Capítulo 8

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Era demais para suportar. Muito para uma só noite. Lucien havia ido de confuso para irritado, de excitado a apavorado, de volta à confusão e então novamente à irritabilidade, tudo em questão de algumas poucas horas. Tinha que sair dali, ir para bem longe daquela sala, daquela casa, daquela cidade.

Ouvir o discurso de Rhysand, seguido por Nestha oferecendo comida ao parceiro, comida feita por Elain, havia sido a gota d'água. Havia procurado por ela quando decidiu entrar novamente na festa para verificar se alguém a tinha visto e Vassa o encuralou. Por sorte, já que a humana já estava ao seu lado quando a ira o atingiu, e Jurian era sábio e já o conhecia bem o suficiente para saber como Lucien reagiria a tudo aquilo. Jurian alcançou os amigos no mesmo instante em que Lucien ouvira que sua parceira, aquela que não aceitava o laço que compartilhavam, havia cozinhado para que a irmã selasse a própria parceria. O macho pegou Vassa pela mão, com Jurian os seguindo, seguiu para a varanda, pôs Vassa no colo e se jogou de lá. Jurian, destemido como sempre, acompanhou o movimento, e Lucien o agarrou pela manga da camisa no instante em que sentiu que haviam ultrapassado o escudo mágico que envolvia a Casa do Vento.

Atravessou para casa e, no mesmo instante em que seus pés tocaram o chão, largou Vassa e saiu marchando em direção a floresta. Precisava extravasar aquela tensão que estava sentindo, aquelas inúmeras sensações que ameaçavam explodir dentro de si. Caminhou e caminhou e caminhou. Caminhou até que as labaredas em seu sangue se transformassem em brasas e ele pudesse ter certeza de que não acabaria destruindo a casa ou machucando um de seus amigos. Caminhou até que parasse de sentir os dedos finos, frios e frágeis de Elain sobre seus lábios, até que a ponta de seus próprios dedos parassem de sentir a pele sedosa de suas bochechas, até que seu membro parasse de dar sinal de vida ao mero pensamento do que poderia ter acontecido no silêncio daquela biblioteca.

Era tudo muito confuso e, por mais que tentasse, ele não conseguia compreender. Por que ela lutava tanto contra isso? O que havia de errado com ele? Seria a cicatriz? Mas Azriel também tinha cicatrizes e ele podia sentir o cheiro dela quando estava perto dele. Sabia que ela sentia algo, sabia que não era indiferente ao Laço, então por que fazê-lo passar por toda essa tormenta? Por que não simplesmente aceitar? Lucien sabia que era um bom macho, a trataria bem, faria o possível para deixá-la feliz. Não possuía uma casa própria ou muito dinheiro, era um renegado e um exilado, mas pela Mãe, ele era muito melhor do que a maioria dos machos que conhecia. Então por que não?

A noite estava um breu, o caminho de Lucien era iluminado apenas por uma pequena chama que ele havia conjurado para que não fosse surpreendido por um galho ou algum bicho menor pelo caminho enquanto o macho se resignava novamente e retornava para casa. Era inútil perder tempo com essas conjecturas. Ficar remoendo o assunto não traria nada de bom.

A verdade era que Lucien estava a ponto de desistir. Já não sofrera o bastante na vida? Por que deveria correr atrás de uma parceria?

Mas, ah, a sensação da pele de Elain contra a dele... A comoção que tomou conta de seu corpo quando, ainda durante a cerimônia de Cassian, Lucien sentiu que ela não era indiferente à ele... Aquilo era demais para suportar. Tinha que se acalmar.

Acabara de chegar em casa, avistando algumas luzes que iluminavam o interior da casa destacando a figura macabra que a mansão aos pedaços parecia. Apagou a chama que mantinha junto de si e entrou, suspirando ao encontrar um ambiente familiar. Lembrava-se de outra mansão a qual um dia chamou de "lar". Uma que era rodeada por rosas e flores silvestres, e sentiu falta da Corte Primaveril pela enésima vez desde que saíra de lá fugindo com Feyre. Sentia tanta falta de viver naquela Corte...

Seus pensamentos foram interrompidos no momento em que entrou na sala de estar, onde deu de cara com Vassa, sentada em sua poltrona, olhando para o fogo.

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora