‧₊˚ seis.

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Gabrieli.

Henrique me mediu com o olhar. Ele contraiu os lábios, claramente evitando uma risada.

— Não ri! — adverti, receosa e levemente irritadiça.

Ele assentiu, demonstrando concordância — enquanto conter a risada ainda parecia exigir um esforço colossal. Um sorriso se projetou em seus lábios, mas era evidente que aquele sorriso era apenas uma tentativa de conter sua risada.

— Você nunca andou de moto na sua vida antes? — Henrique me questionou, por fim.

— Você acha que se eu tivesse andando eu estaria surtando?

Então, ele riu. Foi uma gargalhada espontânea, daquelas de jogar a cabeça para trás e deixar o riso escapar por entre os lábios. Eu cruzei os braços, desejando não me render, mas foi inevitável o esboço de um sorriso. Já se recompondo, Henrique argumentou:

— Não é tão ruim quanto parece.

— Mesmo? E quem garante que eu não vá cair e arrebentar minha cabeça?

— Eu?

Seu tom de incerteza não passou despercebido sequer para Henrique. Percebendo o que havia acabado de dizer, ele torceu o nariz. Eu mantive meus braços cruzados à frente do corpo, uma reação natural à minha apreensão.

— Eu te conheço há uma semana. Nós conversamos por... sei lá, menos de dez minutos? Eu não confiaria a minha vida a você em nenhuma circunstância.

Henrique gesticulou, pedindo que eu esperasse. Então, pegou sobre a moto um capacete, o qual estendeu na minha direção. Eu mantive os braços cruzados e recusei de início. Quando meu gesto não pareceu suficiente, argumentei:

— Você acha que um capacete vai me convencer do contrário?

Embora meu tom fosse de incerteza, aceitei a oferta de Henrique. Observei o capacete com apreensão, questionando a mim mesma se eu estava mesmo prestes a fazer aquilo. Andar de moto com um completo estranho não era uma atitude recorrente e corriqueira para mim.

— De novo, eu 'tô' tentando te impressionar. Como eu te impressionaria te deixando cair? — Henrique sibilou, atraindo minha atenção. Percebendo que eu ainda não havia me dado por convencida, ele insistiu: — Eu 'tô' falando sério.

— Eu não estou dizendo que você faria de propósito. Essas coisas podem acontecer, uai!

— Gabrieli? — seu tom ameno era um indício de que Henrique estava realmente empenhado em ser honesto. Quando o observei, meio a contragosto, ele manteve o tom sereno e insistiu, com tamanha paciência: — Eu não vou te deixar cair. Eu sei que é muito pedir que você confie desse jeito em mim, mas eu prometo que eu jamais deixaria isso acontecer.

— Há quanto tempo você anda de moto?

Minha pergunta despertou em Henrique um sorriso sincero — como forma de camuflar a vontade iminente de rir.

— Pelo menos uns cinco anos. E nunca caí. — ele ressaltou e a forma como Henrique gesticulou, como se aquele sobre um lembrete importante, despertou em mim um sorriso também sincero. — Isso te faz sentir melhor?

— Eu vou confiar em você. Não porque eu acredito que você nunca tenha caído, mas porque você sabe que se você me deixar cair, esse vai ser o primeiro e último encontro que eu vou aceitar ter com você.

Aquele foi o argumento que usei para convencer a mim mesma que aquela realmente parecia uma boa ideia. Por dentro, eu ainda me questionava que porra eu estava prestes a fazer. Quando subir na garupa de um completo desconhecido deixou de ser uma ideia absurda para se tornar uma ideia que eu tolerava o suficiente, daquela forma?

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora