Capítulo 15

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Deveria tirar a mão dele de cima da dela.

Não deveria?

Deveria, com certeza. Não era correto. Estava dando a impressão errada a ele.

Ou será que não seria tão errada assim?

Mas, céus, sua pele era tão quente! Era tão, mas tão bom!

E o Caldeirão sabia que ela precisava de um certo conforto. A primeira meia hora da cerimônia de casamento fora terrivelmente insuportável. Até então, estava estranhamente falante. Não sabia ao certo o motivo, mas se sentia grata pela presença de Lucien na festa e pela distração que ele estava oferecendo à ela, com toda aquela conversa. Não seria educado permanecer calada ao lado dele quando ele, de tão boa vontade, aceitou ajudá-la a passar por esse tormento de casamento. Lucien até mesmo deixou que ela lidasse com Graysen sem se intrometer! Isso nunca havia acontecido; sempre tomavam partido por ela, respondiam por ela. Era frustrante, mas Elain havia sido ensinada a ser discreta e submissa, então nunca havia realmente agido de outra forma. Embora houvesse travestido a atitude de Nestha, fora a presença de Lucien que a deu coragem para seguir em frente. E isso era tão confuso.

Mesmo assim, não deveria permitir que ele tirasse conclusões precipitadas. Deveria retirar a mão dele da dela. Deveria mesmo fazer isso, mas não conseguia se obrigar a mover-se.

O polegar de Lucien traçava um caminho lento e carinhoso pelas costas da mão de Elain, para frente e para trás, o contato era tão bom, e a acalmou o suficiente para que parasse de segurar as saias do vestido. Podia ouvir o coração dele batendo com força. O cheiro dele flutuava no ar até ela. Canela, um toque almiscarado, uma pitada de algo cítrico.... Lembrou-a de uma torta de maçã recém-saída do forno: quente, convidativo e delicioso. Sentiu vontade de inclinar-se contra Lucien, encostar a cabeça no ombro dele. A lembrança da sensação do braço do macho ao redor de sua cintura, forte, possessivo, mas gentil ao mesmo tempo, a fez estremecer. Misturava-se à lembrança do sonho que tivera algumas noites antes, e Elain não podia deixar de se perguntar como seria um abraço completo de Lucien - estar totalmente envolta por seus braços, a cabeça apoiada em seu peito, o rosto dele enterrado em seu pescoço...

Um cheiro agridoce um tanto familiar substituiu o cheiro de Lucien. Não, não substituiu, complementou. Ela reconheceu, sem nem precisar pensar muito no assunto, o cheiro da parceria. Droga, não, não, não! Mas não podia evitar, era mais forte que ela. De repente, Elain não conseguia se mover, não conseguia respirar. Todos os seus sentidos estavam voltados para aquela sensação. Uma sensação que atravessava seu âmago. Podia sentir um fio de pura luz se instaurando dentro dela, tomando seu lugar em meio àquela ligação indesejada e frágil que possuía com o macho ao lado, tornando-a mais forte, mais densa.

A mão de Lucien parou de acariciá-la. O macho ruivo ficou tenso ao seu lado, e Elain sabia que ele também estava sentindo aquele fio de luz. Instintivamente olhou para cima. Os olhos de Lucien estavam cravados nela, uma chama dançava em seu olho castanho avermelhado, o olho de metal a encarava como se estivesse estudando sua alma. Elain sentia que os próprios olhos estavam arregalados, a boca seca ligeiramente aberta. Lucien apertou a mandíbula com força, e o movimento atraiu a atenção de Elain para o músculo presente ali. Ela não pôde deixar de notar que o macho possuía uma constituição física impressionante; o maxilar quadrado combinava com as feições angulosas e a boca carnuda. Até mesmo a cicatriz horripilante parecia deixá-lo mais atraente.

Um desejo absurdo de tê-lo ainda mais próximo tomou posse dela. Elain queria estudar aquelas feições de perto. Seu peito subia e descia com força conforme ela arfava.Seus olhos capturaram os movimentos de Lucien enquanto ele se inclinava para ela, mas os olhos de ambos estavam travados um no outro. O cheiro dele - não, o cheiro da parceria - a dominava por completo. Seu corpo sabia o que estava prestes a acontecer, embora sua mente se recusasse veementemente a isso. Lucien se aproximava cada vez mais, lentamente, como se estivesse com medo de que ela saísse correndo, embora Elain estivesse presa a ele pelo Laço. Cada vez mais próximo. Podia sentir a respiração de Lucien em lufadas quentes contra sua pele. O olhar da fêmea baixou para os lábios do parceiro antes de voltarem aos olhos dele. Aquelas chamas clamavam por ela, e Elain sabia que não seria capaz de resistir se ele a beijasse agora. Sentiu uma das mãos de Lucien - a que não estava segurando sua mão - tocar-lhe a bochecha, segurando seu rosto. Elain fechou os olhos e esperou.

Uma salva de palmas e gritos de alegria explodiu ao redor deles, fazendo Elain se sobressaltar. Assustada, abriu os olhos, encontrando Lucien a meros centímetros de seu rosto. Ele inspirou e suspirou profundamente, apoiando a testa na dela. Céus, isso quase aconteceu mesmo? Quase deixara Lucien beijá-la? Sem dizer uma palavra, o macho beijou sua testa e se endireitou em sua cadeira, parando de tocá-la completamente, mas lhe lançou um sorrisinho triste, como se lamentasse terem sido interrompidos. Elain não pôde evitar a sensação de vazio que lhe preencheu quando o macho parou de tocá-la, mas estava decidida a se convencer que fora melhor assim.

Virou-se para frente, respirando fundo, e apenas então se deu conta de que a cerimônia havia acabado. Passara os últimos 45 minutos debatendo sobre Lucien e se esquecera completamente de onde estava e o que estava fazendo ali. Levando uma mão à testa, levantou-se e saiu andando. Não podia mais simplesmente ficar ali parada ao lado daquele macho. O ouviu chamando-a, mas não se importou. Não conseguia respirar, não conseguia pensar com clareza com aquele cheiro a atormentando. Precisava de ar fresco, precisava colocar os pensamentos em ordem - embora nos últimos tempos isso estivesse cada vez mais difícil. Precisava recuperar o controle das próprias ações. Como pôde deixar aquilo acontecer?

Sem parar, Elain caminhou o mais rápido que pôde através dos corredores já conhecidos, até acabar em um solário, um dos únicos cômodos do castelo que não era inteiramente de ferro, e talvez o único que a deixara à vontade. Desabou sobre uma das espreguiçadeiras e se concentrou apenas em respirar.

Mas não importava o quão longe fosse, não importava que ela não quisesse aquilo, as batidas do coração de Lucien a acompanhavam onde quer que fosse; aquele fio de luz já havia se enraizado dentro dela, e o que já era difícil de ignorar, estava prestes a se tornar impossível de resistir. 

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora