Capítulo 52

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Elain e Alis caminharam rapidamente pelos corredores da Mansão Primaveril, em direção ao saguão de entrada. Assim que entraram no amplo espaço com piso de mármore polido, a atenção dela foi diretamente para as três cabeças de cabelos ruivos, obviamente os emissários da Corte Outonal. Cedric estava ao lado, com mais dois sentinelas, e os três se curvaram para ela em uma mensura profunda, uma mão na espada e a outra sobre o coração. Os três machos outonais observavam em silêncio.

- Milady. - Disse Cedric endireitando-se.

- Cedric, querido. - Elain caminhou graciosamente até onde o macho moreno estava e abraçou-o pelos ombros.

Ciente de todos os olhares sobre eles, ela sentiu os braços do macho se apertarem em volta de sua cintura. Quando se libertou do abraço, encarou os olhos castanhos de Cedric, apenas um tom mais escuro que sua pele, e um sorriso largo se espalhava por aquela boca carnuda, acentuando a covinha que ele possuía no queixo esculpido. Era um macho realmente lindo, mas não fazia seu coração palpitar ou sua pele arrepiar simplesmente com sua presença. Não era como...

Dispersando os pensamentos, Elain se voltou para os ruivos, muito bem vestidos em túnicas com tons terrosos. O Sol Primaveril refletia nos fios dos cabelos, fazendo-os parecer um pouco mais pálidos do que já eram. Ela não pôde deixar de notar a diferença no tom da pele daqueles três machos - e no de Eris, se parasse para pensar - e o de Lucien, que era nitidamente mais bronzeado, talvez pelos anos passados ao ar livre.

- Sejam muito bem-vindos. - Ela sorriu para os machos. Um deles, que possuía cabelos levemente ondulados na altura do queixo, abriu levemente a boca, como se embasbacado. - Meu nome é Elain Archeron. Como se chamam?

Elain estava operando totalmente no modo "senhora da casa", algo que fora ensinada a ser desde criança, algo que gostava de ser. Levava jeito para aquilo, gostava de manter a casa em ordem e receber pessoas e dar bailes e tudo o que acompanhava o título. Embora tudo isso parecesse ter ocorrido há eras atrás, ela ainda se lembrava de como funcionava, estava enraizado em sua alma.

O macho que estava mais próximo a ela, o mais alto dos três, um belo ruivo com cabelo cacheado curto e feições duras, fez uma leve mensura com a cabeça ao apresentar a si e aos colegas.

- Meu nome é Levien, estes são Viktor... - Com um gesto do braço, Levien apontou para o macho a sua esquerda, igualmente ruivo, embora seu cabelo curto puxasse levemente para o marrom, e tão belo quanto os outros dois. - E Silas. - Apontou para o outro macho, o de cabelo ondulado, que permanecia com os olhos fixos em Elain e ainda de boca aberta.

O sorriso de Elain cresceu. Ela não era hipócrita, sabia que os homens a consideravam bonita quando era humana, e tinha consciência de que essa beleza se intensificara quando virou feérica. Também sabia usar aquilo ao seu favor - a mãe havia se certificado de que aprendesse a seduzir com graça e elegância. Silas parecer não ser capaz de desgrudar os olhos dela era uma carta ao seu favor, uma que ela não hesitaria em usar caso fosse necessário - e ela esperava que não necessitasse.

- A que devemos a honra da visita de vocês?

- Não me leve a mal, moça, mas viemos falar com o responsável. - Disse Levien, as sobrancelhas franzindo-se levemente, olhando-a de cima a baixo.

Um rosnado de aviso ecoou pela garganta de Cedric com o escárnio mal contido na voz do outro, mas Elain manteve-se cordial - estava acostumada com aquele machismo estrutural e jamais se deixara abalar por ele.

- Por que não saímos do hall? Venham, vou acompanhá-los até a sala e podemos tomar um chá enquanto aguardamos.

Ela não esperou por uma resposta dos machos, apenas virou-se e começou a caminhar em direção à sala leste, Alis completamente muda ao seu encalço. Os seis presentes hesitaram brevemente, mas logo Elain ouviu os passos a acompanhando pelo corredor. Porém, antes que pudessem chegar ao local de destino, Duncan cruzou seu caminho. Os olhos dela foram imediatamente atraídos para aquela espada ridiculamente ornamentada que sempre lhe causava uma estranha sensação de familiaridade antes de se encontrarem com os olhos castanhos ligeiramente curiosos.

- Senhorita Archeron. - O macho à sua frente fez uma breve mensura com a cabeça. - Fui informado que temos visitas de emissários. Como Lucien não...

- Ele estará aqui em breve, não se preocupe. - Elain se surpreendeu com a facilidade da mentira em sua língua, mas não queria que aqueles machos soubessem que Lucien não estava em lugar algum. - Mas você é bem-vindo para se juntar a nós. Marridith nos trará chá e biscoitos. - Ela sorriu, esperando que o macho não a contrariasse.

- Muito bem, então. - Duncan respondeu ao sorriso, e ofereceu o braço para Elain, que aceitou, apesar do nó em seu estômago.

O pequeno grupo ficou silencioso por todo o caminho até a sala da ala leste, a mais ampla e a que Elain mais gostava, pois tinha uma janela de parede inteira que dava para os jardins de rosa, e permitia que o perfume se infiltrasse. Tão logo se sentaram, Marridith e uma outra fêmea trouxeram-lhes chás e biscoitos em bandejas de prata ornamentada. Alis falou brevemente com as criadas, que assentiram antes de se retirarem. Elain a questionou com os olhos, mas a fêmea manteve-se impassível, silenciosamente encarnando a dama de companhia.

Enquanto os machos começavam a falar sobre, bem, coisas de macho, Elain levantou-se e começou a servir as xícaras de chá, entregando-as uma a uma para cada um dos presentes, começando por seus comandantes. Sabia, pelos olhos que a acompanhavam, que estava causando uma boa impressão nos Outonais. A certeza apenas se intensificou quando os serviu, um brilho confuso estampando as feições dos três. Ela sabia que era considerado uma honra ser servido por um Grão-Senhor, e esperava que essa honra se estendesse à irmã de uma Grã-Senhora.

Estava servindo a última xícara, aquela que seria destinada à Levien, quando Duncan por fim cansou-se das trivialidades.

- Então, a que devemos a honra de recebê-los aqui hoje?

- Temos uma convocação para o emissário da Corte. - Respondeu Levien prontamente, deixando Elain tensa dos pés à cabeça. A mão que estendeu a xícara para o macho tremeu levemente, e aquilo não passou despercebido à ele, que abriu um sorriso ferino ao observar todo seu corpo novamente, os dedos calejados roçando nos dela quando pegou o pires. - Sabe onde seu parceiro está, doçura?

- Bem aqui. - Respondeu a voz da qual ela sentiu tanta falta.

Prendendo a respiração, Elain ajeitou a postura, os olhos disparando na direção da porta, onde um belo ruivo entrava ajeitando as mangas da túnica verde e dourada. Os cabelos presos em uma trança nas costas deixavam a cicatriz à plena vista, e os olhos de Lucien, tanto o verdadeiro quanto o de metal, a avaliaram rapidamente. Elain sentiu aquele olhar aquecer seu corpo inteiro, e por um segundo o alívio superou qualquer outro sentimento. No entanto, quando o olhar de Lucien deixou seu corpo e ele começou a falar com os outros machos presentes, o alívio foi substituído por outra coisa, algo com o qual a pequena fêmea não estava acostumada: ressentimento.

Ela assistiu em silêncio enquanto Lucien se acomodava em uma poltrona grande e confortável - a mesma onde ela gostava de sentar-se para apreciar o pôr do Sol sobre as rosas. O macho se recostou e acomodou o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo, e o cotovelo esquerdo sobre o braço da poltrona. Apoiando o queixo perfeito no punho fechado, Lucien não se deu ao trabalho de ser cordial com os visitantes.

- Qual o recado? - Questionou à Levien.

Reprimindo um suspiro, e ciente dos olhares de todos, menos daquele que mexia com os seus sentidos, Elain caminhou até Alis e apenas... Parou. Não sabia ao certo o que deveria fazer, então apenas ficou ali, sentindo-se uma completa estranha dentro de si mesma.

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