coração enquanto, cavalheirescamente, ajudava Elain a sentar-se.

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora