Capítulo 45

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Elain sabia que deveria voltar para a própria barraca. Cada segundo que passava ali, com a cabeça deitada no ombro de Lucien, as mãos do macho acariciando a sua delicadamente, a deixava mais perto de se entregar à ele novamente, e algo bem no fundo dela dizia que aquele não era o momento certo para isso.

Ela sabia o que deveria fazer, no entanto, não se moveu. Ela sabia o que deveria fazer, no entanto, pegou-se fechando os olhos, aproveitando o íntimo silêncio entre os dois. O ombro de Lucien subia e descia a um ritmo constante, anuviando qualquer preocupação remanescente em sua mente. Ela lembrou-se da primeira vez em que fizeram amor, após, quando Lucien deitou-a em seu peito e a respiração cadenciada do macho a levou calmamente a um sono profundo, tranquilo como há muito não tinha.

Surpreendentemente, a fêmea não se sentia irritada ou constrangida por Lucien saber aquelas coisas sobre ela. Nem estava chateada com o pai por ter contado histórias pessoais a um completo estranho. Será que ele sabia quem, ou melhor, o quê, Lucien era? Será que Lucien contara ao pai que a reivindicara como parceira logo após o Caldeirão tê-la cuspido?

- Por que Cedric?

- O quê? - Elain se sobressaltou com a pergunta de Lucien. Não porque devesse algo, mas por estar tão perdida em seus próprios pensamentos que o eco da voz grossa do macho a pegou de surpresa.

- Cedric. - Repetiu Lucien.

- O que tem ele? - Elain arriscou levantar a cabeça e olhar diretamente para Lucien, mas os olhos do macho estavam na porta da barraca.

- Tivemos nossa primeira discussão, e a primeira coisa que você fez foi se voltar para um outro macho... Por que Cedric?

- Ele é uma boa pessoa. - Elain estava confusa. Lucien estava com ciúmes?

O ruivo bufou, soltando a mão de Elain. Um vento gelado percorreu a pele da fêmea, tomando o lugar do contato quente.

- Autopreservação. - Ela disse baixinho, juntando as mãos no colo e esfregando uma na outra numa tentativa de aquecê-las novamente. - Eu não tinha a menor intenção de deixar essa corte, e você podia deixar as coisas bem difíceis para mim se quisesse. Eu precisava de um aliado, alguém que realmente me quisesse aqui. Alguém que acreditasse em mim. Cedric se mostrou essa pessoa. E antes que sua mente vá longe demais, não há envolvimento romântico entre nós. Não que eu precise me explicar para você.

Elain levantou-se, decidida a ir para a própria barraca, mas, assim que deu dois passos para longe de Lucien, ele a segurou pelo pulso e a girou para ficar de frente para ele. Sentado na beira da cama, a meia luz feérica se projetando no olho de metal, obscurecendo os contornos da cicatriz, o macho estava tão lindo quanto perigoso. Uma combinação letal, na opinião de Elain, já que seu corpo estremeceu diante da visão. Não de medo, mas de excitação.

- Fique. - Ele pediu, tão suavemente que ela achou estar ouvindo coisas.

E tão suavemente quanto a voz aveludada do parceiro, Elain sentou-se novamente ao seu lado. Não falaram mais nada, mas não precisavam. Conforme os minutos passavam, ela conseguia sentir aquele fio de luz dourado, aquele que conectava suas almas, criando mais uma camada, fortalecendo-se, unindo-os cada vez mais.

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Lucien acordou cedo no dia seguinte.

"Acordar" era um modo de falar, visto que não havia dormido muito.

Elain ficara em sua barraca até de madrugada. Ficaram em silêncio, a princípio, e Lucien tinha certeza de que a fêmea também podia sentir o Laço entre eles se fortalecendo. Depois do choque inicial daquela constatação, e, talvez, depois de reunir muita coragem, Elain começou a fazer pequenas perguntas a ele. Coisas rotineiras, como qual era o seu prato favorito, ou o que gostava de fazer no tempo livre. Lucien aproveitou-se e retribuiu as perguntas, ansioso por saber mais sobre aquela fêmea que invadia seus sentidos. Deliberadamente evitou responder sobre sua família, jogando sempre a pergunta de volta. Elain praticamente brilhava quando falava da própria família, ou de plantas, ou de como havia aprendido a cozinhar com as amigas em Velaris. Ele não queria mandá-la de volta para a própria barraca mas, a certa altura, a fêmea bocejava tanto que Lucien obrigou-se a escoltá-la de volta. Não dormiu mesmo assim, após seu regresso, a mente cheia de planos e decisões.

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora