Capítulo 27

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Elain era a última pessoa que Lucien imaginou que estivesse batendo à sua porta às cinco da manhã, mas cá estava ela. E não apenas isso, a fêmea estava em seus braços. Se a sensação da pele de Elain contra a sua não estivesse despertando cada terminação nervosa que havia em seu corpo, ele poderia jurar que era um sonho - ou uma alucinação -, pois era irreal demais para ser verdade.

"Só preciso ouvir seu coração de novo. Por favor. Só um pouquinho." Não restara um pingo de firmeza em Lucien ao ouvi-la sussurrar essas palavras. Apesar da irritação por ter sido acordado abruptamente, apesar da confusão por avistá-la chorando copiosamente e da tensão que tomou conta dele quando Elain inesperadamente enlaçou sua cintura em um abraço apertado; apesar de ser um macho adulto que já vivenciara muitas coisas - algumas das quais gostaria de esquecer, Lucien não foi capaz de negar, não foi capaz de emitir um único som quando ela se agarrou à ele como se sua vida dependesse disso.

Com as mãos trêmulas, o macho a abraçou de volta. Torcia para que a força com que seu coração batia não incomodasse Elain, pois agora não sabia ao certo se teria forças para soltá-la. As lágrimas da parceira ainda caiam em sua pele mas, conforme os minutos passavam em silêncio, Lucien a sentiu relaxando gradualmente. Ele apoiou o queixo no topo da cabeça dela e permitiu-se apenas apreciar o contato, guardando na memória cada sensação, pois não sabia quando - ou se - isso ocorreria novamente.

- Quer me contar o que aconteceu? - Finalmente tomou coragem para perguntar.

Ainda estavam sob a soleira da porta aberta, e Lucien temia que alguém aparecesse e questionasse o que estava havendo ali, mas não o suficiente para mover qualquer músculo.

Como uma resposta silenciosa, Elain o abraçou com ainda mais força, talvez toda a força que possuía. Estava bem longe de ser capaz de machucá-lo, mas a sensação de ter os braços da fêmea em volta de seu corpo, segurando-o com firmeza, estava começando a deixá-lo desconfortável em uma área bem específica. Com um beijo suave na testa da parceira, Lucien se obrigou a soltá-la, puxando os braços de Elain e separando um pouco os corpos de ambos, com a desculpa de fechar a porta, antes que seu "desconforto" começasse a roçar a barriga dela.

Elain fungou baixinho, limpando as lágrimas restantes com a ponta dos dedos antes de abraçar o próprio corpo, afastando-se em direção à janela aberta. Era uma noite quente de verão e não havia sequer uma única brisa, mas o céu estrelado de Velaris sempre fora um deleite para os olhos de Lucien. Agora, com a visão desse mesmo céu emoldurando aquela silhueta feminina trajando uma camisola azul de seda escura, o macho quase cambaleou para trás. Ele estava terrivelmente ciente das vestimentas dela - e da falta de vestimentas dele - enquanto seus corpos estavam colados naquele abraço íntimo e silencioso. Balançando a cabeça para tentar clarear os pensamentos, caminhou até a mesinha de cabeceira, onde havia uma garrafa com água e um copo, serviu um pouco para Elain e levou até ela, tentando parecer casual, apesar de seu coração martelar no peito. Será que ela ainda conseguia ouvi-lo agora que havia se afastado? Afinal, fora isso que havia dito a ele, que queria ouvir seu coração.

Lucien observou enquanto Elain, com as mãos ainda trêmulas, segurava o copo e o levava até a boca, dando pequenos goles delicados, fitando o horizonte. O macho virou-se para a janela, assim como ela, e aguardou pacientemente; se havia uma coisa que havia aprendido ao longo dos anos como emissário era que não devia pressionar alguém para falar, paciência e educação, talvez um comentário ou outro, sempre geravam mais resultados do que força bruta. De fato, após alguns minutos Elain suspirou.

- Eu não entendo como essa ligação funciona. - Ela pousou o copo sobre a mesa, próximo à tira de couro que Lucien usava para amarrar os cabelos, e virou-se para ele. Ela esperava uma resposta?

Corte de Flores FlamejantesOnde histórias criam vida. Descubra agora