Corte de Flores Flamejantes

Capítulo 31

Lucien amaldiçoava tanto quanto agraciava a interrupção de Hélion. Ainda segurava a bolsa de viagem de Elain com tanta força que os nós dos dedos doíam conforme as palavras dela reverberavam pelo corpo dele. "Confio em você". Será que ela tinha consciência do que dizia? Juntando todas as poucas horas que haviam ficado juntos desde que ela fora Feita, não resultava em um dia inteiro. Como raios ela poderia confiar nele tão facilmente? Sim, era o parceiro dela, mas tendo em vista que há menos de um dia ela parecia pronta para rejeitá-lo a qualquer momento... Sua mente tinha dificuldade em acompanhar as mudanças repentinas, embora seu corpo agraciasse o fato.

Passadas as cordialidades iniciais, Lucien estava pronto para o interrogatório que sabia que viria. Sem dúvida alguma Rhysand havia avisado a Hélion que Lucien e Elain estavam a caminho de Solaris. De forma alguma aquilo havia sido uma coincidência, como o Grão-Senhor afirmou à Elain.

- Mas me diga, Lucien... - E aí estava. - O que me dá o prazer de recebê-los, e enfatizo aqui o fato de estarem juntos, em minha humilde Corte?

Lucien olhou diretamente nos olhos do outro macho, que estava vestido com a habitual túnica branca, o bracelete de serpente sempre presente em seu bíceps, mas estava sem a coroa dourada, embora a luz do Sol criasse um halo perfeito em torno de sua cabeça.

- Viemos apenas buscar minhas coisas que ficaram no albergue, Hélion. - Respondeu Lucien, e levantou a bolsa de Elain para enfatizar. - Partiremos logo para a Corte Primaveril.

- A Primaveril? - Ele franziu o cenho, uma expressão que Lucien nunca vira o Grão-Senhor fazer antes. - Aquilo é terra de ninguém agora. O que farão lá?

- Tenho certeza de que Rhysand já lhe explicou tudo. - Lucien retrucou.

Elain olhava de um para outro como se estivesse pronta para entrar em ação com aquele seu jeito meigo, encerrando qualquer discussão que pudesse se seguir. Não foi necessário, no entanto, pois Hélion jogou a cabeça para trás e riu.

- Nada escapa a você, rapaz. - Lucien se surpreendeu com a nota de orgulho que detectou na voz do outro macho. - Mas me surpreende que tenha vindo tão tarde. Sabe que dia é hoje, não sabe?

Ele sabia. Solaris era a capital mercantil da Corte Diurna, ofertando uma extensa gama de produtos, dentre os quais se destacavam as máquinas produzidas pelos gênios engenheiros da Corte. Entre essas máquinas, estavam as máquinas agrícolas que muitos aldeões da Corte Outonal utilizavam. Sem contar as poções fertilizantes, poções contra vermes, e uma gama de outros insumos que os fazendeiros da Outonal utilizavam em suas plantações, uma vez que pouco podiam contar com a magia do Grão-Senhor deles. Sendo assim, alguns dias por ano, Solaris realizava uma espécie de festividade para apresentar os novos maquinários e as novas invenções, fortalecendo o vínculo comercial entre as Cortes. Hoje era um desses dias, e talvez o mais importante do ano, já que no final da semana aconteceria o Festival de Outono, onde o verão chegaria ao fim e o outono reinaria em Prythian.

- Em duas horas esse lugar vai estar lotado de feéricos da Outonal. Seu irmão mais velho entre eles, e só o Caldeirão sabe quem mais. - Hélion prosseguiu.

- E qual o problema? - Elain questionou inocentemente.

- É uma longa história. - Lucien suspirou. - Senhor, será que eu poderia lhe pedir um enorme favor? - Disse Lucien, orando para que Hélion não o achasse impertinente. O Grão-Senhor fez um gesto gracioso com a cabeça, indicando para que Lucien prosseguisse. - Elain estava estudando herbologia na Corte Noturna. Gostaria de levá-la para conhecer a Borgan's mas, como você mesmo acabou de salientar, nosso tempo aqui é curto.

Um sorriso se estendeu pelo rosto bronzeado do Grão-Senhor, e Lucien respirou aliviado.

- Levarei a dama até lá. Assim você terá tempo hábil para pegar suas coisas.