Elain era a última pessoa que Lucien imaginou que estivesse batendo à sua porta às cinco da manhã, mas cá estava ela. E não apenas isso, a fêmea estava em seus braços. Se a sensação da pele de Elain contra a sua não estivesse despertando cada terminação nervosa que havia em seu corpo, ele poderia jurar que era um sonho - ou uma alucinação -, pois era irreal demais para ser verdade.
"Só preciso ouvir seu coração de novo. Por favor. Só um pouquinho." Não restara um pingo de firmeza em Lucien ao ouvi-la sussurrar essas palavras. Apesar da irritação por ter sido acordado abruptamente, apesar da confusão por avistá-la chorando copiosamente e da tensão que tomou conta dele quando Elain inesperadamente enlaçou sua cintura em um abraço apertado; apesar de ser um macho adulto que já vivenciara muitas coisas - algumas das quais gostaria de esquecer, Lucien não foi capaz de negar, não foi capaz de emitir um único som quando ela se agarrou à ele como se sua vida dependesse disso.
Com as mãos trêmulas, o macho a abraçou de volta. Torcia para que a força com que seu coração batia não incomodasse Elain, pois agora não sabia ao certo se teria forças para soltá-la. As lágrimas da parceira ainda caiam em sua pele mas, conforme os minutos passavam em silêncio, Lucien a sentiu relaxando gradualmente. Ele apoiou o queixo no topo da cabeça dela e permitiu-se apenas apreciar o contato, guardando na memória cada sensação, pois não sabia quando - ou se - isso ocorreria novamente.
- Quer me contar o que aconteceu? - Finalmente tomou coragem para perguntar.
Ainda estavam sob a soleira da porta aberta, e Lucien temia que alguém aparecesse e questionasse o que estava havendo ali, mas não o suficiente para mover qualquer músculo.
Como uma resposta silenciosa, Elain o abraçou com ainda mais força, talvez toda a força que possuía. Estava bem longe de ser capaz de machucá-lo, mas a sensação de ter os braços da fêmea em volta de seu corpo, segurando-o com firmeza, estava começando a deixá-lo desconfortável em uma área bem específica. Com um beijo suave na testa da parceira, Lucien se obrigou a soltá-la, puxando os braços de Elain e separando um pouco os corpos de ambos, com a desculpa de fechar a porta, antes que seu "desconforto" começasse a roçar a barriga dela.
Elain fungou baixinho, limpando as lágrimas restantes com a ponta dos dedos antes de abraçar o próprio corpo, afastando-se em direção à janela aberta. Era uma noite quente de verão e não havia sequer uma única brisa, mas o céu estrelado de Velaris sempre fora um deleite para os olhos de Lucien. Agora, com a visão desse mesmo céu emoldurando aquela silhueta feminina trajando uma camisola azul de seda escura, o macho quase cambaleou para trás. Ele estava terrivelmente ciente das vestimentas dela - e da falta de vestimentas dele - enquanto seus corpos estavam colados naquele abraço íntimo e silencioso. Balançando a cabeça para tentar clarear os pensamentos, caminhou até a mesinha de cabeceira, onde havia uma garrafa com água e um copo, serviu um pouco para Elain e levou até ela, tentando parecer casual, apesar de seu coração martelar no peito. Será que ela ainda conseguia ouvi-lo agora que havia se afastado? Afinal, fora isso que havia dito a ele, que queria ouvir seu coração.
Lucien observou enquanto Elain, com as mãos ainda trêmulas, segurava o copo e o levava até a boca, dando pequenos goles delicados, fitando o horizonte. O macho virou-se para a janela, assim como ela, e aguardou pacientemente; se havia uma coisa que havia aprendido ao longo dos anos como emissário era que não devia pressionar alguém para falar, paciência e educação, talvez um comentário ou outro, sempre geravam mais resultados do que força bruta. De fato, após alguns minutos Elain suspirou.
- Eu não entendo como essa ligação funciona. - Ela pousou o copo sobre a mesa, próximo à tira de couro que Lucien usava para amarrar os cabelos, e virou-se para ele. Ela esperava uma resposta?
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Corte de Flores Flamejantes
Fanfiction"Havia fogo por toda parte. E em meio a todo aquele fogo... Ele. Elain não conseguia se mover. Não conseguia gritar. Não conseguia avisar Lucien para que corresse, para que se salvasse. Ele morreria, ela sabia disso. Sentia em seus ossos. Sentia...